sábado, 27 de dezembro de 2014

O PRIMEIRO CASAMENTO CIVIL REALIZADO EM PETRÓPOLIS.


No dia 8 de junho de 1890, era instituído o primeiro casamento civil da cidade, a cerimonia foi realizado no paço da Intendência Municipal, na Avenida 15 de Novembro, atual rua do Imperador, o prédio ficava de frente para onde está erguido atualmente o Obelisco, anos mais tarde o casarão foi demolido.

Antes da celebração do enlace matrimonial regido pelo decreto-lei n. 181 de 24 de Janeiro de 1890, fora realizada a instalação do casamento civil. A cerimonia fora presidida pelo juiz de casamentos, o 1º juiz de paz de Petrópolis, o tenente-coronel Cândido José de Almeida, que foi quem solicitou o um Fórum para a nossa cidade, atuou como vereador e presidente da municipalidade no antigo regime de agente do Correio, autoridade policial e entres outros cargos públicos. Foi escrivão o tenente-coronel José Caetano dos Santos, oficial privativo de casamentos.

As testemunhas de tão solene ato foram, dr. Bernardido Xavier Rebelo de faria, dr. Gabriel José Ferreira Bastos e José Tavares Guerra, membros da Intendência Municipal, major Ricardo Narciso da Fonseca, secretário da Intendência e Felipe Bretz.

O juiz de paz, depois de proverir um breve discurso sobre o ato, declarou instalado o casamento civil em Petrópolis, neste termo, lavrando uma ata, segui transcrita abaixo:

“Ata da instalação do casamento civil no Termo de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. Aos oito dias do mês de junho do ano de mil oitocentos e noventa, em uma das salas da Intendência Municipal e das audiências do juiz de Casamentos, 1º Juiz de paz, Cândido José Vale de Almeida, presentes o mesmo, comigo escrivão e os cidadãos abaixo-assinados, o referido juiz declarou instalado o casamento civil neste termo. E para constar lavrei a presente ata, que vai por todos assinada. E, eu, José Caetano dos Santos, escrivão, o escrevi. (assinados) Cândido José Vale de Almeida. – B.X. Rebelo de Faria. – dr. Gabriel José Pereira Bastos. – José Tavares Guerra. – Ricardo Narciso da Fonseca. – Felipe Bretz”.

Após a instalação foi realizado o primeiro casamento civil, sendo o noivo, Carlos Alberto Gustavo Eckhardt, com 21 anos, era marceneiro e filho de Gustavo Eckhardt, criador da primeira Banda Musical de Petrópolis, a “Banda dos Gustavos” e de Margarida Eckhardt, morador da rua 13 de Maio e a noiva Ana Maria Esch, com 23 anos, filho de Frederico Esch e de Cristina Esch, moradora da rua Westphália, hoje rua Barão do Rio Branco. As testemunhas foram Henrique Sixel e Francisco Sixel.

A festa após o casamento foi realizada no Casino D. Izabel, posteriormente Casino Teatro Fluminense, já demolido. O salão estava repleto de amigos e familiares dos noivos que alegremente comemoravam este ato histórico, que marcou uma nova era na constituição da família petropolitana e brasileira.

Nesse mesmo dia também foi feito o casamento de Sebastião Arruda e Jovita de Paula.

O tenente Candido de Almeida após realizar os casamentos doou ao conselho de vereadores a caneta e pena com que foram escritos os termos desses dois atos. E foi assim foi inaugurado o casamento civil em Petrópolis.

Fontes consultadas:

 Artigo: “A instalação do casamento civil em Petrópolis.”, Jornal Tribuna de Petrópolis, Petrópolis, 8 de junho de 1917.

BRASIL. Decreto-Lei, nº 181, de 24 de Janeiro de 1890. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D181.htm> Acesso em 27/12/2014

RELATÓRIO DO GOVERNO PROVINCIAL DE 1846 FALANDO SOBRE A COLÔNIA DE PETRÓPOLIS

Obs: O texto foi transcrito respeitando a ortografia e a linguagem da época em que foi escrito, no século XIX.


RELATÓRIO DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO AURELIANO DE SOUZA E OLIVEIRA COUTINHO

(1º de maio de 1846)

Vendo eu porem por um lado, que as empresas para colônias agrícolas ou se offerecião desvantajosamente, ou tinhão mao êxito; considerando por outro, que o augmento da população livre exige a introducção de casaes,e não somente de homens solteiros: vendo que a província despende grandes sommas nas suas obras em hornaes á braços escravos, que convém antes não desviar da lavoura; considerando mais que alguns casaes de colonos empregados na importante obra da serra normal da Estrella podião melhor aclimatar-se ali, informando o núcleo de uma colônia na povoação denominada Petropolis, onde S. M. o Imperador, ordenando se aforassem terras a particulares, mandou edificar um palácio para sua residência de recreio, e de saúde no tempo de verão; contractei-me com a casa de Mr. Carlos Delrue, negociante de Dunquerk e ali vice-consul do Brasil (o qual havia feito proposições ao governo) a introducção de 600 casaes de colonos allemães trabalhadores, e officiaes dos officios de que mais se podia precisar, debaixo das condições explicitas, e restrictas, que se achão no contracto datado de 17 de Junho de 1844 pagando-se a 245 francos pelos adultos e metade pelos de 5 ate 15, e nada pelos menores de 5 annos.

Esta casa, tendo a principio encontrado difficuldades no engajamento de taes colonos com as restrições do contracto, julgou dever dar conta da sua commisão, e fazer um serviço ao paiz, e a si, sahindo um pouco fora das condições do mesmo contracto: assim He que por casaes entendeu famílias mais numerosas, em algumas das quaes não só comprehendeu os filhos, como também os pais de taes casaes, e alguns (mui poucos) maiores de 60 annos, quando o contracto estabelecia o Maximo de 40; dando por fundamento, ou escusa, que esses casaes, aliás vigorosos, e cheios de filhos uteis ao paiz, não querião vir sem serem acompanhados de seus pais. Igualmente fez a remessa quasi a um tempo, quando o contracto estabelecia prasos, para que podesse e governo ir com pausa acommodando os colonos. Resultou d’ahi achar-se o mesmo governo a principio algum tanto embaraçado com um numero maior de colono do que encommendára, se bem que todos muito morigerados, robustos, e industriosos, sendo o numero da gente moça entre 5 e 18 annos de ambos os sexos de 1200 individuos, e elevando-se a 2303 o total dos colonos importados em diferentes navios. S.M. o imperador, sempre sollicito pela prosperidade, e engrandecimento do seu império, logo que chegou de Dunquerk o primeiro navio “Virgine” trazendo a seu bordo 160 desses colonos, não só autorisou o seu mordomo a offerecer ao governo da província as suas terras de Petropolis para n’ellas se estabelecerem logo os mesmos colonos, visto que erão destinados aos trabalhos da serra da Estrella, como mesmo se dignou ir vel-os no arsenal da marinha quando indo de Nictheroy partirão para Petropolis, e lhes assegurou a sua proteção por meio de allocuções, que lhes mandou fazer,e de donativos pecuniários. Forão seguindo para o mesmo destino os mais que vinhão chegando, e á excepção de alguns casaes composto de 106 individuos que pedirão ao mesmo augusto senhor ir antes para a colocação de S. Leopoldo, onde tem parentes, e de outros que encontrarão logo empregos na corte, e arsenaes., achão-se todos os mais reunidos em Petropolis, onde munificência imperial, e as obras tanto da província, como da casa de S. M. Imperador, e dos particulares, que ali estão edificando, lhes garantem os primeiros soccorros, e meios de subsistência, emquanto os nãos adquirem pela sua industria, e lavoura, que começão a desenvolver com maravilhosa actividade.

Acha-se pois, sob os auspícios, e proteção de S. M. o Imperador, fundasda em Petrópolis uma colônia, que promete prosperar, e ser de muita vantagem á capital do impérionão só pelo lado da horticultura, e plantio de fructas, e cereaes, e creação de aves, com que pode abastecer o grande mercado de côrtes que lhe fica tão próximo, mas também por meio das artes mechanicas, de que pela abundancia de madeiras se podem ali estabelecer officinas, como ferrarias, marcenarias, tanoerias, etc; sendo igualmente um viveiro onde os particulares podem contractar officiaes de officios, creados, e operários industriosos. A colônia está assentada tanto no centro da povoação de um, e outro lado das ruas (as quaes tem de largura, uns 100 palmos, sem rio, e outras 150 palnos com os rios encanados no centro, sendo este encanamento de 20 palmos de largura, que permittirá navegação por todo o povoado) porém também, e muito principalmente se estende pelos suberbios da referida povoação de um, e outro lado de 3 principaes rios, e seus confluentes, que correndo placidamente banhão as terras da fazenda imperal do Corrego Secco, e da denominada “Quitandinha”, offerecida para esse fim a S. M. o Imperador pelo Major Julio Frederico Koeller, que na distribuição das terras, collocação dos colonos, construcção de suas casas, e todos os mais arranjos necessários, desenvolveu uma actividade, e zelo dignos de elogios.

Foi em 29 de Junho do anno findo, dia de S. Pedro, padroeiro da futura parochia petropolitana, que ali chegarão os primeiros collonos allemães. Então, excepto os terrenos collateraes á estrada, esses mesmos somente em parte, descortinados, era Petrópolis uma mata virgem: hoje, que mudança extraordinária! Ruas, e praças traçadas no seu centro, e já em parte edificadas; os rios tortuosos correm encanados pelo meio das tres ruas principaes; descobrirão-se 24 rios maiores, e menores no interior, todos affluentes do Piabanha; ás margens d’elles, de um, e de outro lado abrirão-se ruas próprias a transitar seges logo que estejão aperfeiçoadas; deixando-se todo o arvoredo natural, que borda esses rios, o que os torna uma extensa alamenda tortuosa muito pitoresca, alem de útil; aos lados d’essas ruas estão edificadas as casas, e marcarão-se prasos de 50 braças de frente aos colonos, que se querem dedicar mais á agricultura, como tudo se mostrará melhor da carta junta a este relatório, que mandei levantar lithographar para dar uma ideia mais exacta d’esta colônia, na persuasão em que estou, de que para animar a emigração livre, e industriosa, primeira necessidade do paiz, faço com isso mais serviço, do que aquelles que alterando a verdade dos factos buscão por mil modos desconceitul-a. S. M. o Imperador deu um fortíssimo impulso ao desenvolvimento desta colônia, e povoação de Petropolis, não só mandando distribuir terras, sementes, e animais pelos colonos, como ordenando ali a construcção de um engenho de serrar em ponto grande, movido por agua, obra muito proveitosa, que faculta a todos os moradores, e empreendedores de prédios poderem serrar taboados, e madeiras por preços muito baixos, facilitando assim as consrucções em um lugar, que pela salubridade proverbial dos ares e aguas tem de chamar a si muito brevemente casas de saúde, collegios de educação, casas de recreio, etc; o que tudo deve muito concorrer para a prosperidade da colônia. Divide-se ella em 12 quarteirões, que tomara o nome dos lugares, d’onde são oriundos os colonos que o habitão. O total da colônia, e povoação de Petrópolis , entre nacionais, e estrangeiros, sobe já a 2101 individuos, a saber, 1921 alemães, 83 brazileiros, 61 portuguezes, 15 francezes, 7 inglezes, 5 hespanhoes, 4 dinarmarquezes, 3 hollandezes, 1 suisso, 1 italiano. Dos alemães são colonos obrigados á província 1818.

 Existem 410 famílias, 112 individuos solteiros; 1116 do sexo masculino, 941 do feminino; 1390 catholicos, 711 evangélicos, 289 meninas até 10 annos de idade, 200 raparigas de 10 até 18 annos; 452 mulheres casadas, e solteiras d’esta idade para cima; 31 viuvos, ou viúvas com filhos; 8 viuvos ou viúvas sem filhos.

Tem-se disribuido em Petropolis 616 prasos, dos quaes 466 tocão a colonos. Os prasos são de 4ᵃ classe; os de 1ᵃ tem ordinariamente 10 braças de frente e 70 de fundo, occupão a frente das ruas, e praças da futura villa Imperial em roda do palácio do Imperador; d’esta classe de prasos há 216 dos quaes 92 estao dados, e 124 por dar, existindo 106 requerimentos de pessoas que os pedem; estes prasos tem naturalmente de ser ocupados por negociantes, artistas, e pessoas da corte, que quiserem passar o verão no clima temperado da serra. Os de 2ᵃ classe occupão os terrenos do surburbio chamado villa Thereza mais próximo ao alto da serra, tem 15 braças de frente e 100 ou mais de fundo, e devem ter mesma aplicação que os antecendentes são 26 e não estão ainda distribuídos. Os de 3ª. Occupão as beiras da estrada geral não compreendida pelos anteriores; tem 15 braças de frente com 70, ou 100 de fundo; são destinados a artistas, que não se ocuparem muito da lavoura, o seu número he de 169, já estão dadas 131. Os de 4ª. Occupão os terrenos do interior, tem 50 braças de frente. S. M. o Imperador mandando distribuil-os com um fôro muito módico, isentou os colonos d’esse mesmo fôro por espaço de 8 annos. Além do numero declarado de prasos há ainda uma superfície de 2.644.000 braças da imperial fazenda do Corrego Secco para subdividir em prasos; outra de 2.340.000 braças da fazenda denominada “Quitandinha”; e 2.250.000 braças da sesmaria vizinha denominada Velasco, que pertencendo aos domininos nacionais podem ter o útil destino de serem distribuídas a colonos, que prefazem o numero de 7.236.000 braças, podem colocar-se 1.400 familias, ou 4.000 almas; e que he ardente voto de todos os colonos de Petropolis, que o governo provincial faculte a seus parentes, e amigos, que ficarão na Allemanha, o virem reunir-se a eles, para o que estão prontos a dar uma lista nominal de taes pessoas, e a lhes apromptar as casas para os receberem, se o governo os mandar vir a expensas suas. Emquanto porem a colônia não estiver mais enraizada julgo conveniente animar por ora somente a emigração para que ella prospere.

As terras, se não boas para café e milho, são execellentes para uma infinidade de produtos, cuja cultura convêm promover em ponto grande, como sejão o centeio, o feno, a alfalfa, e sobretudo o chá da Índia, que se dá maravilhosamente em taes terrenos, além dos muitos cereaes e fructas européas, e do fabrico de queijos, e manteiga, que tem de achar grande, e prompto mercado na capital do império, tão próxima da colônia, que d’ella se pode vir, e voltar no mesmo dia, logo que as barcas de vapor naveguem com regularidade, e a todas as horas do dia para o porto da Estrella. Já hoje sahindo-se da corte ao meio-dia, ás 6 horas da tarde se está muito comodamente emPetropolis; pois que a viagem por mar em vapor he de 2 e meia horas, e d’aquelle porto á colônia, não hvendo 4 léguas, gastão-se 3 e meia, e menos ainda.

Todos os que tem visitado a colônia reconhecem a imensa superiodade do trabalho d’estes homens sobre o dos escravos, especialmente adoptado e ethodo que se seguido de os fazer trabalhar por empresas, ou ajustes. O beneficio he notório, o operário fica livre de trabalhar nas suas obras prticulares, e nas da província como, e quando queira, e de levar ou não a sua família a coadjuval-o. A obra não carece de apontador, nem de mandante. O engenheiro directto para esclarecer, e comprovar este facto informa, que as cavas (por exemplo) em meio morro com transportes até 70 passos, e as escavações em planície com altura de 10 palmos, erão avaliadas por todos os engenheiros da província, e comtempladas nos contractos á razão de 10$ a braça cúbica. Os colonos as fazem a 4$, e ganhão de 1$400 a 2$000 por dia para si, emquanto o escravo só ganha 600 ou 800 rs. para seu senhor. A vinda dos colonos (informa o mesmo director) traz grandes melhoramentos também no artigo “ferramentas”; a enchada portugueza, o machado e a pá pequena, bem como os instrumentos próprios da carpinteria taes quaes se usão entre nós. Não fazem no mesmo espaço de tempo, nem tanto, nem tão bom serviço, como os de que usão os colonos. Procura-se em Petropolis fabricar d’estas ferramentas, e introduzir o seu uso.

Em Novembro do anno passado fui visitar esta colônia em companhia do mordomo da casa imperial, que no cumprimento das ordens de S. M. o Imperador relativas á povoação de Petropolis, e ao auxilio, e protecção aos colonos, tem mostrado um zelo incansável. A presença de dous delegados do soberano, que ião ver esse nascente estabelecimento, e provar a suas mais urgentes necessidades, enthusiasmou os colonos, que por mil innocentes, e variados modos mostrarão seu contentamento entoando hymnos em louvor, e agradecimento ao Imperador do Brasil, que tão benignamente os acolhia. Então todas essas laboriosas, e morigeradas famílias pedirão-me como primeiro beneficio ser considerados cidadãos brasileiros, ter escolas para educação de seus filhos, e parochos, ou pastores de suas religiões. Quanto á primeira cousa tenho exposto ao governo imperial a conveniência de se pedir á assembleia geral legislativa uma medida, que declare cidadãos brasileiros todos os colonos, que se estabelecerem em terras distribuídas pelo governo, ou que a expensas d’este forem chamados ao império para o povoarem, e exercerem indústrias; medida tanto mais necessária para facilitar a emigração, quanto um dos primeiros artigos da lei, que permite, e regula a emigração na Allemanha, determina que nenhum allemão poderá licitamente emigrar para um estado qualquer sem que n’elle seja reconhecido cidadão. Quanto à segunda, e terceira dependem ellas de vossa coadjuvação; e são todas uteís e necessárias, que eu não duvido acreditar, autirusarieis o governo tanto para estabelecer na colônia as escolas primárias de ambos os sexos que forem precisas, como para mandar contractar dous pastores um catholico, e outro evangélico, pagando-lhe as passagens, e garantindo-lhes um ordenado razoável. Esta providencia adoptada de acordo com o governo do estado da Allemanha, onde taes pastores forem contractados, atrahirá por si só á colônia de Petropolis uma emigração espontânea, sobretudo sabendo-se n’esse estado que aos emigrantes se distribuirão terras. Á vista de estatística da população da colônia, da muita mocidade que nella existe, e vem vindo pela natural fecundidade das mulheres alemães, e attentas as distancias, em que ficão os differentes quarteirões, é fácil calcular, que são indispensáveis quatro mestres de meninos, e 4 mestras de meninas na nascente villa, ou cidade Petropolitana, que se vai levantando tão rapidamente, e como por encanto; e talvez convenha mandal-os também contractar na mesma ocasião, e no mesmo estado, em que forem os pastores religiosos.

Grande parte dos colonos de Petrópolis são súbditos do Grão-Ducado de Hesse, um dos mais civilizados, ricos e povoados da Allemanha, e que tendo precisão de promover, e regularisar a emigração, é também interessado em enviar para esta colônia indivíduos próprios a exercer as sagradas funcções de curas, e de mestres.

No intuito de estabelecer entre os colonos o espírito de ordem, economia, e socorro reciproco, e bem assim para aliviar os cofres públicos de maiores despesas, adoptei o projecto de uma caixa comum para a qual concorrem espontaneamente todos os colonos, e habitantes de Petrópolis, afim de se socorrerem mutuamente, fundarem seus templos, uma casa de caridade, &c, projecto que lhes foi apresentado pelo director da colônia o major J. F. Koeler, que os colonos abraçarão com enthusiasmo, e que mandei por em execução com as alterações, que entendi dever fazer-lhes para estabelecer maiores garantias aos contribuintes na gerencia, e administração por elles mesmos de seus fundos, com a suprema inspecção do governo.

Para essa caixa deve igualmente concorrer o governo com alguma somma anual, ao menos emquanto não forem fundados esses estabelecimentos de primeira necessidade. He pois mister que autoriseis o mesmo governo para continuar a fazer com esta colônia aquellas despesas, que forem indispensáveis para a sua manutenção, por conta do credito concedido pela lei de 10 de maio de 1840, que tendo sido aberto somente por espaço de 5 annos, convem que seja para esse fim prorrogado. Persuadido da importância d’este assumpto, para a futura prosperidade, e grandeza do império, não duvido acreditar que prestareis ao governo da província toda a vossa eficaz, e valiosa cooperação no empenho de chamar ao paiz por todos os modos possíveis a maior emigração livre, e industriosa. Um paiz imenso, e tão rico em productos, não tem que receiar a sua dívida, se chamar a si o mais rapidamente possível braços, que em breve a pagarão, augmentando as riquezas particular, e pública.

 

Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho

1º de maio de 1846
 
 
 
Fontes consultadas:
Arquivo Histórico de Petrópolis - Biblioteca Municipal Central Gabriela Mistral
Imagem:

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A FUNDAÇÃO DO CLUBE 29 DE JUNHO

Presentes representantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Nova Friburgo – A benção da Bandeira com água dos principais rios de Petrópolis.

Segunda feira às 16:30 horas no salão nobre da Câmara Municipal de Petrópolis, teve lugar a sessão solene de fundação do CLUBE 29 DE JUNHO, que se destina a congregar descendentes dos colonos de Petrópolis.
A sessão solene foi das mais concorridas dos últimos tempos a ela comparecendo grande número de autoridades, convidados e descendentes dos colonos.
A reunião foi presidida pelo dr. Guilherme Auler, que convidou para fazerem parte da mesa as seguintes autoridades e pessoas:
Dr Nelson Sá Earp, prefeito de Petrópolis; dr. Paulo Hervé, presidente da Câmara Municipal de Petrópolis; Príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança; dr.  Antonio Neder, Juiz de Direito da 1ª Vara de Petrópolis; coronel Manoel Mendes Pereira, comandante do Batalhão dom Pedro II; dr. Von Beyme, representante dos descendentes dos colonos de Nova Friburgo, Jarbas Braga Secretário de Fazenda da Prefeitura; Frei Joel e Frei João de Deus, representantes dos descendentes dos colonos do Rio Grande do Sul; professor Henrique Pedro Zimmermann, representante dos descendentes dos colonos de Santa Catarina e Paraná, Vereadores José A. Cardoso de Lemos, José Manoel Dias Filho, Manoel Antonio Brand, João Francisco, Rubens de Castro Bontempo e Flávio Bessa,; Antonio Augusto Gonçalves Pereira, Vice-Cônsul de Portugal; professor Alfredo Carlos Shimaiz, representante dos descendentes dos colonos de Pernambuco; Luiz José Sterlling, representante dos colonos de Minas Gerais; dr. Galileu de Araújo, representante do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem; Mário de Freitas presidente da Sociedade Coral Concórdia; Salvador Kling, representante da Sociedade Recreativa Harmonia Brasileira; Antonio Francisco Carvalho Filho, presidente da Associação dos Ex-Combantentes da F.E.B.; Frei Estanislau Schaette; professor Jordão Emerenciano, diretor do Arquivo Público de Pernambuco; professor José Honório Rodirgues, diretor do Arquivo Nacional; Gustavo Bauer, dr. Basílio Bretz, Pedro Hees, Dulce Carolina e Walter Bechtluft.

DISCURSOS  
Ocuparam a tribuna as seguintes pessoas:
Guilherme Auler para dizer aos presidentes da finalidade do Clube 29 de Junho; Pedro Hees, saudando os visitantes; tenente Monerat, trazendo o abraço dos descentes dos colonos de Nova Friburgo; Frei Joel e Frei João de Deus manifestaram a alegria dos descendentes dos colonos do Rio Grande do Sul; Henrique Pedro Zimmermann, representando os descendentes dos colonos de Santa Catarina e Paraná; Alfredo Carlos Schimaiz, interpretando o pensamentos dos descendentes dos colonos de Pernambuco; Luiz José Sterling pelos descendentes dos colonos de Minas Gerais; Jordão Emerenciano, entregando às autoridades de Petrópolis os primeiros exemplares do livro “A Companhia de Operários” de Guilherme Auler, editado pelo Governo de Pernambuco; vereador José Cardoso de Lemos pela Câmara Municipal de Petrópolis; Nelson de Sá Earp, em nome do Poder Executivo Municipal; Von Beyme em nome da Embaixada Alemã e, finalmente Guilherme Auler agradecendo a presença de todos.

BENÇÃO DA BANDEIRA
Com água colhidas nos três principais rios de Petrópolis (Quitandinha, Piabanha e Palatinato), Frei Estanislau Schaette (O.F.M) procedeu a seguir a benção da bandeira do Clube 29 de Junho, a`qual foi conduzida ao plenário pelas sras. Joana Esch Esternach , Maria Carolina Auler Pfeiffer e Olga Eckhardt Pfeiffer, descendentes dos primitivos colonos de Petrópolis e depois entregue a tres belas meninas de cabelos loiros da quinta geração dos colonos.

HINO NACIONAL
Com a execução do Hino Nacional, cantado por todos os presentes, encerrou-se a memorável sessão solene de fundação e instalação do Clube 29 de Junho.

CORTEJO ATÉ A CORAL
Com a Banda de Música do Batalhão Dom Pedro II à frente realizou-se, sob aplausos do povo, o desfile dos participantes da reunião até a sede da Coral Concordia, na rua 13 de Maio, onde foi servida a ceia e exibiu-se o Coral do Clube 29 de Junho.
O sr. Henrique Mayworm conduziu a bandeira do clube da Praça Visconde de Mauá à rua 13 de Maio.

BANDA DO 1° B. C.
A excelente Banda de Música do 1º Batalhão de Caçadores executou diversos e aplaudidos números musicais.

Fonte:

Tribuna de Petrópolis, 1 de Julho de 1959.


sábado, 13 de setembro de 2014

JOSÉ REUTHER, O PROFESSOR PARALÍTICO DA MOSELA

MORRE JOSÉ REUTHER – O PROFESSOR PARALÍTICO DA MOSELLA

 A morte, a 21 do corrente, de José Reuther, teve larga e dolorosa repercussão, tão conhecido se tornara, na cidade, o nome do “aleijadinho da Mosella”.
 Acometido de uma enfermidade que lhe paralisara os movimentos Reuther nunca teve uma palavra de revolta contra o cruel destino. Resignado, jamais deixou escapar qualquer blasfêmia em face que suas condições lhe impunham e na qual, por certo, encontraria amparo dos corações generosos.
O inditoso conterrâneo procurou trabalhar e se tornou sobremodo útil. Inteligente, estudioso, aproveitou muito as lições de seus mestres e, então, também se fez professor, ensinando as primeiras letras a um sem números de crianças que sucessivamente passaram pelos pobres bancos de sua escola. Numa cama, onde se lhe prolongavam os sofrimentos sem que ele se queixasse do infortúnio dirigia os trabalho todos os dias.
Um dia, na ânsia de tornar mais eficiente e menos dispendicioso o ensino a seus pequenos , Reuther pleiteou ao governo do município um auxilio à sua escola “Escola Tudo pela Pátria”. Nessa ocasião como prefeito o sr. Carlos Magalhães Bastos e como diretor de Educação, o Dr. Nereu Pestana Rangel, e por louvável gesto de benemerência, de humanidade e de justiça, da parte destes distintos cavalheiros, o paupérrimo colégio obteve uma subvenção mensal de 200$000, concedida pelo então prefeito Cardoso Miranda e mantida até agora.
José Reuther, que contava com 49 anos e vivia também da venda de imóveis e objetos, do que se encarregava por meio de pequenos anúncios nos jornais dos quais ele próprio fazia o preço, era solteiro, fazendo-se sempre cercar de seus alunos e amiguinho. Porque era um bom, um virtuoso, um cidadão que merecia todos não só piedade, mas também acatamento.
“Pequena Illustração” tinha nele grande admirador que fez questão de assinar o semanário, ao qual de vez em quando nos dava noticia de sua escola. Em cada aniversario do jornal era um dos primeiros a nos felicitar,e quando já estranhávamos não haver surgido um cartão seu a proposto de nossa grande edição, surpreendeu-nos a noticia de seu passamento-epílogo de uma existencia dobrada ao peso de dores físicas e morais, porem ao mesmo tempo, a lhe iluminar a alma, bela e nobre exemplo de Patriotismo, humildade, trabalho, perseverança e sobretudo, de extrema resignação.

Fonte: Jornal – “Pequena Illustração” de 27 de setembro de 1942




sexta-feira, 28 de março de 2014

A MATRIZ VELHA DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA EM PETRÓPOLIS

- A MATRIZ VELHA -

João de Petrópolis pseudônimo de Walter João Bretz.

Publicado na Tribuna de Petrópolis em 25 de Maio de 1926.

 Brevemente dir-se-á a ex - Matriz-Velha, pois terá desaparecido o venerado templo católico, o primeiro dos que existem nesta cidade.
 As obras da sua demolição iniciaram-se a 9 de Março ultimo e, a 27 de Abril deste ano, o leiloeiro Augusto Pinto de Carvalho vendeu, ao correr do martelo, os materiais de construção aproveitados da veterana igreja.
 Com grande pesar, os velhos e incorrigíveis cultuadores das tradições da cidade assistiram a esse cena, que aliás, não pode efetuar-se na data originalmente fixada, 23 de Abril, por haver chovido, ficando assim transferida a praça.
 Parece mesmo que a própria natureza não quis conforma-se com a resolução dos homens a serviço do progresso; e, derramando as duas lágrimas, em forma de chuva, adiou por mais algumas horas a dispersão dos materiais da velha Matriz pelos quatro pontos da cidade serrana.
 Apenas para fixar a data do desaparecimento da mais antiga das igrejas locais, resolvi escrever este apanhado de notas que relembrará alguns fatos ligados à história local.   
 Digo propositalmente a mais antiga igreja “desta cidade” visto que, na área que, primitivamente, formava o nosso município, houve uma outra capela bem mais velha. Existia esse templo no lugar denominado “Rio da Cidade”, no 2° distrito municipal; e, construída por Manuel Antunes Goulão, sob a invocação de “Nossa Senhora do Amor de Deus”, foi benzida em 29 de Outubro de 1751, tendo tido a faculdade de usar a pia batismal em favor dos moradores do lugar.
 A provisão para a respectiva construção fora concedida em 29 de Outubro de 1749, ao referido Goulão, a quem haviam sido dadas em sesmarias as terras correspondentes, deste a fazenda do Itamarati até Pedro do Rio.
 Voltando, porém, ao assunto desta crônica, direi que o território da primitiva colônia de Petrópolis, formava um curato que foi desmembrado da freguesia de São José do Rio Preto, município da Paraíba do Sul, passando para a Vila da Estrela pela lei n. 397 de 20 de Maio de 1846, que elevou o mesmo curato à categoria de freguesia, sob a invocação de “São Pedro de Alcântara de Petrópolis”. Isto há, pois, oitenta anos, na data de hoje.
 Os primeiros atos da novel paróquia foram celebrados em dependências do próprio provincial, que existiu outrora entre as ruas D. Januária e D. Francisca, no local onde está presentemente o fórum. (Atualmente prédio do CEFET, na Rua do Imperador).
 Este edifício era de construção térrea e abrangia o espaço compreendido entre o atual prédio do Banco Construtor do Brasil e a esquina da Rua General Osório.
 Ficavam nele instalados o quartel do destacamento policial, com um largo portão, onde se guardavam a bomba de incêndio; a cadeia pública, cujas grades davam para a rua do Imperador, de modo que os presos podiam ser vistos e conversar com os transeuntes; a delegacia e subdelegacia de policia; o depósito das obras públicas, e, finalmente as dependências comumente ocupadas por uma das escolas públicas da Província do Estado. Em carias épocas estiveram, também localizadas na vetusta edificação, a agência dos correios, a casa de Caridade, o Liceu de Artes e Ofícios e diversas repartições publicas. Oficialmente chamavam aquilo os “os quartéis da colônia”, mas o povo aplicava ao conjunto o nome de “ a nação” por ser uma propriedade do governo.
 Nessa casa, que, no correr dos anos, foi tendo, como vimos acima, as mais variadas aplicações, ficou nos primitivos tempos da Colônia, preparada uma sala, na qual todos os domingos o pároco rezava o santo ofício da Missa e, no mesmo local, em outro dia da semana ou em hora diferente, o pastor protestante também celebrava o seu culto divino.
 Essa fase da vida petropolitana teve os seus aspectos bem interessantes, tanto que o mordomo do Palácio Imperial, conselheiro Paulo Barbosa quis erigir uma igreja comum a todos os cultos cristãos, a exemplo do que se praticava na Alemanha, onde os reformados permitiam aos fieis de outras crenças, inclusive os romanos, a utilização de seus templos.
 Dizem que este projeto não prevaleceu ante os obstáculos que lhe opôs o internuncio apostólico, monsenhor Fabrini, apoiado pela intransigência da camareira-mor do paço imperial.
 Em todo o caso, reinava entre os colonos, a mordomia do palácio e a diretoria da Colônia um pronunciado espírito de concórdia que tornava possível cogitar de matéria aparentemente tão melindrosa de encarar.
 Na Matriz provisória realizavam-se com relativa imponência os atos eclesiásticos, notadamente a festa do padroeiro da freguesia e os grandes dias da religião.
 Ali, exerceu o seu ministério vicarial o cônego Luiz Gonçalves Dias Côrrea, que foi o primeiro pároco da freguesia de Petrópolis e, sob cuja direção espiritual já se achava a localidade, mesmo como simples curato.
 Era, entretanto, impossível que continuassem em tão precária instalação os serviços divinos da Colônia, tendo especialmente em vista que os alemães insistiam pela prometida assistência religiosa , a par das escolas, de que não queriam prescindir  na sua nova pátria e da qual, segundo os três pedidos feitos ao conselheiro Aureliano Coutinho, presidente da Província, também desejavam ser considerados cidadãos.
 O major Julio Frederico Koeler, diretor da Colônia, desde logo incluíra nos planos da construção da cidade o levantamento de uma igreja matriz condigna, tendo sido deseigando para esse fim o terreno cedido pelo imperador D. Pedro II, desde 1845, no “Morro do Belvedere”. Por esse nome designava-se o logradouro público que, por deliberação do Conselho de Intendência Municipal, passou a denominar-se, em 25 de Julho de 1891, a “Praça São Pedro de Alcântara”, muito embora o povo preferisse sempre chama-lo o “Morro da Igreja”.
 Toda a gente previra, entretant, desde logo, que do projeto à realização da ideia muito teríamos de caminhar e que a sua execução dilatar-se-ia pelos tempos afora. Os fatos vieram confirmar o prognostico dos nossos antepassados, pois somente oitenta anos à fundação da cidade e cinqüenta depois do lançamento da primeira pedra fundamental da Nova Matriz é que esta passou a ser a sede da paróquia, muito embora ainda estejam longe de sua conclusão as obras respectivas.
 Antevendo uma grande demora na edificação do templo planejado, os fundadores de Petrópolis preferiram adotar uma solução praticamente mais viável e de alcance imediato para o bom andamento da vida religiosa do lugar. Essa solução estava em dotar a Colônia, mesmo provisoriamente, com um templo mais modesto, uma simples capela, por exemplo.
 Daí surgiu a ideia de adaptar-se convenientemente, para o fim desejado, o barracão existente à rua da Imperatriz e cujo destino fora originalmente o agasalhamento e recebimento dos colonos alemães, antes da respectiva instalação nos diversos quarteirões.
 Aceito esse alvitre pelo imperador D. Pedro II e pela administração provincial, o major Koeler encarregou o empreiteiro de obras, Justino de Faria Peixoto, de construir a Matriz velha.
 O mestre Justino, que residia à rua do Imperador, numa casa onde durante muitos anos morou depois o finado tabelião João Cordeiro do Carvalho (na Rua do Imperador), deu inicio às obras a igreja de 1847 e concluiu-as em 1848, passando, nesse mesmo ano a funcionar no templo que ora está em demolição, a paróquia de São Pedro de Alcântara.
 Por mais de setenta e sete anos, pois, a palavra divina ecoou naqueles vestustas arcadas, sob as quais gerações seguidas de católicos petropolitanos receberam os sacramentos da Igreja e os ensinamentos de seu credo.
 A Matriz Velha está bem enraizada no coração do povo e as suas tradições que são, em boa parte, as da própria cidade, permanecerão perpetuamente na memória dos nossos conterrâneos.
 Muitos dos mais idosos que ali foram batizados e casados e também, naquele recinto assistiram ao batismo, à comunhão, à crisma e ao casamento de filhos, netos e bisnetos, por isso mesmo, não se conformam com o desaparecimento daquele tabernaculo das suas mais gratas recordações.
 Sob as inspirações divinas, quantas venturas não foram ali argamassadas com as bênçãos celestiais; e quantas róseas esperanças carinhosamente cultivadas, naquele sitio não se terão esboroado há inconstância das coisas humanas?
 Tudo o que a família católica de Petrópolis construiu nestas quase oito décadas terá de procurar os seus alicerces na Matriz Velha, que, por poucos dias, ainda existirá na mudez de quatro paredes, expostas ao tempo e à próxima destruição do alvião inclemente do progresso.
 Tudo isto, porém, não são palavras vãs, que o vento leva, como hão de ser consumidos os últimos vestígios da igreja dos nossos antepassados, afim de que se cumpra, em toda a plenitude a sentença irrecorrível: “Pulvis es et in pulverem reverteris”.
 Data de 1848, o primeiro sino inaugurado na Matriz, sino este que ainda existe e está atualmente na Catedral.
 Esse sino, no qual está fundida uma imagem do Anjo da Guarda, serve para tocar as “Ave-Marias”.
 Chamava-se, por esse motivo, o sino do “Angelus”, segundo me informa pessoa conhecedora do assunto.
 No regime da religião oficial, as obras da Capela-Matriz estiveram sempre aos cuidados da Superintendência da Fazenda Imperial e da província do Rio de Janeiro.
 Aquela, por exemplo, instalou, em 1854, a grade e a cancela de balaustras, torneados na linha divisória da igreja, com a capela-mor. Essa grade, ao que se diz, é a que existiu até ultimamente; e, apesar de sua simplicidade material, encerra um relevante valor histórico, pois foi junto dela que os fieis petropolitanos, a começar pela família imperial, receberam, aos milhares, o sacramento da Eucaristia.
 Por isso mesmo, o conhecido construtor de obras sr. Heitor Levy, que está demolindo a igreja, nem gesto muito piedoso, retirou da alçada do leiloeiro, essa e outras peças, igualmente respeitáveis do templo.
 Lemos numa obra sobre Petrópolis, que, em 1865, a Matriz fora reedificada e decentemente arranjada, gastando-se nessas obras a soma de 12:000$, cuja metade foi fornecida por uma subscrição promovida entre os petropolitanos e os seus hospedes, e a outra metade pela administração provincial.
 “Aliás”, diz a mesma obra, “essa capela é somente provisória, devendo edificar-se matriz condizente com o número de fiéis e importância a cidade, na eminência já indicada ( o morro do Belvedere), servindo depois a capela para templo do culto reformado, cujos sectários até hoje não tem podido celebrar os seus ofícios senão em sala particular alugadas para esse fim.”
 Von Tschudi, em sua obra “Reisen durck Sudamerika”, dizia em 1866, referindo-se  à Matriz de Petrópolis, “que ela mal ultrapassava das dimensões de uma capela, sendo mesmo designada pelo título de Capela de São Pedro de Alcântara”. É  de uma simplicidade primitiva e demasiada pequena para as necessidades de Petrópolis.
 A construção de uma Matriz na entrada da rua Joinville, no quarteirão Francês, aliás, já está há algum tempo projetada, mas terá de aguardar, por tempos, a sua execução. No caso de realmente ser construída a igreja, deverá a atual capela ser destinada para o serviço divino protestante, que agora é celebrado na escola em ruína.”
 O coro, como ultimamente se achava, a julgar por uma inscrição existente nos respectivos barrotes, assinalando o dia 28 de Setembro de 1876, deve ter sido reformado naquele ano.
 Em 1895, começou, no dia 31 de Janeiro, a construção da torre, que se ergue ao lado esquerdo do templo. Naquela época foi também construído nos fundo da igreja o consistório novo e instalado o grande sino de “S. José”, isto durante a provedoria do capitão José Lopes de Castro.
 A construção da torre ficou assinalada por um desastre, tendo dela despencado para a rua o sr. Brandão, que fazia parte da administração da Irmandade.
 Em 1898, durante o vicariato do padre Valença, a Matriz passou por uma geral reforma, tendo sido modificado, em parte, o interior, pintada a parte interna e ampliada as dependências do templo.
 Nessa ocasião foram executadas, por um artista italiano, as telas do teto, representando os dozes apóstolos e das quais ainda existem nove: as de S. Tomé, Simon, João, Bartolomeu, Felipe, Jacob I, André, Mateus e Jacob II, faltando as de S. Pedro, S. Paulo e S. Marcos, que a ação do tempo prejudicou.
 Foram então construídos os quatro nichos laterais, nos quais ultimamente era cultuadas as imagens de Nossa Senhora das Dores, a mais antiga das existentes; e Santo Antonio,à direita do alta-mor; e Nossa Senhora da Conceição e São Benedito, à esquerda.
 Na capela-mor, presidia ao altar principal a imagem de São Pedro de Alcântara, como padroeiro da freguesia, que tinha, ao lado direito, São Geraldo e o Sagrado Coração de Jesus, este num nicho; e à esquerda, São Sebastião e Nossa Senhora da Soledade, ficando esta também num nicho.
 No seu “Dicionário Geográfico”, Moreira Pinto referia-se às imagens da Matriz, dizendo que ali existiam três altares, isto antes da reforma do padre Valença: São Pedro de Alcântara, São José e Nossa Senhora das Dores.
 No de São José, lia-se a inscrição: “Ite ad Joseph et quid ipse vobis dixerit, facite”, e na de Nossa Senhora: “Nobis lutem conferant Dei parae tot lacrimae.”
 Do lado exterior da Matriz em dois nichos, existiram primitivamente duas estátuas de gesso dos apóstolos São Pedro e São Paulo, substituídas mais tarde por duas outras, a do Coração de Jesus e de Nossa Senhora de Lourdes.
 Essas imagens, como as demais da igreja, estão sendo ao que ouvimos, distribuídas por outros templos, visto terem de obedecer ao estilo próprio da nova Matriz as que ali forem sendo colocadas.
 Depois da reforma executada pelo padre Valença, em 1898, somente uma outra obra de conservação terá sido feito no velho templo, o que aliás, se justificava pela iminência em que se encontrava sempre a paróquia de ser, de uma para outra hora, instalada na sua nova sede, o que, logicamente, não aconselhava despesas supérfluas e dispensáveis.
 Em 19 de Outubro de 1899, inaugurou-se a nova capela do Santíssimo Sacramento, construída aos fundos e à direita da igreja.
 Essa dependência, aliás, pouca utilização parece ter tido, havendo ultimamente estado ali instaladas durantes alguns tempo as oficinas do “Centro da Boa Imprensa”, antes da sua mudança para a antiga “Casa dos Semanários”, do Palácio Imperial, à atual rua Dr. Joaquim Moreira.
 Subentenda-se, ao ler estas linhas, que estamos publicando apenas apontamentos esparsos sobre a tradicional igreja, mesmo porque referir-lhe a crônica detalhadamente seria reproduzir a historia da cidade, em boa parte.
 Depois do vicariato do cônego Corrêa, que pastoreou o rebanho petropolitano de 1846 a 1854, foram párocos na velha Matriz os seguintes sacerdotes:
 Padre Antonio José de Melo, de Janeiro até Dezembro de 1855
Padre João Higino de Carmago Lessa, de 1856 e 1857
Padre José Domingues Nogueira da Silva, de 1857 até Junho de 1858.
Padre Nicolau Germain, de Junho de 1858 até Julho de 1878, substituído apenas, em 1869, durante uma viagem à França, pelo padre Dr. Pedro Peixoto de Abreu Lima, que ficou como pro-pároco.
 Padre Teodoro Esch, de Julho de 1878 até 1890, tendo sido substituído, em 1889, enquanto viajava na Alemanha, pelo padre Vito Maria Jurno, pro pároco.
 Padre Antonio Maria Correa de Sá, de Janeiro de 1891 a Março de 1896, tendo ficado, em sua ausência como encarregado da freguesia, por pouco tempo, o padre Tomáz Aristoteles Guizan.
  Padre Isidoro Monteiro, de 11 de Março a Setembro de 1896. Ao que afirmam, este religioso da Congregação da Missão era petropolitano, e teria sido assim o único dos nossos conterrâneos a quem coubesse dirigir espiritualmente a paróquia natal.
 Monsenhor Agostinho Francisco Benassi, atual bispo desta diocese (1926), 26 de Setembro de 1896 até Dezembro de 1897.
 Monsenhor Dr. Antonio Macedo Costa, de 23 de Dezembro de 1897 até a nomeação do novo vigário, regeu a freguesia, como encarregado.
 Padre  José Joaquim Valença, de Janeiro de 1898 até Fevereiro de 1901.
 Monsenhor Teodoro da Silva Rocha, de 2 de fevereiro de 1901 até a sua morte, em 22 de Fevereiro de 1925.
 Padre Leon Andrieu, coadjutor da freguesia, na vacância, de 22 de Fevereiro a 21 de Abril de 1925; e, finalmente, o atual vigário, padre Conrado Jacarandá, que exerce o seu cargo desde 21 de Abril de 1925, tendo sido nomeado a 30 de Março precedente.
 Desses vigários, o primeiro, cônego Corrêa, e o penúltimo, monsenhor Rocha, foram acometidos do mal que os vitimou, quando, dentro da velha Matriz, exerciam o seu sagrado ministério.
 A Agostinho Benassi coube a tarefa de receber na veterana igreja, alçada à dignidade de Sé Episcopal, o primeiro bispo de Petrópolis e também a de reinstalar, em Niterói, a sede da diocese fluminense, daqui removida pela Curia Romana para antiga Praia Grande.
 Nos tempos da Colônia, havia também os curas dos colonos alemães, tanto protestantes, como católicos.
 Destes últimos, o primeiro de que há noticias é o padre Francisco Antonio Weber, a respeito do qual diz Henrique Raffard, no seu “Jubileu de Petrópolis”, ter vindo na companhia dos colonos.
 Neste ponto, o erudito historiógrafo deve ter sido guiado por alguma informação errônea, pois não consta que os colonos de 1845 trouxessem o seu guia espiritual.
 O padre Weber terá sido contratado posteriormente, tanto que constam atos seus datados de 1847, sendo alguns batizados em que serviram de ex-padrinho os imperantes.
 O primeiro deles é consignado pelo seguinte assentamento:
“Anno Domini millesimo octingentésimo quadragésimo septimo, die vigésima octava, memsis Octobris, ego, Franciscus Antonius Weber, parochus hujus ecclesiae sancti Petri ab Alcanthara, civitatis Petropolis, baptizavis infantem, natum die vigésima, mensis Augusti, ex Nicolao Dietrich et Catharina, conjugibus hujus Parchia, cui impositum est Nomen Pietrus. Patrinus fuit: Serenissimus et potentissimus Princeps Dominus – Dominus Petrus Secundus, Imperator Brasiliae semper Augustus. Matrina fui: Serenissima et potentíssima Princeps Domina D. Theresia Christina Maria, Imperatrix Brasiliae, semper Augusta. D. Pedro 2º - Thereza.”
Tradução para o português atual*:
“No ano 1847 dc no 28º dia do mês de outubro, eu Francis Anthony Weber, pastor da igreja de São Pedro de Alcântara, cidade de Petrópolis, batizou o bebê, nascido no dia 23 de agosto
 Nesse tempo, a freguesia ainda funcionava nos “quartéis da Província”, onde estava, provisoriamente, instalada, como já vimos acima.
 Ao padre Weber sucederam curas interinos dos colonos, entre os quais o coadjutor da freguesia padre Nicolau Gemain, aliás, de nacionalidade francesa e que, nem por isso, se entendia menos bem com as suas ovelhas teutônicas.
 Por provisão episcopal de 10 de Janeiro de 1845, porém foi nomeado curo dos colonos alemães o padre dessa nacionalidade Teodoro Wiedemann, que, apresentando ao Diretor da Colônia um título provisório de 9 do mesmo mês, desde logo foi empossado, deixando as funções o “abbé” Germain, que as exercia interinamente.
 O padre Wiedemann pouco tempo se manteve em paz no seu posto, pois, querendo exercer uma autoridade paralela à do vigário da freguesia, de quem, todavia era subordinado, criou uma situação grave na Colônia.
 Essa questão chegou ao auge no dia 25 de Março de 1855, quando os colonos, como de costume, faziam uma coleta para o cura, durante a missa. O diretor da Colônia, tenente-coronel Alexandre Manuel Albino de Carvalho, achando que isso não devia ser permitido, foi à Matriz e proibiu que a coleta se efetuasse. Daí resultou um atrito entre o cura e o diretor da Colônia, tomando os colonos o partido do padre Wierdemann, a ponto de pronunciarem, em alemão, palavras insultuosas ao coronel Albino, o que deu lugar à prisão dos mais exaltados.
 Os demais colonos rebelaram-se também e tornou-se preciso reforçar a guarda da cadeia, com paisanos armados, tendo o presidente da Província, Luiz Antonio Barbosa, ordenado ao chefe de polícia vir tomar conhecimento do ocorrido e providenciar convenientemente.
 No mesmo oficio em que isso comunicava ao diretor da Colônia, dizia a autoridade suprema da Província:
 “Recomendo-lhe, entretanto, que procure evitar por parte das autoridades qualquer provocação, como o foi a prisão de que se trata por ser contraria à disposição das leis, visto não se acharem os indivíduos que a sofreram em alguns dos casos em que as leis autorizam a prisão sem culpa formada.”
 O diretor da Colônia acusava o cura Wiedemann de ter a pretensão de exercer o seu emprego como prefeito e independente pároco e não como simples cura de almas, que era ou deveria ser, ou antes como verdadeiro coadjutor do pároco da freguesia; e, nessas conformidades, o mesmo Wiedemann vivia até em divergências com o vigário Melo e o padre Germain, coadjutor deste.
 O resultado final foi a exoneração do cura por deliberação do governo provincial e provisão do bispo, de 16 e 18 de Abril  1855, atos que o sucessor do coronel Albino achou “haverem sido uma barreira às sugestões que entre os colonos católicos promoveu o padre Wiedemann, amotinado a população alemã, ao ponto de apresentar-se com caráter hostil e de rebelião pelas insidiosas idéias de independência do seu ministério, que o padre, com tempo e habilidade, foi infiltrando nas famílias dos colonos, sob os auspícios da religião.”
 O presidente da Província, ao comunicar ao diretor da Colônia a exoneração do padre Wiedermann, esperava “alguma demonstração imprudente por parte dos alemães, que o cura pudesse ter fanatizado.”
 Tudo acabou, porém, sem maiores dissabores; o coronel Albino que, por várias vezes pedira exoneração do seu cargo, por motivo de moléstia, aproveitou o ensejo para reiterá-la, sendo-lhe também concedia.
 E assim terminou a crise que tivera tão forte repercussão na Matriz Velha.
 Voltou a cura dos alemães ao padre Germain, e, como este não falasse o alemão, passou a vir, de vez em quando a Petrópolis o padre Carlos Winckler, capelão do Asilo de Santa Leopoldina, para o serviço religioso dos seus patrícios aqui instalados.
 Em 31 de Dezembro de 1853, criou-se a Irmandade do Santíssimo Sacramento de S. Pedro de Alcântara, cujo primeiro provedor eleito foi o diretor da Colônia, coronel Alexandre Manuel Albino de Carvalho, realizando a instalação provisória da mesa a 28 e Novembro de 1854, com a seguinte mesa: Alexandre Manuel Albino de Carvalho, provedor; João Henrique Lagos, Secretário; Joviano Varela, tesoureiro; Henrique Kopke, procurador; José Maria Jacinto Rabelo, Tomás José da Porciúncula, Inácio J. Nogueira da Gama, Maximiniano J. Gudehus, Antonio Luis Machado, Antonio José dos Santos Rocha, Ricardo Narciso da Fonseca e Camilo Dagofredo, Irmãos de mesa.
 O secretário foi, porém, logo substituído por Antonio Santos Rocha; o procurador, por José Antonio de Carvalho, passando Dr. Henrique Kopke para irmão da mesa, no lugar de Santos Rocha.
 Os fatos supervenientes à exoneração do aludido diretor, ocasionaram um pequeno retardamento na vida da irmandade, que, porém, em 102 de agosto de 1855, se instalava definitivamente com a mesa da qual faziam parte os seguintes irmãos: Barão da Lorena, provedor; Joviano Varela, secretário; Pedro José Câmara, tesoureiro; Ricardo Narciso da Fonseca, procurador; Inácio José da Silva, José Gaspar da Cunha Freitas, José Martins Correia, Antonio Tavares Bastos, Julio Pedro Piot, Joaquim Martins Correia, José Pinto da Cunha Fernandes e José Antonio de Carvalho.
A Irmandade do Santíssimo Sacramente, daí por diante, sempre contribuiu para imponência do culto na Matriz Velha e auxiliou a obra dos párocos com dedicação e acentuado espírito religioso.
A Matriz Velha, em 21 de abril de 1864, serviu para sagração de D. Antonio Macedo Costa, 10° bispo do Pará, sendo sagrante o Internuncio Monsenhor Mariano Falcinelli Antoniacci, arcebispo titular de Atenas.
Este fato merece ser assinalado, ao lado de outros passados na Velha Matriz, por tratar-se de uma das mais notáveis figuras do episcopado brasileiro. D. Macedo Costa foi com D. Vital, bispo de Olinda, processado por ocasião da questão religiosa (1873-1875) e condenado a 4 anos de prisão, que começou a cumprir na Ilha das Cobras, sendo, afinal, perdoado em setembro de 1875.
Ao tempo do Império, a Matriz recebeu sempre a família imperial sob os seus tetos e todas as grandes cerimônias da época e da Côrte nela eram celebradas.
Basta lembrar o solene “Te Deum Laudamus”, pelo bispo D. Pedro Maria de Lacerda, na tarde de 15 de outubro de 1875, em homenagem ao feliz nascimento do príncipe de Grão Pará, ocorrido nesta cidade, naquela manhã.
No dia 12 de março de 1876, festejando a inauguração do Hospital Santa Tereza e o lançamento da pedra fundamental da nova Igreja Matriz, também se realizou, com a presença da família imperial, um “Te Deum”.
Não menos notável era ali a comemoração do mês de Maria, à qual a Princesa D. Isabel dedicava todo o seu carinho religioso. Especialmente, em 1888, por ocasião da Abolição, foi ali entoado por várias vezes o “Te Deum” comemorativo da Lei Áurea, sendo a Redentora, repetidamente, acompanhada, em triunfo, pelo povo petropolitano até à Matriz e desta para o paço.
Na própria data de 13 de maio de 1888, que foi um domingo, a população, recebendo na estação a Princesa D. Isabel, que chegava da Côrte, onde assinara o decreto áureo, conduziu-a gloriosamente da gare até a Matriz Velha, fazendo a pé, por não ter S.A.I. consentido que o povo, no auge do seu entusiasmo pela causa da Liberdade, desatrelasse os animais do coche imperial para tirá-lo a mão.
 Não deve ser olvidada entre as solenidades históricas comemoradas na Matriz, em demolição o “Te Deum” com que se celebrou, no dia 17 de junho de 1859, a instalação da cidade de Petrópolis e a posse da sua primeira Câmara Municipal.
A Velha Matriz foi ainda o teatro de muitas eleições políticas, que, como se sabe, eram realizadas no antigo regime nas igrejas. Nem sempre a ordem e o respeito predominaram nesses pleitos, tendo, por mais de uma vez, havido conflitos dessa espécie.
Num barracão armado ao lado da Matriz, servia-se aos votantes o banquete eleitoral, constante de um grande jantar ou almoço, em que até vezes rezes inteiras eram retalhadas entre os comensais.
Esses “comes” regados a “bebes” acabavam, muitas vezes, em sarilho medonhos, dada a excitação do pessoal...
Na Matriz Velha recebeu o sr. d. Pedro II, na manhã de 15 de novembro de 1889, ao ouvir uma missa, as primeiras notícias sobre os acontecimentos do dia, tendo-lhe, ao que se diz, sido ali entregue o segundo telegrama dos que lhe passara o Visconde de Ouro Preto, isto é, aquele em que o ilustre presidente do conselho de ministros solicitava a demissão do gabinete.
O primeiro dos telegramas ao que dizem, não foi ter às mãos do imperador, apesar de haver o Visconde de Ouro Preto apurado a sua expedição da Côrte, a sua chegada à estação tegráfica de Petrópolis e a sua entrega no paço desta cidade...
Da Matriz, S. M. se recolheu ao palácio, descendo em trem especial afim de seguir, poucas horas depois, para o exílio.
E assim escreveu-se uma coincidência histórica. Na Matriz, o Monarca recebeu as primeiras novas da terminação do seu Império, e, trinta e seis anos mais tarde, a necessidade de depositar os seus restos mortais, na nova Matriz, apressou a mudança da paróquia para ali, e conseguintemente, motivou o fechamento do velho templo.
A Matriz Velha já foi, como é sabido Sé Episcopal.
Transferida a diocese fluminense de Campos para Petrópolis, o bispo d. Francisco do Rego Maia, a 13 de novembro de 1897, entrou solenemente na sua catedral recebido pelo então vigário Benassi, que, mais tarde bispo, levava, consigo para Niterói, a cadeira diocesana.
Em 1902, o segundo e ultimo bispo de Petrópolis, d. João Francisco Braga, alçava as suas armas à entrada da catedral.
Tomou posse a 30 de outubro de 1902 e com a volta da sede do bispado para a capital do Estado, a velha igreja de Petrópolis regressou à sua situação antiga de simples matriz.
Na Matriz Velha, teve lugar a solenidade da benção da primeira Bandeira da República, no dia 8 de novembro de 1889.
Essa festa memorável foi presidida pelo governador do Estado, dr. Francisco Portela, tendo servido  de paraninfos da mesma o tenente honorário do exército Domingos Manuel Dias, veterano do Paraguai e presidente da Câmara Municipal; e o dr. Walfrido da Cunha Figueiredo, juiz de direito da comarca.
Nessa ocasião deu-se um ligeiro incidente; o Club Republicano, presidido pelo dr. José Thomaz da Porciúncula, não penetrou no templo e aguardou do lado de fora a volta da bandeira, a cuja  benção, pois, por uma questão de princípios, os “históricos” petropolitanos não quiseram assistir.
Foram memoráveis também na Matriz as cerimônias do mês Mariano celebradas, nos primeiros anos da República, com o concurso da Escola de Música Santa Cecília, sob a direção de seu fundador o maestro Paulo Carneiro.
A figura desse velho amigo de Petrópolis não deve ser jamais olvidada sempre que houver ensejo de recordá-la. Não esqueçamos pois as tocantes manifestações de pesar a que, dentro da Velha Matriz, deu lugar à Missa de corpo presente, que por sua alma ali foi celebrada, em 11 de setembro de 1923.
Correram também na Velha Matriz, em 1913, os proclamas de casamento do único presidente da República, que se consorciou no Brasil: os do saudoso Marechal Hermes da Fonseca com a ilustre sra. d. Nair de Teffé Hermes da Fonseca.
Como se sabe, o enlace nupcial desse nobre casal teve lugar em Petrópolis a 8 de dezembro daquele ano, no Palácio Rio Negro.
E assim, por diante, poderíamos evocar às centenas, as recordações mais gratas e as mais tristes também, relembrando o que de afetivo se tem desenrolado na Capela dos primitivos petropolitanos.
Na tarde de 19 de novembro de 1925, ao verem trasladar-se daquele prédio simples e vetusto, mas venerável, as relíquias sacras para serem instaladas na suntuosa catedral de Petrópolis, não puderam, por tudo isso, muitos velhos petropolitanos sopitar a comoção que lhes ocasionou o espetáculo chocante,
Fecharam-se em seguida as portas da casa sacra, que, despida dos seus privilégios eclesiásticos, está sendo demolida.
O terrenos, em que tantos anos se ergueu a igreja da colônia serrana, será retalhada em vários prazos, ao longo dos quais correrá, ao encontro do morro do Cruzeiro – o morro do Imperador dos nossos antepassados – uma avenida de quatro metros de largura, que finalizará na antiga rua Bourbon.
E dentro em poucos meses, nada mais relembrará o passado daquele sitio de Deus, venerabilíssimo ainda mais para todos os petropolitanos, sem distinção de crenças, porque, naquele terreno junto à casa paroquial, reduziu-se a pó e desapareceu, para todo o sempre, a cruz tosca de madeira, para ali transplantada do Palácio de Cristal e, a cujos pés, em 1846, o internúncio apostólico Bedini e o pastor protestante Avé-Lallemant celebrara, na praça da Confluência os primeiros atos religiosos de Petrópolis.

Fonte:

Tribuna de Petrópolis – 25 de Maio de 1926.

Vejam abaixo algumas fotos da antiga Matriz:







quinta-feira, 27 de março de 2014

UMA BICICLETA APREENDIDA EM 1932

Requerimento n° 1255 de 18/11/1932

Exmo dr. Prefeito,
Adelino Martins Coelho, proprietário da bicycletta n° 151, licenciada pelo talão 1392 de 5-2-932, domiciliado em Corrêas, vem expor a V. E. o seguinte: Tendo mandado um seu primo a Petrópolis fazer umas compras, este montava alludida bicycletta, quando, ao chegar no Pic-Nic, verificou que a placa da licença havia se desprendido do respectivo parafuso. Em vista disse elle encostou a vehiculo e sahio, a pé, a procura da respectiva placa, a qual foi encontrata a uma distancia de 400 metros mais ou menos. Voltando ao local onde havia deixado o vehiculo, não mais o encontrou, sendo lhe informado que a bicycletta havia sido condusida para a policia, por estar em abandono. E como esse vehiculo lhe pertença e esteja licenciado o Supte. Requer a V. E. a relevação da multa, bem como a entrega do vehiculo, o qual já foi reconhecido como seu, pelo fiscol do 2° districto, sr. Alexandre Janiques.

Termos em que
P.D.
Petrópolis, 18 de Novembro de 1932


Parecer do fiscal Gouvêa:
A bicycleta a que se refere o requerente, me foi entregue pela policia, por ter sido encontrada seus a respectivas licença, entretanto o fiscal Janiques, confirma as declarações do requerente.


25/11/1932

sexta-feira, 21 de março de 2014

LOURENÇA MARIA LUZIA, UMA IDOSA COM 144 ANOS!!

COM 144 ANNOS...
UM RECORD DE LONGEVIDADE OU ESQUECEU-SE DE MORRER.
Lourença Maria Luzia, filha de africanos, natural de Crato, no Ceará, de onde sahiu com 25 anos, comprada pelo fazendeiro Manoel Marques de Oliveira, falecido, proprietário da fazenda do Córrego Bonito, onde ainda trabalhava apesar dos 90 annos, quando foi abolida a escravidão.
Viuva há 40 annos, nunca teve filhos, vive completamente só, cozinha, lava e coze para si, vae no matto buscar lenha subindo enorme serra, enxerga perfeitamente, faz sabão para lavar sua roupa e azeite para alumiar sua casinha, anda duas léguas a pé, sem se cansar, matem longa palestra, espírito verdadeiramente folgazão.
Faz lavoura para seu sustento gosta muito de presentes a pessoa que mais estima é seu padrinho (na realidade um bom homem), carrega duas arrobas na cabeça, mora no Cedro, além um pouco de Pedro do Rio, pelo lado da Linha Ferrea, em terras do sr. Adelino Saldanha que com o seu padrinho auxiliam-na no seus momentos de apertura...
O que mais desejava era mandar seu retrato aos parentes, mas acha que já são mortos todos.
A photografia que ahi publicamos ao lado do seu “chateau”, devemos ao jovem Azize Nâme e a reportagem ao nosso esforçado correspondente em Areal, Oromar de Jesus Gamboa, com os quase emprhedemos, na segunda-feira uma viagem de automóvel “Mossoró III”, através de atalhos.
Na realidade Lourença Marisa Luzia esqueceu-se de morrer e segunda Ella mesma, espera ver muita gente “moça” “embarcar primeiro...

FALLECEU A VELHA LOURENÇA MARIA LUZIA
Com mais de 144 annos.
Os nossos leitores devem estar lembrados da reportagem que fizemos em Outubro do anno passado sobre a existência de uma centenariana, em Areal, às margens do logar denominado Morro do Cedro. Pois agora nos vem a noticia, pelo telephone, de que, no dia 25, há 14 dias, falleceu a velha Lourença Maria Luzia, com mais de 144 annos de edade, segundo apuramos naquella data.
A vellha centenariana não deixa parente algum e a sua morte, que foi recebida com certo pesar do povo de Areal, foi quasi que repentina.



Fonte:
1ª reportagem: Jornal de Cascatinha – Domingo, 14 de Outubro de 1934

2ª reportagem: Jornal de Cascatinha – Domingo, 9 de Junho de 1935.