Segue abaixo a transcrição da
carta do Pastor Stroele da Igreja Luterana, para a Basileia (atual região da
Alemanha) publicada em um jornal na Alemanha, relatando as atrocidades cometidas
contra os colonos, desde a saída deles de Dunquerque até chegarem em Petrópolis,
quando continuaram a sofrer privações e se serem submetidos a um sistema corrupto
e de favorecimento criado pelo Major Julio Frederico Koeler.
“No
anno de 1843 tomou o governo da Provincia do Rio de Janeiro a resolução de
construir uma via de communicação com a Província de Minas. Para alcançar de
uma maneira barata forças de trabalho para execução desse projecto fez o
presidente da província em 15 de Julho de 1844 com Eugenio Pisani, agente de
Charles Delrue & Cia., em Dunquerque, um contracto no qual essa casa
obrigou-se a fornecer 600 famílias. O governo prometeu tomar a si as despezas
de transporte e pagar por uma pessoa adulta 245 francos e para uma criança de 5
a 15 annos, metade dessa soma. Delrue, então, fez tocar o tambor de engajamento
na Allemanha, especialmente no Rheno, na certa “presopição”que o manso allemão
acreditaria nas falsas promessas de seus agentes e seguiria com bom ânimo para
a terra das palmeiras e dos diamantes. Assim succedeo. Disse a estes pobres que
ganhariam, sem grande pena, 3 fl. 30 kr. (moeda allemã 2.500); a terra era tão
insigne e magnífica que apenas só poderia comparar o Paraizo com ella;
receberiam terras a vontade, além de Pastores e Professores de seu idioma. Em pouco
tempo estavam juntas 600 famílias. Estas venderão por preço barato os seus bens
e deixarão com corações alegres sua pátria. Mas apenas tinhão deixado as
fronteiras allemãs, começou a miséria. Chegadas a Dunquerque, não acharão ainda
promptos os navios destinados para elles. Os capitães não os aceitarão;
dirigirão-se a Delrue e este mandou a bordo
e capitães outra vez a Delrue. Deste modo, mandados para lá e para cá,
errarão sem conhecer a língua franceza, com seus diminutos bens pela cidade. Diversas
noites precisarão passar fora, ficarão roubados e escarnecidos. Os Consules
allemães negarão auxílio dizendo que eles agora erão emigrantes e por isso não
erão mais allemães. Emfim forão alojados em adegas, estrebarias e em outros míseros
cantos, mas foram obrigados a sustentarem a sua custa, conquanto Delrue recebeu
para esse sustento 60 francos.
Si
já estavam em grande miséria em Dunquerque, acharam a bordo uma existência verdadeiramente
horrível. Enquanto o sustento devia consistir de comidas fortificantes e
nutritivas, que no contracto estavam especificados, os miseráveis mantimentos
que recebiam apenas os livrara da morte pela fome.
Quando
chegou o navio ao Rio de Janeiro estava cheio de provisões e estas então foram
vendidas a altos preços.
O
navio chamava-se “Maria” e o capitão scelerado – Castell. A esta vida de fome
ajuntaram ainda castigos corporaes e a deshonra das pessoas femininas; se os Paes
defenderam suas filhas ou os maridos suas mulheres foram por algumas horas
amarrados no mastro do navio e queimados ao calor do sol, e também por muitas
vezes maltratados.
Quando
enfim entraram no porto do Rio de Janeiro, que estava cheio de vida, com suas
verdes e florescentes ilhas, suas risonhas chácaras e margens parecentes jardins
e viram a cidade que estava situada n’uma ponta quadrada da terra resaltada,o
sereno firmamento e os pittorescos montes, cortados por deleitosos vales, cobertos
de Mattos de laranja e limões, então fizeram exclamações de júbilo,
esqueceram-se de todas as privações, pensando que podiam descançar e
restabelecer-se nessas praias que tão risonhas olharam para elles; porém os
pobre! Acharam-se ainda mais miserável, ainda mais horrível.
O governo,
no entanto, tinha-os abandonado.
Com o
projecto de construir estradas e canaes para o interior da província do Rio de
Janeiro e estabelecer uma via de communicação com Minas Geraes, não se lembrou
mais dos trabalhadores engajados na Europa e por isso não tinha feitos
preparativos alguns para alojal-os.
Foram
desembarcados na Praia Grande. O ardente calor, o desconhecimento da língua, a
falta de mantimentos e de segurança contra os negros inclinados a roubar e a
immoralidade canalha dos mulatos, levarão os deploráveis emigrantes a total
desesperação.
Nascerão
enfermidades em pouco tempo (em todo três semanas) salvou a morte 314 pessoas
das suas misérias.
Finalmente,
o corpo do commercio allemão “compaixou-se” de seus pobres compatriotas e
implorou a compaixão do Imperador para que se empenhasse para esses miseráveis.
D.
Pedro, um monarcha benigno e benevolente, estava logo prompto a dar-lhe efficaz
soccorro.
Elle
comprou em parte, por sua própria custa, um numero considerável das obrigações que
lhes erão impostas pelos contractos. Uma parte dos emigrantes mandou levar para
outras colônias, outros, mandou transportar para sua propriedade do Córrego
Secco, para fundar ali uma residência de verão e uma colônia, ainda que duas
tentativas de colonização alli já se tinhão malogradas. Petrópolis, como se
chama o lugar, está situada a 25 léguas do Rio; a terra é muito montanhosa,
cortada por profundos valles e travessado por innumeros riachos.
A temperatura
é 10 gráos differente da do Rio de Janeiro, desagradável, sempre nebulosa,
turva; os chuveiros são horríveis, o chão é frio, humido de modo que muito não
prospera.
Para
aqui forão, pois transportados esses pobres emigrantes allemães. A cada um foi
dado algum trato de terra para os primeiros dez annos livres de impostos e
depois tem de pagar um pequeno imposto annual.
Na chegada
dos colonos, Petrópolis era uma pobre aldeia, cercada de mattos virgens.
Se os
colonos já tinhão soffrido de máo e de duro na sua estada em Dunquerque, na
viagem do mar e em Praia Grande, tudo isto desappareceu diante de uma vida
infernal em Petrópolis; não havia de comer, nem moradia, nem caminhos, nada senão
o matto virgem, neblinas, chuveiros e uma luta amargosa contras reptis
venenosos. Uma epidemia dizimou-os; a desesperação na providencia divina abalou
as suas consciências religiosas. A bebedeira e a immoralidade de toda espécie augmentou
ainda a desgraça delles.
A isto
tudo se juntou o mau estado em que se achavão as autoridades e caracter
totalemente corrupto do primeiro director, official no serviço brasileiro,
Julio Koeler que reuniu em si na mais bella floresncia a fraude, a traição e a
immoralidade.
O governo
concedeu para a construcção de ruas e caminhos mensalmente a somma de 45.000
francos. Havia pois serviços e bons ganhos; os colonos trabalharão bem e
constantemente, mas não receberão pagamentos e sim tudo por conta. Koeler tinha
o privilegiode estabelecer vendas. Os colonos receberão mantimentos; Koeler fez
os preços. Por certos motivos Koeler abandonou este privilegio e consentiu o
commercio livre, mas como os colonos nunca receberão dinheiro, nunca puderão
pagar, os negociantes e estes negarão dar-lhe mantimentos e preferirão fechar
suas casas. Então appareceu a fome.
Koeler
forçou os colonos de entregar a elle as cartas destinadas para a antiga pátria
com o pretexto que elle as sabia expedir seguramente. Uma carta que dizia a
verdade foi destruída mas quem achava tudo bello e magnífico foi gratificado.
Koeler
foi, além disto, um homem horrivelmente voluptuoso. Quem tinha uma mulher
bonita ou uma filha moça, recebia uma colônia bem situada ou serviço lucrativo
ou um emprego como inspector.
Não
satisfeito de seduzir elle mesmo, chamou os brasileiros mais distinctos da
Côrte para lhe ajudar. A elles foi obrigado a entregar a mulher, se não queria ver
o pae ou marido na cadeia e seus parentes na miséria. Muitos deixarão então a colônia
e ainda hoje o nome da senhora Wether está altamente honrado, que com um
bofetão colossal deitou ao chão o director Koeler.
Os
sucessores de Koeler forão seus semelhantes. Assim rodeados de necessidades, de
miséria e de calamidades sem Pastor que podia distribuir a consolação da
religião aqui tão necessária, cahirão os colonos também no mais profundo
abandono mora. O marido não estava seguro de sua mulher nem o pae de sua filha.
Moças e mulheres forão formalmente roubadas, meninas de 9 e 11 annos forão
atiradas á rua e deshonradas. E ele o homem allemão prestou-se como
atormentador e algoz de pobres colonos.”
Pastor
Stroele, 1865.
Major Júlio Frederico Koeler
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
SILVEIRA, J. D. “A correspondência
do pastor Stroele com a Sociedade de Missões da Basiléa”. In Tribuna de
Petrópolis, 19 e 20 de Março de 1942.
Tão distinto o canalha.
ResponderExcluirDeveria ser proibido ter homenagens e estátuas deste verme em Petrópolis!
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirPoderemos traçar um perfil psicológico a partir daqui?
ResponderExcluirPodemos analisar esta carta sob o ponto de vista pontual, porem o que ficou de concreto é o que a realidade e os fatos construíram ao longo dos anos, e vamos sim continuar comemorando e exaltando o legado de Koeler como sempre fizemos.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostaria que o elemento que fez o comentário aí em cima sobre Koeler tivesse a coragem de colocar seu nome e não se acovardar e se esquivar, não tem moral.
ResponderExcluirMuito importante esta carta para desvelar a verdadeira história e mostrar as mazelas dos podres poderes que forjaram esta nação tão corrupta, com homens inescrupulosos em sem caráter, mais um ridículo tirano chamado Koeler.
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