terça-feira, 19 de novembro de 2013

QUARTEIRÃO VILA IMPERIAL

Essa publicação é uma homenagem ao saudoso jornalista Álvaro Zanatta, que realizou um levantamento histórico e escreveu um livro com as histórias e as lendas das ruas de Petrópolis, “Histórias e Lendas das Ruas de Petrópolis”, que não foi publicado devido a sua morte logo após o término do livro.

O Quarteirão Vila Imperial propriamente dito não é tudo o que se popularizou chamar de Centro Histórico de Petrópolis, mas sim um hexágono quase perfeito, que nos desperta a atenção ao observarmos as plantas da cidade desde Koeler, em 1846. Formado pela primeira metade da Rua do Imperador, Rua da Imperatriz, Tiradentes, Avenida Koeler e Rua Dr. Nélson Sá Earp, que formava o “O” pequeno de caminhadas do imperador no século XIX e do presidente Vargas no século XX.
 Esse hexágono é chamado por “Villa” na planta de Koeler, e na de Reymarus de 1854 aparece um grande “I”, indicado na legenda também apenas por “Villa”. Na planta do major Taunay de 1861, encontra-se o mesmo “I” e na legenda “Cidade”. O termo Quarteirão Vila Imperial surge apenas no final do período Imperial, abolido com a República, mas surgindo em placas de esquina, com patrocínio do Touring Club do Brasil, na década de 1950.
  No Quarteirão Vila Imperial, além de ser construído o Palácio Imperial, foram vendidos ou doados lotes a membros da corte e  capitalistas do Império. Cercado pelos quarteirões coloniais, de onde provinha a mão de obra barata para as construções dos palacetes, sobrados e bangalôs da elite, chegavam também o leite, queijos, linguiças e hortaliças, produzidos e cultivados pelos colonos.
 Para ser ir da Corte a Minas Gerais subia-se, primeiramente, pela Estrada Normal da Estrela, não se passava pela Vila e prosseguia-se pela atual Estrada Mineira. Com a construção da Estrada União e Indústria, as carruagens e depois os autos, por ela passavam, vindo pela Vila Teresa e mais tarde, pelas Renânias, com a abertura da Estrada Rio-Petrópolis, em 1928 o que perdurou até a construção da Rodovia do Contorno de Petrópolis, em 1959. Também na vila se construiu a Estação da Estrada de Ferro, mais tarde Estação Rodoviária Imperatriz Leopoldina.
 O Quarteirão Vila Imperial foi palco das maiores manifestações políticas, esportivas e sociais da cidade. Centro comercial desde a fundação da Imperial Colônia de Petrópolis, nela se construiu os primeiros hotéis e teatros petropolitanos; os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário aí se encontravam, sendo também a região da maioria das agências bancárias, consultórios médicos e advocatícios.
 Aliás, a concentração da vida comercial petropolitana no Quarteirão Vila Imperial é, e sempre foi, o grande problema da cidade. Até centros atacadistas, como grandes armazéns, e mais tarde supermercados instalaram-se na Vila; por certa época, em quase toda a sua extensão. Ponto inicial dos transportes coletivos urbanos desde o século XIX, sem terminais próprios, e com estacionamento à margem das ruas e do passeio.
Todos esse fatores, tamanha concentração, fez com que, em meados do século XX se iniciasse uma corrida imobiliária desenfreada, pouco ou nada planejada pelo poder público. Antigos casarões foram progressivamente sendo derrubados para a construção de arranha-céus, na ânsia de ser “noviorque” da serra; o descendente de colono ou migrante bem sucedido, desde cedo, passou a almejar o Quarteirão Vila Imperial: vendia seus prazos, lotes ou o que fosse e mudava-se para os novos edifícios, deixando boa parte dos Quarteirões para o veranista construiu suas casas de campo e corretores inescrupulosos lotearem, legal ou ilegalmente.
 Foi no Quateirão Vila Imperial onde transitou o primeiro automóvel em Petrópolis. A primeira viagem de automóvel desde o antigo Distrito Federal (Rio de Janeiro) a Petrópolis foi realizada entre os dias 6 e 9 de março de 1908. O veículo, de marca Dietrich, aqui chegou conduzido pelo srs. Brás de Nova Friburgo, Gastão de Almeida e o chamado à época “machinista” Jean Chocolaty. Os “bravos” partiram do Rio de Janeiro na sexta-feira, 6 de março, às 13 horas, e a Petrópolis chegaram na segunda-feira, 9 de março, ao meio-dia, na Av. XV de Novembro (atual Rua do Imperador).
 O primeiro avião a sobrevoar a cidade fez evoluções sobre o Quarteirão Vila Imperial a 28 de maio de 1912, pilotado pelo aviador Frances Roland Garros (o mesmo homenageado pelo torneio francês de tênis), tornando conhecido o novo meio de transporte aos que não haviam se abalado, no mesmo dia, a uma excursão a Corrêas, onde o aviador italiano Ernesto Dariolo aterrissou e alçou vôo no antigo Prado (área ocupada hoje por um conjunto residencial e um depósito de refrigerantes). O primeiro helicóptero também sobrevoou o Quarteirao Vila Imperial  vindo do Rio de Janeiro, em 19 de novembro de 1947 e aterrissando no Quitandinha.
 A iluminação pública  no Quarteirão Vila Imperial surge a partir de 1856. Onze ano após a fundação da Colônia começam a ser instalados lampiões de azeite de baleia, malcheirosos, em postes de ferros pintados de preto. A partir de 1866 começa-se a falar sobre iluminação “mais moderna”, a gás, o que nunca saiu das intenções. Do lampião de azeite passou-se à iluminação elétrica: em 1896, através do contrato firmado (1894) entre a Câmara Municipal e o Banco Construtor do Brasil, que vai fornecer energia elétrica e água à cidade, instalam-se bicos de luz pelo centro da cidade. O contrato com o banco durou até 1939. Foram feitas melhorias na iluminação do Quarteirão Vila Imperial ainda nos anos de 1942, 1956, 1967 e 1992.
 Uma boa história ou lenda do Quarteirão Vila Imperial, contata por esotéricos ou mesmo por um tecnocrata amigo, está nas cruzes de Malta que se encontram nas pedras de meio-fio, aleatoriamente, pelas ruas que primeiro foram calçadas na Vila, ou seja, entre o final do século XIX e o inicio do século XX. Seriam marcar a indicar residências de Cavaleiros Templários? Ou a marca pessoal de algum canteiro lusitano, nacionalidade da maioria dos primeiros calceteiros petropolitanos? Seja qual for a origem, é interessante exercício procurar localizar essas cruzes nos meio-fios; indico um: em frente à porta central da Câmara Municipal, do outro lado da rua.

Álvaro Zanatta. 

Planta do Quarteirão Vila Imperial feita por Koeler em 1846

5 comentários:

  1. Gostaria de saber quem foi o primeiro morador da casa n° 87 da Av. Koeler, pois ia sempre com a minha avó
    Maria Troyack, visitar seus moradores.

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do blog, e tenho a curiosidade em saber quem foi o primeiro morador, da casa, n° 87 da Av. Koeler. Agradeço.

    ResponderExcluir
  3. quais são os 5 quarteirões da planta koeler?

    ResponderExcluir
  4. quais são os 5 quarteirões da planta koeler?

    ResponderExcluir
  5. Eu gostaria de obter a cidadania alemã, meus ancestrais foram colonos alemães de Petrópolis. Ainda tenho alguns documentos.

    ResponderExcluir