sexta-feira, 14 de março de 2014

O PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS

O artigo abaixo é de autoria do historiador e primeiro diretor do Museu Imperial de Petrópolis, Alcindo Sodré, publicado no Jornal de Petrópolis em 21 de junho de 1959. No texto Sodré, nos conta a história da Câmara MunIcipal, desde o primeiro prédio na Rua Paulo Barbosa, aonde hoje está erguido o edificio Rocha até a compra do atual prédio, o Palácio Amarelo e nos conta fatos interessantes como a festa em comemoração a lei da Abolição com a presença da Princesa Isabel, no antigo prédio em frente aonde hoje se localiza o Obeslico. 


PAÇO MUNICIPAL
Alcindo Sodré
O Paço Municipal de Petrópolis teve duas sedes alugadas antes da atual e própria.a primeira foi à rua do Mordomo nº 12, hoje Rua Paulo Barbosa. Ali se instalou o Legislativo local como expressão da autonomia de Petrópolis no gozo da cidade, a 17 de junho de 1859. Seu presidente, Albino José de Siqueira , sentou-se na cadeira principal, que era encimada pelo quadro a óleo do pintor Joaquim da Rocha Fragoso, representando dom Pedro II.
A segunda sede do Paço Municipal foi à rua do Imperador, trecho da Bacia, local fronteiro ao eixo da rua da Imperatriz, de propriedade de Rocha Miranda.
Nesse prédio, a 23 de maio de 1886 deu a Municipalidade um grande baile, promovido por Henrique Kopke para obter meios com que fossem satisfeitas às despesas da Primeira Exposição Industrial e Artística de Petrópolis, realizada no Palácio de Cristal, de 9 a 16 mesmo mês. A festa teve a presença da família Imperial e escolhida sociedade, prolongando-se até hora adiantada.
Não fora essa a única vez que sua Majestade, o Imperador honrou com sua presença o Paço Municipal, prestigiando uma iniciativa de que ele participara monetariamente e da qual dissera o Mercantil: “Petrópolis acaba de dar uma prova plena de que – como já o temos dito – não é simplesmente uma cidade de recreio é também um núcleo de trabalhadores”. A 25 de fevereiro de 1881, o Imperador acompanhado de seu camarista conselheiro Miranda Rego, visitou às 11 horas o Paço Municipal onde demorou-se cerca de uma hora percorrendo o edifício examinando a Biblioteca, a oficina de aferição e lembrou a adoção de medidas de melhoramento locais com especialidade as tendentes à salubridade pública.
O Paço Municipal recebeu também a visita da Princesa Isabel. Foi a 21 de maio de 188, por ocasião da grande festa promovida pela Câmara em regozijo ante a lei da Abolição. O comércio fechou. A rua do Imperador estava decorada com arcos, folhagens e bandeiras. Em frente ao Paço da cidade a banda da Casa Imperial tocava em coreto armado. A Câmara incorporada chefiando imponente séquito de que participavam setecentos colegiais, com bandas de música dirige-se para o Palácio onde o presidente pronunciou vibrante discurso. Houve depois te Deum, achando-se no templo o corpo diplomático. Terminada a cerimônia dirigiu-se o cortejo, na companhia de Sua Alteza para o Paço Municipal, onde a Princesa chegou a janela para receber a saudação popular.
Levados os Príncipes ao Palácio, a multidão freqüentou os bailes que se realizaram na sala da Câmara Municipal e nos salões do Bragança e do Floresta.
A 6 de fevereiro de 1876 discutiu-se na Assembléia Provincial o projeto de lei para construção de um prédio para  a Câmara Municipal de Petrópolis, idéia provocada por Paulino Afonso.
Entretanto, o Paço Municipal permaneceria na sede alugada da Bacia até 1894, quando sendo presidente da Câmara, o dr. Hermogênio Pereira da Silva, foi adquirido a 9 de julho pela quantia de 60:000$000, o prédio da atual Praça Visconde de Mauá.
O terreno do hoje vulgarmente conhecido Palácio Amarelo teve como primeiro proprietário o superintendente da Imperial Fazenda, José Alexandro Alves Pereira Ribeiro Cerne, constituído como foro aos 11 de julho de 1850, pelos prazos, 127, 128, 129 registro 557-A. Formavam esses prazos uma superfície de mil e duzentas e setenta braças, e o foro anual era de 25$500. Menos de dois meses após, com autorização do Mordomo, foram eles transferidos em 31 de agosto ao vereador de Sua Majestade o Imperador, José Carlos Mayrink da Silva Ferrão, que construiu a bela residência hoje transformada em Prefeitura de Petrópolis. A 14 de fevereiro de 1891, adquiriu-a do Barão de Guaraciaba, seu último proprietário residente.
Comprado o palacete para sede da Municipalidade, foi retirado o gradil que chegava ao alinhamento da Avenida Sete de Setembro, e feita a Praça existente. Das obras de adaptação introduzidas no edifício destacam-se, o salão destinado a sessões  da Câmara Municipal e a escadaria principal e vestíbulo superior. Todo lindo trabalho de decoração  que fez da sala nobre uma das mais belas jóias nacionais do gênero, é de autoria de José Huss. Este apreciável artista, nasceu na Alsácia a 7 de janeiro de 1852, e com a guerra franco-prussiana de 1870 não pode suportar o domínio alemão em sua terra natal e veio para o Brasil, fixando pouco depois residência em Petrópolis onde desposaria a 30 de julho de 1881, D. Maria Catharina de Schepper, cujo casal houve 7 casal  e sua prole petropolitana  prolonga-se nos dias correntes. A 24 de setembro de 1905, morria nesta cidade esse excelente artista que em sua segunda pátria realizou admirável obra na decoração da Municipalidade, obra que parece haver transfigurado em força de beleza e doçura todo o amargor e desencanto dos sentimentos que o fizeram abandonar a aldeia querida onde recebera a luz da existência.

Fonte:

Jornal de Petrópolis, 21 de Junho de 1959




Palácio Amarelo


Um comentário:

  1. Muito obrigado por esta página, com informação tão preciosa e detalhada, de uma história que eu completamente ignorava. E isso embora eu tenha morado por muitos anos em Petrópolis, onde este palácio, mas não infelizmente sua história, é conhecido por todos.

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