domingo, 30 de junho de 2013

SIGNIFICAÇÃO DO DIA 29 DE JUNHO

Guilherme Auler

 Quem nos indica a data, que comemoramos hoje, é o Presidente da Província Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho. Lemos, no seu Relatório de 1° de Março de 1846, a seguinte afirmação: foi em 29 de Junho do ano passado, dia de São Pedro, padroeiro da futura paróquia petropolitana, que ali chegaram os primeiros Colonos Alemães."
 E, os nomes pioneiros apareceram, num dos balancetes da construção do Palácio Imperial, com a assinatura do Major Julio Frederico Koeler, a propósito de gratificações distribuídas por Dom Pedro II. São eles, segundo alfabética de famílias:

Henrique, Jacó e Sebastião,BRAHM;
Francisco Xavier e Inácio, BUMB;
Frederico DEIBERT;
Martim DEISTER;
Felipe I, Felipe II, Frederico, João e Valetim ERBES;
Antonio, Henrique e João Esch;
Frederico e Jacó HOENES;
Pedro HUSCH;
Bernardo HUTTER;
João, José IDSTEIN;
Frederico KUHN
Pedro José KRATZ;
Guilherme KLIPPEL;
João LOOS;
Guilherme, Henrique, João, Jacó e Jorge MONKEN;
Guilherme, João, Jacó I, Jacó II, Pedro, Antonio e Nicolau NICOLAI;
Felipe e Luis PETRI;
João e Jorge de ROCHE;
Frederico I, Frederico II, Valentim SCHEID;
Jorge SCHARZ;
Guilherme e Jacó SCHWEICKART;
Felipe WAGNER;
Matias WEIAND.

 Esse 53 colonos, pertencentes a 26 famílias diversas, com suas mulheres e filhos, totalizam certamente os 140 a que se refere o Major Koeler, no seu ofício de 30 de Junho de 1845.
 Mas a significação do dia 29 de Junho, início do povoamento da primitiva Fazenda do Córrego seco, e portanto data da maior grandeza na história local, surge em todos os depoimentos, em todas as fontes, em unânime concordância.
 Declara-o Dom Pedro II, ao referir-se à Casa Grande da Fazenda do Córrego Seco: "Nesta casa moramos nós, em fim de 47 e princípio de 48, a primeira vez que fomos a Petrópolis, depois de estabelecida a Povoação".
 Afirma-o o Mordomo Paulo Barbosa da Silva na sua carta de 5 de setembro de 1845, dirigida ao imperador: "O que era, há quatro meses, matas virgens, é hoje uma povoação branca, industriosa, alegre e bendizente de V.M.I.". Informa o Major Julio Frederico Koeler, em oficio ao Vice-Presidente da Província, que na chegada dos Colonos, "só havia terra, água e mato". E acrescenta: um único edifício existia, a sua residência, aliás a Casa Grande da Fazenda.
 Outros depoimentos de maior valor, inteiramente insuspeitos encontramos nas palavras de contemporâneos, como Tenente-Coronel Galdino da Silva Pimentel e o também Tenente-Coronel Alexandre Manoel Albino de Carvalho ambos Diretores da Colônia. O primeiro escreve, no seu Relatório de 1848: "E fora de Dúvida que este povoado, que apenas conta quatro anos de existência...". Enquanto o segundo, com a perspectiva de um decênio, no seu Relatório de 1854 comenta: "Remontando à sua origem, observa-se que Petrópolis não existia há dez anos, e que em seu lugar tão somente havia uma Fazenda, denominada Córrego Seco, quase toda coberta de mato contando uma casa de vivenda e dois ou três ranchos de tropeiros"...
 Acha-se, pois, situada a significação do 29 de Junho, pelo pensamento do Imperador, do Mordormo, do próprio Koeler, e dos Diretores da Colônia. relembramos na data, o começo do povoamento de Petrópolis com a chegada dos primeiros colonos. São eles quem se espalham pelos Quarteirões e constroem, com o seu trabalho perseverante, a cidade.
 Ninguém luta em benefício de prioridades, primazias. Rendemos, sim, homenagem à memória dos pioneiros, que possuem a glória indiscutível o povoamento de Petrópolis.
 Desmintam se quiserem, as palavras do Imperador, do Mordomo, de Koeler e de outros contemporâneos...

Tribuna de Petrópolis, 29 de Junho de 1966


sexta-feira, 28 de junho de 2013

TABELA DE PREÇO E REGULAMENTO INTERNO DO HOTEL BRAGANÇA

Horário das refeições:
Almoço (mesa redonda) .............................. 09h30min
Jantar (mesa redonda) ................................ 16 horas
NB. Qualquer refeição fora destas horas será considerada extra.

Preços:

Pensão diária: almoço, jantar, quarto .................... 5$000
Almoço extra ..............................................................2$500
Jantar extra ................................................................3$500
Quarto para cada pessoa ........................................2$000
Um banho quente ......................................................1$000
Um banho frio, chuva ou de cascata ...................... $500
Assinatura mensal de banho frio ............................12$000

REGULAMENTO INTERNO

1º - O dia da chegada dos hóspedes será contado como uma pensão qualquer que seja a hora em chegarem.

2º - Os hóspedes que se não conformarem com o horário estabelecido para as refeições terão a bondade de declarar a hora em que querem ser servidos, vigorando então a tabela estabelecida para os extraordinários.

3º - Os hóspedes que querem ser servidos em seus aposentos pagarão mais 1$000 diários por pessoa.

4º - Os hóspedes são rogados a inscrever seu nome e residência fora de Petrópolis, no livro que o estabelecimento tem para esse fim, não só para a regularidade do serviço como para se poder reclamar do correio a sua correspondência e devolver a que viver depois de sua retirada.

5º - Para regularidade dos lançamentos, os pedidos de vinho ou outras quaisquer extraordinários só então satisfeitos à vista de cartões especiais firmados pelos hóspedes.

6º - Não é permitido aos hóspedes consumir vinho ou outras quaisquer bebidas que não sejam fornecidas pelo hotel.

7º - Os hóspedes que se ausentarem sem fazer a devida participação continuarão a pagar a sua pensão da mesma maneira que se estivessem presentes.

8º - O estabelecimento possui um serviço completo de campainhas elétricas, por meio das quais poderão os hóspedes chamar qualquer empregado, bastando para isso tocar no botão de marfim colocado no batente da porta, uma vez para o criado e duas vezes para criada, dando tempo suficiente para se acudir ao chamado. Para evitar qualquer desarranjo, pede-se aos hóspedes o obséquio de só se servirem das campainhas quando lhes for absolutamente necessário.

9º - As contas dos hóspedes serão extraídas e liquidadas todas as segundas-feiras.

Observações: Os hóspedes que tomarem cômodos para toda a estação calmosa (1° de Dezembro a 30 de Abril) terão direito a redução de 10%, sobre a despesa extraordinária.

Fonte:

TINOCO. José., Guia de Viagem, Typografia de L. Winter, 1885

Hotel Bragança, em meados do século XIX, localizava-se na atual Rua Alencar Lima.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

AS FESTAS DE ANO BOM EM PETRÓPOLIS

João Duarte Silveira

 Em outros tempos a folia principiava sempre nas véspera.
 Homens do povo, vestidos de roupa de brim endurecida à custa de muita goma, vinham para a rua, munidos de lanternas pela falta de iluminação, esperar o fim do ano velho e o principio do ano novo.
 Pessoas de destaque social, trajando sobrecasacas solenes, calças de brim branco e sapatos de polimento, fabricados pelos sapateiros Miguel Kind, Nicolau Hees e Casqueiro, também apareciam e ficavam a conversar nos bancos do Hotel Bragança, onde o Campos, o mais liberal dos hoteleiros festejava também o acontecimento oferecendo refrescos e guloseimas às visitas.
 Em quase todas as casas térreas, velhas gritadeiras conversavam à janela, contando cada qual a quantidade de doces de laranja da terra que tinham feito e quantos leitões e perus tinham sacrificado.
 - Um trabalhão, vizinha; há quinze dias que não sei o que seja dormir sossegada!
- E eu então, D. Candinha. Tive de fazer roupa nova para as crianças e umas roupas para seu Manoel, que não se ajeita com os alfaites, principalmente com seu Loureiro, que leva seis meses para acabar o feitio.
 E esse tagarelar só acabava quando a negrinha vinha avisar que o doce estava pegando no fundo do tacho.
 As casas mais abastadas ficavam abarrotadas de parentes e conhecidos chegados e amigos da cidade, e ao mesmo tempo pagar a fineza da ida às fazendas em véspera de São João.
 A noite realizava-se suculenta ceia, na qual o leitão assado era a peça principal, apresentado em frigideira de barro, com os dentes arreganhados e um ovo a sair do outro lado da cabeça, e rodelinhas de limão enfeitando o todo o corpo.
 Depois da ceia, principiavam as danças, enquanto a dona da casa resignava com as mucamas para recompor de novo a mesa, com os saborosos doces fabricados em casa.
 Quando o sino da matriz colocado ainda ao lado da igreja, pela falta da torre que o capitão Castro não havia ainda construído, batia a ultima badalada da meia noite impulsionado pelo sacristão Fernandes, rebentava a alegria por toda casa e até D. Gertrudes aparecia na sala, ainda de avental para dar as – Boas Saídas e as Melhores Entradas – e abraçar pela primeira vez naquele ano “seu” Felisberto extremoso companheiro de infortúnios e alegrias de meio século.
 O baile chegava ao auge quando os galos principiavam a cantar.
 “Seu” Bessa, o mestre sala dava o sinal para a última quadrilha marcada que quase sempre acabava – no Caminho da Roça – que ai até a esquina da rua e já com dia claro.
 Pela manhã as bandas de músicas dos Gustavos e do escrivão Schaefer saiam a tocar pelas ruas e paravam em frente as casas de Ignácio Papae e, Augusto Rocha, Comendador Paulino Afonso, Major Emílio da Veiga, Bartolomeu Sudré, professor Taborda de Bulhões, Coronel Baptista da Silva, Major Kopke, Paixão, Queiroga, Cornélio dos Santos, Thomaz da Porciúncula, Kallemback, Land, Carpenter, Calógeras, Rocha Código e muitos outros que seria difícil enumerar. O Eleutério, um oficial de justiça pernóstico, que nas horas vagas era cozinheiro afamada publicava no “Mercantil”:

 “Hoje dia de Anno Bom, às 8 horas da manhã haverá um inimitável e confortável angu em casa do patusco Eleutério José Garcia. A rapaziada de Petrópolis não será surda a tão amável convite”.

 As autoridades recebiam presentes, principalmente “seu” Vigário, o delegado de polícia e o fiscal da Câmara, “seu” Janiques, velho político que tinha vindo de Mangé, dizia ele. Pessoas respeitáveis e sobretudo respeitadas.
 Os negociantes presenteavam fidalgamente os fregueses salientado-se os de “Seccos e Molhados” e os das Padarias, contando com a gratidão deles, e poderem assim reaver durante o ano o dobro do que despendiam em um dia.
 Sobressaiam nessa porfia de amabilidades, o João Maduro, o Mesquita, o Azevedo e o Vitorino dos Chorões – dos Secos e Molhados, e os padeiros Pedro Caheins, da rua do Imperador e o Venâncio, da rua D. Januária.
 O Vasconcellos da fábrica de charutos e cigarros “Águia”, logo pela manhã oferecia a seu vizinho o tabelião João Cordeiro de Carvalho os melhores charutos fabricados para esse fim.
 Todos usavam nesse dia roupa e chapéus novos, comprados no “Anjo da Meia Noite”, de João José Dias, e no armarinho do Ernesto Olive.
 E quem não arranjava roupa nova, não saia de casa. Era vergonhoso. Os mais orgulhosos fingiam doença para não aparecer em público com roupa de todo ano.
 Era também comum nesses tempos presentear os amigos e cada passo encontrar moleques carregando, ora um peru com lacinhos nas asas ora um leitão com laço no pescoço. Eram presentes. E quem não tinha nada para dar, dava “Boas Saídas e Boas Entradas”



BIbliografia:
Volume III dos Trabalhos da Comissão do Centenário, 1939.



terça-feira, 25 de junho de 2013

A BICICLETA EM PETRÓPOLIS

Alcindo Sodré

 A crônica petropolitana registra vários acontecimentos interessantes relativos à prática da bicicleta sobretudo no antigo Morro da Igreja( Catedral São Pedro de Alcântara) e Palácio de Cristal. Muitos campeões dessa moda ainda estão vivos e exibem mocidade(1939).
 Todavia, nenhuma dessas crônicas terá talvez o sabor da que apareceu no jornal do Rio, “A Notícia”, de 12 de Abril de 1898. Vamos apreciá-la:
  
 “A Bicicleta invade-nos. A principio apareceu timidamente, como que receosa de revolucionar os nossos costumes pacatos. Além disso, os tradicionais buracos das nossas ruas, que são uma das poucas coisas que conversamos religiosamente, eram como um obstáculo ao desenvolvimento da bicicleta, rainha triunfante, que já tomara conta da Europa, depois de conquistados os súbditos norte-americanos e que agora se propunha atravessar esta parte do oceano, viajando elegantemente encaixotada.
 Mas, como todo o estrangeiro recentemente desembarcado, a quem a febre amarela apavora, a bicicleta subiu para Petrópolis, e ai encontrando  terreno mais favorável, não tardou a tomar conta dos veranistas. Restava-lhes porém, a conquista do belo sexo, sempre mais rebeldes a estas inovações, por causa das “boas línguas” das amigas. Essa conquista está agora feita: as senhoras da nossa sociedade, elegante entregam-se agora ardentemente a este gênero de esporte, com grande júbilo das costureiras que assim tem mais um pretexto para ganhar dinheiro, pois a bicicleta exige um vestuário “sui-generis”*.
 A conseqüência de função bicicletistas era que, mais dia menos dia, teríamos em Petrópolis uma festa de que fosse a rainha a Sra. Bicicleta. Essa festa realizou-se ontem, e com um êxito tal, que não será para admirar que dentro em pouco tenhamos a sua repetição.
 Infelizmente o belo sexo absteve-se de tomar parte ativa; mas esperamos que da próxima vez ele não hesite em trazer o seu precioso concurso, dando assim mais interesse, ainda ás corridas”.

 Feita esta ligeira digressão... histórica tem a palavra o modesto repórter que passa dar, sem frases, o resultado dos cinco páreos, na ordem em que foram corridos, transformando assim a ordem das fatores, e com “gaucherie”de quem faz uma coisa que não está acostumado e que o encarregaram por acaso.

 “O 3º páreo ( 3 voltas, 600 metros) foi ganho pelo jovem Henrique Raul Chaves que recebeu muitas palmas, chegando em 2º lugar o Sr. Frederico Teixeira Soares e em 3 lugar o Sr. João Teixeira Soares. Caiu o Sr. Alfredo Marques de Sá. Resta-lhe a consolação de não ter sido o único.
  Correu-se depois o 2º páreo, cuja distância era de 1000 metros, e que foi ganho pelo Sr. José Francisco de Barros Pimentel, chegando em 2° lugar o Sr. Otávio Guinle e em 3° o Sr. Waldemar da Cunha e Souza. Caiu o Sr. Edgard Bastos.
 No páreo das meninas (300 metros) tomaram parte apenas senhoritas ( o termo está consagrado) Flavita Leão Veloso e Laurita Teixeira Soares, chegando esta em 1° lugar, mas com pouca diferença.
 O páreo mais longo foi o primeiro cuja distancia era de 3000 metros (15 voltas) e que foi disputado pelos Srs. Eurico Godoy e Raul Barbosa, chegando aquele em 1º lugar. Via-se porém que a força de ambos era igual.
 No quarto páreo (1.000 metros) foi vencedor o Sr. Arnaldo Guinle, chegando em 2° lugar o Sr. Pedro Luiz Osório, que caiu, mas depois continuou a corrida. O mesmo aconteceu com o jovem Edmundo Leuzinger, que esse não pode continuar.
 Terminada as corridas, que se seguiram sem grande intervalo e foram acompanhadas com interesse pelos entendidos e pelos profanos, em cujo número nos alistamos, uma gentil comissão de senhoritas fez a distribuição dos prêmios vencedores e de bronze aos segundos e bibelots as menina, distribuição que correu entre palmas.
 Depois, o Sr. Araújo Maia fez o elogio da bicicleta e levantou um viva ao presidente do Estado, que se achava presente e que acompanhou a festa com muito interesse.
 Depois... depois dançou-se com muita animação, como se na véspera não se tivesse dançado, no Cassino, em um baile animadíssimo e que terminara ás 2 horas da manhã por um “cotillon” magistralmente conduzido pela Exma. Senhorita Regina Amoroso Lima e o Sr. João Vianna, cuja competência no assunto é muito conhecida.
 Ambas as festas estiveram brilhantes e “réussies”*. A de ontem foi favorecida por um belo tempo, embora quente; mas o calor não arrefeceu a animação dos graciosos pares.
 Como se vê, Petrópolis, “s’amuse”, e faz muito bem, porque lá diz a sabedoria das nações: quem se diverte seus males espantas. Isto é, a sabedoria das nações diz: que canta... mais, no fim, dá certo.”

* Sui-generis = Forma única de ser, singularidade
* Réussies = Bem sucedido


Retirado do Volume III dos Trabalhos da Comissão do Centenário, 1939.


Gazeta de Petrópolis, 6 de Janeiro de 1894

PROPOSTAS PARA CONDUÇÃO URBANA EM PETRÓPOLIS, NO FINAL DO SÉCULO XIX

Alcindo Sodré

Parte do Arquivo Municipal, contem alguns documentos relativos a projetos de transportes urbanos, apresentados ao poder público em fins do século dezenove.
A 30 de Março de 1878, dava entrada no Paço Municipal o seguinte requerimento, enviado pelo Presidente da Província, a quem fora dirigido:

 “Alfredo Gomes Netto, Cidadão Brasileiro morador actualmente em Petropolis na rua Bourbon*, vem respeitosamente solicitar de V. Exa. A graça de conceder-lhe o privilegio de que passa a expor.
 Tendo o suplicante longa pratica de emprego de Carris de ferro, por já ter servido em uma das principaes emprezas da Corte por longo tempo, deseja obter privilegio por 50 annos para estabelecer na Cidade de Petropolis uma empreza de trilhos urbanos, destinada ao transporte de passageiros.
 Os lugares aonde o supplicante deseja construir linhas férreas são os seguintes: Villa Thereza e Cascatinha conforme a planta já apresentada a Ilustríssima Câmara Municipal.
 O supplicante compromette-se a não cobrar mais que cem réis por pessoa na linha do centro; duzentos réis na da Villa Thereza e quatrocentos réis na da Cascatinha. Visto como n’esta Cidade não conta o supplicante auferir lucros durante o inverno, mas sim durante quatro ou cinco mezes no verão pelo recurso das famílias que vêm da Corte; por isso deseja o supplicante obter a sua pretensão sem ônus algum mesmo fiança para fiel cumprimento do que se trata, visto estar o supplicante bem resolvido a levar avante o assentamento de trilhos pela grande inclinação que tem para assumptos d’esta ordem.
 Durante o período de quatro annos, pretende o supplicante dar por concluído o assentamento de todas as linhas, começando pela linha do Centro, que parte d’ella estará concluída a funccionar em Dezembro do corrente anno para o transporte das pessoas que frequentão o estabelecimento dos Banhos de Duchas. Durante o tempo em que durarem as obras das demais linhas compromette-se o supplicante a por em trafego carros da fórma de bonds singindo-se aos preços acima já estipulados.”

Este requerimento, não mereceu qualquer despacho da Municipalidade, nem mesmo o Arquive-se, embora fosse logo arrolado no arquivo público.
O interessante desse requerimento é verficar-se que em 1878, uma empresa de transporte já projetava instalar serviços em três linhas, que ofereciam maiores lucros prováveis, Circular, Vila Thereza e Cascatinha, e o mesmo tempo plano viria realizar a Companhia Brasileira em 1910, trinta e dois anos depois!
A 17 de Dezembro de 1880, dois anos após a primeira, a Câmara Municipal recebia a seguinte proposta, de B. Caymari e Galdino J. de Bessa:

 “Os abaixo assignados julgando de necessidade o estabelecimento de uma linha de transvia que dê fácil e commoda communicação a seus habitantes, e bem assim a conducção de cargas e bagagens de que tem sido dotadas outras cidades deste Império, algumas de menor importância que Petropolis, vem respeitosamente propor V. Sas. Illmas. Que se sirvam otorgarem-lhes a Concessão para o estabelecimento de uma linha férrea puxada por animaes de vitola estreita simular a da Comp. Carris Urbanos sob as seguintes condições.
1ª. Os abaixo assignados de acordo com a Illma. Câmara determinaram as ruas e logares próprios para o assentamento de trilhos.
2ª. O preço de passagem para os pontos terminaes são de 200 réis para os adultos e 100 réis para menores.
3ª. Os empregados da Polícia, Correia e Municipalidade terão passagem gratuita, assim como as malas do Correio.”
O Presidente interino da Câmara, Bartolomeu Pereira Sudré mandou o papel à comissão respectiva, e esta, pelo vereador Antonio José Corrêa Lima, opinou: “A commissão é de parecer que seja deferido a pertenção dos peticionários por ser de interesse local, e grande vantajem para esta cidade”. E o Presidente concluiu: “Concedida na forma do parecer, devendo a confecção de obras  publicas, ficando sujeito a approvação da Câmara”.

 Feita a concessão, até 30 de Julho de 1883 não tinha ainda a nova empresa iniciado os trabalhos, e nesta data, por seu procurador Quintino Bocaiúva, requeria á Câmara prorrogação de três meses para começar a executá-los, disposta a pagar as multas em que houvesse incorrido, e ainda faria a Câmara interessantes ponderações sobre a natureza dos trilhos a serem assentados:  

“É difícil estabelecer uma perfeita adherencia do macadam, uma vez revolvido, com os trilhos, e a conseqüência  é ficarem estes sobrelevados ao leito das ruas impedindo o transito dos vehiculos sobretudo em sentido transversal. Esse effeito é impossível de remediar e o estrago dahi resultante é de tal ordem que a própria Câmara será a primeira que tenha de lastimar o emprego de semelhantes trilhos, pela ruína a que verá reduzidas as ruas dessa formosa cidade. Os trilhos adotados na opinião do abaixo assignado são os de fenda, como os actualmente impostos pelo Governo Geral às Companhias de Ferro-Vias Urbanas, na cidade do Rio de Janeiro. A sua collocação é mais firme e mais conveniente a Conservação do leito da via publica por poderem ficar ao nível do calçamento ou do macadam. De todo modo a Câmara em sua sabedoria resolverá o melhor”.

 Consultadas as Comissões de Obras e Legislação, estas, pelos respectivos relatores, Alexandre Tridon e Candido José Valle de Almeida, foram inteiramente favoráveis ao peticionário. Entretanto, segundo se verifica no despacho assinado pelo Presidente Kopke, “a Câmara indefere a petição e declara caduca a concessão”.
 E assim morria a última proposta para bondes de tração em Petrópolis, relevando-se registrar as restrições que então já se fazia aos trilhos salientes, que infelizmente viriam ser adotadas pela Brasileira em 1910!
 A 26 de Março de 1898, e assinada por André Tramu, a Municipalidade receberia curiosa proposta para o estabelecimento de bondes automóveis, a vapor e gás de petróleo:

 “A installação desses carros nesta bella cidade de Petrópolis, primeira da América do Sul que terá adoptado esse melhoramento empregado para o transporte de passageiros entre o centro e arrebaldes, produzirá um agradável aspecto, offerecendo toda a commodidade e segurança”.

 E adianta: “Para melhor orientação da perfeição e segurança d’esses carros juntamos o modelo que póde ser alterado fazendo-se aberturas lateraes”.
O sistema, era a grande novidade do momento, pois era o veículo com maquinismo precursor do automóvel: “As experiências dos carros a vapor omnibus, Mail coch, Berlines Cia., tendo sido feitas em França e Inglaterra, em presença das autoridades e engenheiros e tem sido tão satisfatórias, que numerosas emprezas foram installadas para substituir os antigos omnibus nas cidades de Brieux, Grenoble, St. Etienne e muitas outras, onde tem funccionado, com grande enthusiasmo da população.
A cidade de Paris é actualmente cortada por ‘automoveis’ de todos os systemas, sendo adoptado de preferência o systema ‘Farman’.
O motor a gaz de petróleo é da força de cinco cavallos, póde mover-se tanto para diante como para traz e póde-se attingir em lugar plano a marcha de 40 kilometros por hora.
As viagens diárias serão feitas em 6 direcções, sendo para Cascatinha, para a Terra Santa, para Villa Thereza, para o Palatinado, para a Quitandinha e para a Mosella”.

 Aceita, em principio, pela Câmara, essa interessante proposta, não vingou ela, todavia, e nos papéis, vê-se o parecer da Comissão de Fazenda, aconselhando que “fosse annulada a concessão”.

*Rua Boubon, atual Dr Nelson Sá Earp.


Retirado do Volume II dos Trabalhos da Comissão do Centenário, 1939.

Projeto de Onibus para Petrópolis, apresentado junto ao requerimento de André Tramu á Câmara Municipal.

DECRETO IMPERIAL DE CONCESSÃO PARA FUNDAÇÃO DA COMPANHIA UNIÃO E INDÚSTRIA

Decreto Imperial nº1031 de 7 de Agosto de 1852 – Concessão para fundação da Cia. União e Indústria.

Atendendo ao que lhe representou Mariano Procópio Ferreira Lage, pedindo faculdade para construir, melhorar e conservar, à sua custa, duas linhas de estradas, que, começando nos pontos mais apropriados à margem do rio Paraíba, desde a vila deste nome até ao Porto Novo do Cunho, se dirijam uma até a barra do rio das Velhas, passando por Barbacena, e com ramal desta cidade para a de São João Del Rei; e outra pelo Município Mar de Espanha, com direção à cidade de Ouro Preto; e desejando promover, quanto possível, o beneficio da agricultura e do comercio das indicadas localidades, facilitando as comunicações entre aqueles pontos e as relações entre as duas Províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais: Hei por bem conceder o privilégio exclusivo pelo tempo de cinqüenta anos para incorporar uma companhia para o dito fim, sob as condições que com este baixam assinadas por Francisco Gonçalves Martins do meu Conselho, Senador do Império; ficando, porém, este contrato dependendo de aprovação da Assembléia Legislativa. O mesmo ministro assim o tenha atendido e o faça executar”.

 S.M.I Dom Pedro II.


Ação da Companhia União e União no valor de 500$000 reis de 4 de Dezembro de 1852

MARIANO PROCÓPIO FERREIRA LAGE

O artigo está transcrito na linguagem da época.

Jornal: Pequena Illustração
Petrópolis, 17 de Janeiro de 1937
ANNO VI   N.281

UM NOTÁVEL BRASILEIRO.

 Mariano Procópio foi, sem duvida, um brasileiro que assinalou para Minas Gerais, uma phase nova de prosperidade. Esse ilustre varão nasceu em Barbacena, a 23 de Junho de 1831 e falleceu na capital do paiz, a 14 de Fevereiro de 1872. Dotado de intelligencia lúcida, de uma argúcia sem par altamente emprehendedor, espírito de iniciativa e de lucta muito superior á sua época toda a sua herculea actividade se voltava para as grandes realizações.
No silencia de seus gabinete de trabalho ou no bulício das ruas, pensaca, sentia a fundo todas as inovações que pudessem por á prova a sua capacidade e concorressem para o emgrandecimento da Patria que adorava com toda a alma atravez das suas forças mais insignificantes.
Umas das phases mais dignas da vida do insigne brasileiro, foi aquella em que, com empenho denodado e á custa da própria fortuna,s e occupou da imigração européia, na convicção de que, os processos raciaies e de agricultura poderiam elevar o nome do Brasil. E não se enganou, pois as duas colônias allemães estabelecidas nesta cidade, em pouco tempo deram os mais auspiciosos resultados e remodelaram os hábitos urbanos, desde o simples gosto de construcção das moradias particulares, até á alimentação abundante dos mais variados e salutares legumes.
Póde-se aformar que a colônia allemã constitui um poderoso factor para transformar Juiz de Fóra,. De simples logarejo que era, numa linda e florescente cidade, que hoje contemplamos com orgulho e admiração.
A nossa Princeza de Minas, com muita justiça, considera Mariano Procópio seu principal fundador e grande bemfeitor, porque o intrépido mineiro foi um desses homens que, de quando em vez apparecem, dedicados á causa publica, com todo devotamento dos que despressam os interesses induviduaes. Analysando que foi realizada, com os actuaes progressos, é que se avalia da magnitude desse nosso ilustre patrício.
Evocar a memória de Mariano Procópio, é remontar ainda ás primeiras origens históricas da viação no Brasil, o problema da Rodovia para grandeza nacional.
É recapitular que foi elle o primeiro, em nossa pátria, a abrir caminhoa engenharia brasileira, empresa assás arojada, quebrando preconceitos reinantes em virtude dos quaes só se confiavam as construcções de nossas estradas ás empreitadas extrangeiras.
Mariano Procópio organizou, caprichosament, dirigindo com singular, intelligencia, os serviços de viação da Estrada União e Indústria, cuja boa ordem e conforto, eram, vastamente elogiados por todos quantos a conheceram e que, parindo de antiga província do Rio de Janeiro, por Petrópolis, vinha a ter esta cidade de Juiz de Fóra. Essa obra gigantesca celebre não só pela sua belleza, de construcção como, também pela magestosa, paisagem que se descortina, abona muito aos brasileiros, revelando um progresso de engenharia nacional, embora tivesse o auxilio de engenheiros francezes, mas o seu projecto, a sua concepção e traçado é bem do brasileiro.
Naquella época era uma delicia – attestam os contemporâneos – viajar naquella estrada magnífica, toda macadamisada, a primeira maravilha de arte da engenharia da América do Sul, perfeitamente construída como esta foi.
O Brasil foi o primeiro paiz da América Latina e o terceiro no mundo a adaptar o systema macadame. O grande Imperador brasileiro, D. Pedro II, que esteve presente á sua inauguração, deslumbrou-se deante do acabamento da arrojada empreza e cumulou Mariano Procópio de merecidos elogios, pelos seus incalculáveis serviços prestados ao nosso primeiro surto rodoviário.
Mariano Procópio quando resolveu construir a estação terminal do tronco da União e Indústria, em Juiz de Fóra, adquiriu para esta companhia, os melhores terrenos, reservando para si, a parte inferior dos mesmos.
O terreno adquirido constitue, hoje o Parque Mariano Procópio. A parte plana era alagadiço e no morro, em que se encontra, actualmente, o seu frondoso parque, só havia, outrora, formigueiros e medrava sapê.
Durante um anno o illustre patrício levou a combater as formigas. Sendo um terreno essencialmente estéril afim de se proceder ás plantações. O lago de águas serenas e azulinas, onde passeiam bandos gentis de heráldicos cysnes, serviu para drenar a parte alagadiça do terreno acima referido. Isso mostra , meus gentis patrícios, o espírito adiantado de nosso Mariano Procópio que quis provar o que se póde conseguir de um terreno julgado improductivo. A chácara que hoje parece uma creação da natureza e que fazia delicia dos nosso visitantes foi, também e ainda, obra exclusiva do gênio de Mariano Procópio.
Tudo alli está plantado em especial carinho e zelo, de maneira a impressionar agradevelmente ao turista.
As árvores frondosas e cheias de viço, com as suas flores e fructos, caracterizam bem o nosso paiz e o seu logar constitue uma lição valiosa de botânica. O dito parque é bem  o paraíso dos trópicos, conforme já denominou o notável scientista Agassis.
Mariano Procópio foi um homem de ação intermerata, espírito sempre alliado á modesta, prestava Juiz de Fóra, benéficos extraordinários. O busto do grande industrial collocado no formosso jardim do Largo Riachuelo, inaugurado noutros tempos, por entre as exclamações mais enthusiuasticas, num soberbo e róseo dia de sol tropical, lá está e estará eternamente entre flores e luzes, para exemplo e orgulho das gerações vindouras.

Arlette Corrêa Netto
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Vem este artigo a propósito de uma grande homenagem que nesta cidade será prestada á memória do notável brasileiro e ao srs. drs. Getúlio Vargas e Yêddo Fiuza, chefe do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem e prefeito deste município
Essa homenagem de alta significação, projectada por elementos destacados do governo municipal, da sociedade, do commercio e da industria, consiste no erguimento de um grande obelisco no começo da estrada União e Industria, contendo elle a efígie de Mariano Procópio seu iniciador, do chefe da Nação e do dr. Yêddo Fiúza, que com o auxilio do governo federal, vem de concluir as obras da avenida Rio Branco ponto inicial da referida rodovia.
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Mariano Procópio Ferreira Lage



NOTÍCIAS NO JORNAL "O PARAHYBA" DE 1858 e 1859 SOBRE A ESTRADA UNIÃO E INDÚSTRIA

As notícias abaixo foram retiradas do jornal O PARAHYBA de 1858 e 1859, todas relacionadas com a construção da Estrada União e Indústria, tentei preservar a linguagem da época para dar um tom histórico a publicação.

Jornal O PARAHYBA
Quinta-feira, 18 de fevereiro de 1858
PRIMEIRO ANNO – 1858 NUMERO 23
p.3

DECLARAÇÃO

COMPANHIA UNIÃO E INDUSTRIA
(seção a quem Parahyba)

 Tendo a companhia União e Industria de encetar os trabalhos da 2ª seção de Pedro do Rio ao Parahyba, faz-se publico, para conhecimento dos interessados, que se acha definitivamente terminada uma parte da linha entre Pedro do Rio e a fazenda da Posse.
 A Companhia recebe até 1º de marçoi propostas para execução dos trabalhos, por series de preços ou em globo.
 Os concurrentes encontrarão no escriptorio da companhia em Petrópolis, todas as peças do projecto e informações necessárias. A companhia não tem compromissos nem decidira cousa alguma senão a vista de todas as propostas
Petrópolis, 1º de fevereiro de 1858 – O engenheiro chefe, Bulhões.

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Jornal O PARAHYBA
Domingo, 21 de março de 1858
PRIMEIRO ANNO – 1858 NUMERO 32
p.3

DECLARAÇOES

COMPANHIA UNIÃO E INDUSTRIA

O director e presidente da companhia – União e Industria -, tendo contractado com o presidente da imperial companhia da – estrada de ferro e navegação de Petrópolis – a direcção geral de todo o serviço e transporte feito pelo referida companhia de Petrópolis, afim de harmonizal-o com o daquella outra companhia, manda fazer publico, para conhecimento dos interessados, as seguintes alterações e novas disposições, que para maior regularidade e celeridade do dito serviço se devem executar do dia 20 do corrente mez em diante em relação aos passageiros, bagagens e cargas com destino á estação da raiz da serra (Fragoso), e dia 31 em diante em relação ás cargas com o destino á estação de Pedro do Rio.
 As barcas de vapor para o Porto de Mauá partirão ás 6 horas da manhã e 1 da tarde, a primeira conduzindo sómente passageiros e bagagens e comboi de cargas.
 O trêm do caminho de ferro partirá da estação da raiz da serra ás 9 ½ horas da manhãa e 5 da tarde, o primeiro conduzindo cargas e passageiros, o segundo sómente passageiros e cargas leves.
 Os passageiros para a estação de Inhomerim são admitidos na barca que parte da Prainha á 1 hora da tarde, e no trem que parte da raiz da serra ás 9 ½ horas da manhãa, por isso que nas outras horas o trem do caminho de ferro não pára n’aquella estação intermedia.
 Toda bagagem leve, isto é, a que póde ser conduzida pelo próprio passageiro, não paga frete, mas sim, a bagagem pesada, que aliás nunca poderá exceder a volume superior ao peso de 4 arrobas
 A bagagem pesada que tiver que ir na barca das 6 horas da manhãa deverá ser entregue das 3 ás 6 horas da tarde do dia antecedente na estação da Prainha, e a que tiver de ir na barca de 1 hora da tarde deverá ser entregue das 11 horas á meia hora da tarde do mesmo dia.
 Na primeira viagem da Prainha para a raiz da serra e na ultima da raiz da serra á Prainha não se admitirá o transporte de animaes.
 Do dia 20 do corrente em diante haverá diligencias em Petropolis, para a estação de Pedro do Rio, que partirão de Petrópolis meia hora depois da chegada dos carros que fizerem o serviço da serra, e voltarão de Pedro do Rio á 1 hora da tarde.
 Do 1º de abril em diante haverá mais uma diligencia, que partirá de Pedro do Rio á 6 horas da manhãa e voltará de Petropolis as 6 horas da tarde.
  Os bilhetes para as passagens nestas diligencias serão vendidos na estação da Prainha, no hotel inglez e na estação de Pedro do Rio.
 As cargas que tiverem de seguir no mesmo dia da entrega deverão entrar para a estação da Prainha das 6 ½ ás 11 horas da manhãa, seguindo no dia imediato as que entrarem depois daquella ultima hora.
  Para serem recebidos na estação da Prainha os volumes deverão trazer, além da marca, a declaração do peso e do lugar para onde são destinados, tendo os remettentes o cuidado de inutilisar as marcas velhas que nelles possão existir.
 Taes volumes deverão ser acompanhados de uma relação assignada pelo remettente, ou seus representantes, contendo as declarações necessarias, não sómente em referencia aos mesmos volumes, como tambem a tudo quanto possa interessar a sua expedição para o interior.
 Os volumes serão reytirados da estação da Prainha durante o dia immediato ao da entrega do aviso que pela dita estação se fará.
 Sendo mercadoria o penhor das despezas de transporte e dos supprimentos feitos aos remettentes do interior, deverão ser pagas taes despezase supprimentos no acto da entrega dos volumes na estação da Prainha.

Rio de Janeiro, 17 de março de 1858, - O secretario, J Machado Coelho de Castro

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Jornal O PARAHYBA
Quinta-feira, 8 de abril de 1858
PRIMEIRO ANNO – 1858 NUMERO 36
p.3

DECLARAÇÃO

UNIÃO E INDUSTRIA

 Do 1º de abril em diante partirá mais um diligencia de Petrópolis para Pedro do Rio e vice-versa, em comunicação com os carros que descem a serra às 8 horas da manha e com aquelles que a sobem de tare.
 Sahirá de Petrópolis para Pedro do Rio às 5 ½ horas da tarde e regressará de Pedro do Rio às 5 ½ horas da manhã.
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 A directoria da companhia União e Industria recebe até dia 14 do corrente as 10 horas da manha, novas propostas para a construção de seção a quem Parahyba.

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Jornal O PARAHYBA
Quinta-feira, 30 de dezembro de 1859
ANNO II   NUMERO 9


COMPANHIA UNIÃO E INDUSTRIA
COLONIA DE D. PEDRO II
EM JUIZ DE FORA

 Aviza-se aos colonos que auzentarão sem remir as suas dividas de passagens ou outras que até o dia 31 de dezembro do corrente anno devem satisfazer estas obrigações pois em caso contrario forçarão os seus engajadores a proceder com todo rigor das leis. Aquelles colonos que se acharem em Petrópolis poderão desde já deirigir-se ao escriptorio da companhia nesta cidade onde acharão com quem tratar.
 As dividas poderão ser solvidas em moeda corrente ou por fiança idonea.

Uma ação da Companhia União e Indústria. Acervo Biblioteca Nacional


domingo, 23 de junho de 2013

A UNIÃO E INDÚSTRIA - CLAUDIONOR DE SOUZA ADÃO

A União e Indústria
Seus 123 anos – obra prima e magnífica – iniciativa privada

 A Serra do Mar sempre foi um obstáculo quase intransponível à ocupação do interior do Brasil. Parte do Maciço Atlântico com seus granitos, gnaisses e denominações locais, estende-se paralelamente à costa desde o Rio Paraíba do Sul até Santa Catarina, com uma altura média de mil metros.
 A primeira subida ao planalto interiorano foi por S. Vicente, premido o ocupante daquele litoral de areias e alagadiços pela escassez de terras para lavoura.
 E as perspectivas se abriram para as entradas, bandeiras e monções.
 Depois, a descoberta das Minas Gerais atraiu levas e levas de exploradores que partindo do Rio de Janeiro, procuravam contornar a muralha pétrea de montanha e a selva ínvia que a recobria, buscando pelo mar o caminho até Parati, daí rumando, já em S.Paulo para Taubaté e Pindamonhangaba para alcançar o vale do Paraíba e, seguida a correntes do rio, chegar a Entre Rio (... Três Rios) na foz do Paraibuna, que os levava finalmente a Minas.
 A realização é que a abertura de novos caminhos para zona de lavras não era incentivada pela Metrópole, com o fito de dificultar o contrabando. Por outro lado, a exploração da cana-de-açúcar concentrou as energias do homem fluminense nos primeiros duzentos anos da economia da colônia e, ademais, centenas de quilômetros de mata virgem em escarpas se interpunham entre a Baixada e o Altiplano.
 Mas, chegou-se a um ponto em que a necessidade de melhores comunicações se fez imperiosa e guarda-mor, Garcia Rodrigues Paes tomou a iniciativa de abrir um “Caminho Novo” das Minas para o Rio. Em 1701, lança-se a empreitada, que lhe tomou quatro anos, a fortuna e ficou incompleta.
 Outros retomaram a obra e uma ramificação foi concluída por Bernardo Soares Proença, passando de Paraíba do Sul, por onde se entrosava o “Caminho Novo”, por Cebolas, Fagundes, Sumidouro, Corrêas, Samambaia, Itamarati, Quissamã, descia pela vertente hoje conhecida como Serra Velha, alcançava Raiz da Serra, Fazenda da Mandioca, Inhomirim e Porto da Estrela. 
 Houve outros  “Caminhos Novos”, como informam às vezes contraditoriamente o Padre André João (Cultura e Opulência do Brasil – 1711) Antonil, Diogo de Vasconcellos – (História Antiga das Minas Gerais) e Capistrano de Abreu (Caminhos Antigos e povoamento do Brasil), mas o que nos interessa é o fato, digamos assim, do “Caminho Novíssimo”, de Proença , ter sido a origem de Petrópolis, melhorado por Koeler, na serra, ocasião em que o major conheceu a Fazenda Córrego Seco, por elas se interessou e Petrópolis nela foi implantada, pela ação direta dele, do Mordomo Imperial Paulo Barbosa e do dono das terras, o Imperador Pedro II.
 E foi de Petrópolis que partiu para o interior a primeira estrada de rodagem digno desse nome: a União e Indústria.
 O Brasil era ainda um imenso arquipélago. As comunicações como o interior precaríssimas. Por isso a União e Industria foi um marco decisivo no nosso desenvolvimento.
 Iniciativa empresarial, com aspectos modernos, foi impulsionada pela Cia. União e Indústria, tendo a frente Mariano Procópio Ferreira Lage.
 No dia 12 de abril de 1856, o Imperador e a Imperatriz, presidiram o ato inaugural dos trabalhos da abertura da nova estrada em pavilhão armado na hoje Rua Tiradentes (antiga Maria II), na presença do Presidente da Província, de outras autoridades e de “uma multidão de homens e senhoras elegantemente vestidas”, como registram as crônicas da época.
 O Imperador foi saudado por Mariano Procópio, que assinalando a importância do acontecimento, disse que “uma nova era, vai começar para este País”, ao que D. Pedro II respondeu frisando: “Uma empresa cujo fim é a construção de uma estrada que ligue duas Províncias tão importantes, e que continuando talvez para o futuro, até as margens do segundo rio do Brasil, reunirá os interesses de seis Províncias, de certo merece ser chamada de patriótica”.
 Na ocasião, foi inaugurada, no principio do Quarteirão Westphalia (hoje Av. Barão do Rio Branco) uma placa de mármore, que ali se acha até hoje, com a seguinte inscrição: “Sob muito alta proteção de S. M. I. O Senhor D. Pedro II e na augusta presença do mesmo Senhor e de S. M. a Imperatriz – a Cia. União e Industria começou a construir esta estrada – No dia 12 de abril de 1856.”
 Dois anos depois, em 20 de março de 1858, o Imperador voltou a presidir, nova inauguração desta feita do primeiro trecho concluído da estrada. Informação da época esclarece: “A 1ª seção da estrada começou no alto da serra da Vila Teresa e termina em Pedro do Rio, tendo a extensão de cinco léguas, achando-se completamente acabada, com a única exceção da ponte grande do piabanha, cujo pegões e cantaria alias se acham prontos esperando-se da Inglaterra a parte de ferre e 160 palmos que ali se mandou construir e em lugar da qual serve por ora uma ponte provisória”.
 “A estrada é quase madacamisada acompanhando sempre a margem do Piabanha: apenas em alguns pontos tem o declive máximo e 1 por 33: a sua largura é de 36 palmos até a ponte do retiro, e daí a Pedro do Rio não excede de 32”.
 “A 1ª seção da estrada conta 4 pontes, 3 de ferro e 1 de madeira, todas porém sólidas e perfeitamente e construídas”.
 “Somente a 10 e Abril próximo, fecha-se o prazo marcado para a conclusão de todos estes trabalhos; os esforços, porém da diligente Diretoria da Companhia composta dos srs. Comendador Ferreira Lage, presidente e dr. Coelho de Castro, secretario e a eficaz coadjuvação do sr. Mello Franco permitiram que desde já pudesse ser franqueada ao publico a 1ª seção”.
 “As diligências para passageiros e carros de transporte de cargas começam hoje a trabalhar regularmente. Por enquanto, acham-se apenas em serviço duas diligências, uma para dezesseis e outra para oito pessoas; em breve, porém deve chegar outras duas da Inglaterra”.
 “A Cia. União e Indústria acertou de regular o seu serviço pondo-se de acordo com o da Estrada de Ferri Mauá, e encarregando à sua diretoria, a direção geral dos transpores da Prainha à Raiz da Serra, de modo que quem sair da Côrte às 6 horas da manhã achar-se-á ao meio dia em Pedro do Rio, e às 6 horas da tarde em Paraíba do Sul”.
 “Muito, portanto, ganham com a 1ª seção desta estrada as comunicações de alguns pontos do interior com a capital; mas isto nada é a vista dos resultados que nos promete a continuação da estrada.”
 “Vão continuar os trabalhos da 2ª seção de Pedro do Rio ao Paraíba, em uma extensão de 7 léguas. Do Paraíba ao Paraibuna deve estender-se por 5 léguas a estrada, que também está sendo executada. Do Paraibuna a Juiz de Fora a Cia. Tem já pronta 7 léguas de estrada, que se ligam às 16, que vão de Juiz de Fora a Barbacena. Espera-se que dentro de trinta meses se achem concluídos os trabalhos fruindo as Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais os belos e preciosos frutos que lhes promete uma excelente estrada de rodagem de 40 léguas, tendo por extremos, de um lado Barbacena e, de outro Petrópolis’.
 “Se então (e breve chegará à época desejada) a Cia. União e Indústria colher os resultados que espera, e que devem coroar os seus esforços, suas asas abrirão para maior vôo, e se for devidamente auxiliada, licito é supor que esta linha de comunicação tão importante, se prolongue até a Barra do Rio das Velhas, onde começa a franca navegação do Rio S. Francisco e vá assim ligar-se à estrada de ferro do Juazeiro, na Bahia, com imensa utilidade de não poucas Províncias do Brasil.”
 Aí está, delineado, todo o grandioso propósito da Cia. União e Indústria. Infelizmente, nem tudo se realizou. Mas o que se concretizou, vale pela afirmação da fibra dos brasileiros de então.
 Note-se que tudo era fruto da iniciativa privada. Não da estatização dos nossos dias.
 Num sistema econômico diferente, paradoxalmente na época da colônia, indivíduos como Garcia Rodrigues Paes e Bernardo Soares Proença abalançam-se a abrir “caminhos” por sua conta e risco. Antes, as “bandeiras” e “entradas”, eram financiadas por um Fernando Dias Paes, e um Borba Gato, ou um Raposo Tavares. Mais tarde no 2º Império, Mauá lança-se cometimentos gigantescos, como a implantação de estradas de ferros, bancos, estaleiros e ate financia parte da nossa guerra com o Paraguai. Enquanto isso, Mariano Procópio Ferreira Lage e seus sócios, inclusive o interessado Irineu Evangelista de Souza – o Barão de Mauá – e seus empreendimentos, rasgam a União e Industria, uma estrada de penetração, do hiterland brasileiro que nada ficava a dever, na época às melhores rodovias da Europa e dos nascentes Estados Unidos.
 O importante é que tudo foi feito com o esforço tipicamente brasileiro, com técnicos tupiniquins (muitos formados na Europa, é certo), braço escravo, mas em muitos casos com na região de Petrópolis, com assalariados germânicos.
 O capital inicial da Cia. União e Indústria era de 5 mil contos e a empresa tinha o objetivo de ser uma prolongamento das comunicações dos empreendimentos do Barão de Mauá; a linha de navegação a vapor da Corte ao porto de Mauá à Raiz da Serra e a estrada de rodagem da serra até a Vila Teresa.
 O capital seria remunerado, com a renda de 5 por cento sobre as cargas transportadas garantida por lei provincial, mais tarde aumentada de 2 por cento por lei imperial.
 Mas a construção da estrada de ferro D. Pedro II veio a ameaçar a vida da Cia. União e Indústria.
 Ao termino das obras de construção da rodovia, a Cia. defrontava-se com dificuldades financeiras, dadas às grandes despesas realizadas. Felizmente, para a empresa as obras de construção da estrada de ferro demoraram e a União e Indústria pôde respirar.
 A verdade porém é que ariano Procópio, o grande responsável pela União e Indústria, tal como Mauá estava arruinado quando faleceu em 14 de fevereiro de 1872.
 Seus bens foram à praça e sua viúva fez enorme esforço para preservar a chácara onde morava em Juiz de Fora.
 Mais tarde, seu filho doou a propriedade à Prefeitura local onde hoje está o Museu Mariano Procópio.
 Feito o parênteses, vamos voltar ao desenvolvimento da implantação que da União e Indústria, não sem antes registrar que a estrada resistiu ao passar dos anos e à evolução da técnica de construção rodoviária.
 Só na década de 1940, foi ela pavimentada com asfalto.
 Mas, as obras de arte, no seu conjunto aí estão até hoje, evidentemente com os reparos necessários para se antepor às injurias do tempo. As grossas muralhas laterais parecem indestrutíveis. E quando se abre novos traçados paralelos, estes esboroam-se em diversos trechos e a velha União e Indústria volta a servir aos usuários, na sua plenitude.
 Em 28 de abril de 18560, conclui-se a segunda seção de Pedro do Rio à Posse, pela serra do Taquaril. Os festejos do termino da União e Indústria ocorreram no dia 23 de junho de 1861: a estrada chegara a Juiz de Fora. Esta, a data que comemoramos.
 Na madrugada freia daquele dia, em Petrópolis, começaram os preparativos. As 3 e meia as ruas calmas do burgo foram atingidas pelo som de trombetas tocadas por empregados da Cia. Que procuravam acordar os convidados hospedados em hotéis do centro da cidade. A partida da comitiva imperial estava marcada para as cinco horas. Cinco diligencias, ornamentadas embandeiradas, puxadas por quatro mulas reluzentes, postavam-se defronte ao Palácio, aguardando os convivas. Cada uma comportava 14 ou 16 pessoas. Condutores e cocheiros estavam uniformizados com sobrecasaca azul, botas e bonés amarelos, com galões de ouro.
 Na hora fixada, a Família Imperial tomou sua caleça particular e o cortejo pôs-se em marcha veloz, rumo a Minas Gerais.
 A primeira arada para troca de animais foi em Corrêas, 45 minutos depois da Partida.
 Uma hora e meia depois da saída, a comitiva chegou ao final da 1ª seção, em Pedro do Ro; quarenta minutos depois, na Posse, onde se encontravam os armazéns para a guarda do café, produzido em S. José do Rio Preto e redondezas. Depois foram à estação da Julioca e Campo da Grama: mais tarde, todos desceram na grande ponte sobre o Rio Paraíba, para admirar a excelente obra de engenharia erguida no local. A chegada a Entre Rios deu-se 15 minutos após e ali foi servido um grande almoço. Hora e meia a grande ponte sobre o Rio Paraibuna, na divisa com Minas. Ali estava afixada uma placa de mármore com a frase que D. Pedro II pronunciara em 1856, classificando a obra de “patriótica”.
 Nova partida e paradas em Rancharia e Mathias Barbosa.
 Diga-se que, em todas essas localidades houve festas, quando da passagem da comitiva imperial, estando às estações de mudas ornamentadas, acolhendo grande patê da entusiasmada população local.
 Em Juiz de Fora, foi apoteose.
 A viagem do Imperador desenrolou-se por 144 quilômetros. Demorara  mais de 12 horas. A viagem comum levava 10 horas.
 Estava inaugurada a parte final da grande via de penetração, que tantos benefícios iria carrear para o progresso do Brasil.

Claudionor de Souza Adão.
(Palestra proferida no Conselho Municipal de Cultura)


Referências:

- Centenário de Petrópolis – Trabalhos da Comissão
   Vol V - 235
   Vol II - 191
   Vol IV - 253
- Centenário da Inauguração da Estrada União e Industria - José Kopke Froés

   Jornal de Petrópolis, 23/06/1961

* Esse artigo foi retirado da Tribuna de Petrópolis, 14 de Julho de 1984.


Desenho de uma Diligência usada no percurso Petrópolis - Juiz de Fora, pela Estrada União e Indústria

Ponte de Entre-Rios, atual Três-Rios, da Estrada União e Indústria. Foto de R. H. Klumb, 1872