sábado, 9 de julho de 2016

KOELER VILÃO OU HERÓI?

 Segue abaixo a transcrição da carta do Pastor Stroele da Igreja Luterana, para a Basileia (atual região da Alemanha) publicada em um jornal na Alemanha, relatando as atrocidades cometidas contra os colonos, desde a saída deles de Dunquerque até chegarem em Petrópolis, quando continuaram a sofrer privações e se serem submetidos a um sistema corrupto e de favorecimento criado pelo Major Julio Frederico Koeler.

“No anno de 1843 tomou o governo da Provincia do Rio de Janeiro a resolução de construir uma via de communicação com a Província de Minas. Para alcançar de uma maneira barata forças de trabalho para execução desse projecto fez o presidente da província em 15 de Julho de 1844 com Eugenio Pisani, agente de Charles Delrue & Cia., em Dunquerque, um contracto no qual essa casa obrigou-se a fornecer 600 famílias. O governo prometeu tomar a si as despezas de transporte e pagar por uma pessoa adulta 245 francos e para uma criança de 5 a 15 annos, metade dessa soma. Delrue, então, fez tocar o tambor de engajamento na Allemanha, especialmente no Rheno, na certa “presopição”que o manso allemão acreditaria nas falsas promessas de seus agentes e seguiria com bom ânimo para a terra das palmeiras e dos diamantes. Assim succedeo. Disse a estes pobres que ganhariam, sem grande pena, 3 fl. 30 kr. (moeda allemã 2.500); a terra era tão insigne e magnífica que apenas só poderia comparar o Paraizo com ella; receberiam terras a vontade, além de Pastores e Professores de seu idioma. Em pouco tempo estavam juntas 600 famílias. Estas venderão por preço barato os seus bens e deixarão com corações alegres sua pátria. Mas apenas tinhão deixado as fronteiras allemãs, começou a miséria. Chegadas a Dunquerque, não acharão ainda promptos os navios destinados para elles. Os capitães não os aceitarão; dirigirão-se a Delrue e este mandou a bordo  e capitães outra vez a Delrue. Deste modo, mandados para lá e para cá, errarão sem conhecer a língua franceza, com seus diminutos bens pela cidade. Diversas noites precisarão passar fora, ficarão roubados e escarnecidos. Os Consules allemães negarão auxílio dizendo que eles agora erão emigrantes e por isso não erão mais allemães. Emfim forão alojados em adegas, estrebarias e em outros míseros cantos, mas foram obrigados a sustentarem a sua custa, conquanto Delrue recebeu para esse sustento 60 francos.
Si já estavam em grande miséria em Dunquerque, acharam a bordo uma existência verdadeiramente horrível. Enquanto o sustento devia consistir de comidas fortificantes e nutritivas, que no contracto estavam especificados, os miseráveis mantimentos que recebiam apenas os livrara da morte pela fome.
Quando chegou o navio ao Rio de Janeiro estava cheio de provisões e estas então foram vendidas a altos preços.
O navio chamava-se “Maria” e o capitão scelerado – Castell. A esta vida de fome ajuntaram ainda castigos corporaes e a deshonra das pessoas femininas; se os Paes defenderam suas filhas ou os maridos suas mulheres foram por algumas horas amarrados no mastro do navio e queimados ao calor do sol, e também por muitas vezes maltratados.
Quando enfim entraram no porto do Rio de Janeiro, que estava cheio de vida, com suas verdes e florescentes ilhas, suas risonhas chácaras e margens parecentes jardins e viram a cidade que estava situada n’uma ponta quadrada da terra resaltada,o sereno firmamento e os pittorescos montes, cortados por deleitosos vales, cobertos de Mattos de laranja e limões, então fizeram exclamações de júbilo, esqueceram-se de todas as privações, pensando que podiam descançar e restabelecer-se nessas praias que tão risonhas olharam para elles; porém os pobre! Acharam-se ainda mais miserável, ainda mais horrível.
O governo, no entanto, tinha-os abandonado.
Com o projecto de construir estradas e canaes para o interior da província do Rio de Janeiro e estabelecer uma via de communicação com Minas Geraes, não se lembrou mais dos trabalhadores engajados na Europa e por isso não tinha feitos preparativos alguns para alojal-os.
Foram desembarcados na Praia Grande. O ardente calor, o desconhecimento da língua, a falta de mantimentos e de segurança contra os negros inclinados a roubar e a immoralidade canalha dos mulatos, levarão os deploráveis emigrantes a total desesperação.
Nascerão enfermidades em pouco tempo (em todo três semanas) salvou a morte 314 pessoas das suas misérias.
Finalmente, o corpo do commercio allemão “compaixou-se” de seus pobres compatriotas e implorou a compaixão do Imperador para que se empenhasse para esses miseráveis.
D. Pedro, um monarcha benigno e benevolente, estava logo prompto a dar-lhe efficaz soccorro.
Elle comprou em parte, por sua própria custa, um numero considerável das obrigações que lhes erão impostas pelos contractos. Uma parte dos emigrantes mandou levar para outras colônias, outros, mandou transportar para sua propriedade do Córrego Secco, para fundar ali uma residência de verão e uma colônia, ainda que duas tentativas de colonização alli já se tinhão malogradas. Petrópolis, como se chama o lugar, está situada a 25 léguas do Rio; a terra é muito montanhosa, cortada por profundos valles e travessado por innumeros riachos.
A temperatura é 10 gráos differente da do Rio de Janeiro, desagradável, sempre nebulosa, turva; os chuveiros são horríveis, o chão é frio, humido de modo que muito não prospera.
Para aqui forão, pois transportados esses pobres emigrantes allemães. A cada um foi dado algum trato de terra para os primeiros dez annos livres de impostos e depois tem de pagar um pequeno imposto annual.
Na chegada dos colonos, Petrópolis era uma pobre aldeia, cercada de mattos virgens.
Se os colonos já tinhão soffrido de máo e de duro na sua estada em Dunquerque, na viagem do mar e em Praia Grande, tudo isto desappareceu diante de uma vida infernal em Petrópolis; não havia de comer, nem moradia, nem caminhos, nada senão o matto virgem, neblinas, chuveiros e uma luta amargosa contras reptis venenosos. Uma epidemia dizimou-os; a desesperação na providencia divina abalou as suas consciências religiosas. A bebedeira e a immoralidade de toda espécie augmentou ainda a desgraça delles.
A isto tudo se juntou o mau estado em que se achavão as autoridades e caracter totalemente corrupto do primeiro director, official no serviço brasileiro, Julio Koeler que reuniu em si na mais bella floresncia a fraude, a traição e a immoralidade.
O governo concedeu para a construcção de ruas e caminhos mensalmente a somma de 45.000 francos. Havia pois serviços e bons ganhos; os colonos trabalharão bem e constantemente, mas não receberão pagamentos e sim tudo por conta. Koeler tinha o privilegiode estabelecer vendas. Os colonos receberão mantimentos; Koeler fez os preços. Por certos motivos Koeler abandonou este privilegio e consentiu o commercio livre, mas como os colonos nunca receberão dinheiro, nunca puderão pagar, os negociantes e estes negarão dar-lhe mantimentos e preferirão fechar suas casas. Então appareceu a fome.
Koeler forçou os colonos de entregar a elle as cartas destinadas para a antiga pátria com o pretexto que elle as sabia expedir seguramente. Uma carta que dizia a verdade foi destruída mas quem achava tudo bello e magnífico foi gratificado.
Koeler foi, além disto, um homem horrivelmente voluptuoso. Quem tinha uma mulher bonita ou uma filha moça, recebia uma colônia bem situada ou serviço lucrativo ou um emprego como inspector.
Não satisfeito de seduzir elle mesmo, chamou os brasileiros mais distinctos da Côrte para lhe ajudar. A elles foi obrigado a entregar a mulher, se não queria ver o pae ou marido na cadeia e seus parentes na miséria. Muitos deixarão então a colônia e ainda hoje o nome da senhora Wether está altamente honrado, que com um bofetão colossal deitou ao chão o director Koeler.
Os sucessores de Koeler forão seus semelhantes. Assim rodeados de necessidades, de miséria e de calamidades sem Pastor que podia distribuir a consolação da religião aqui tão necessária, cahirão os colonos também no mais profundo abandono mora. O marido não estava seguro de sua mulher nem o pae de sua filha. Moças e mulheres forão formalmente roubadas, meninas de 9 e 11 annos forão atiradas á rua e deshonradas. E ele o homem allemão prestou-se como atormentador e algoz de pobres colonos.”
Pastor Stroele, 1865.

Major Júlio Frederico Koeler


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SILVEIRA, J. D. “A correspondência do pastor Stroele com a Sociedade de Missões da Basiléa”. In Tribuna de Petrópolis, 19 e 20 de Março de 1942.

8 comentários:

  1. Deveria ser proibido ter homenagens e estátuas deste verme em Petrópolis!

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  3. Poderemos traçar um perfil psicológico a partir daqui?

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  4. Podemos analisar esta carta sob o ponto de vista pontual, porem o que ficou de concreto é o que a realidade e os fatos construíram ao longo dos anos, e vamos sim continuar comemorando e exaltando o legado de Koeler como sempre fizemos.

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  5. Gostaria que o elemento que fez o comentário aí em cima sobre Koeler tivesse a coragem de colocar seu nome e não se acovardar e se esquivar, não tem moral.

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  6. Muito importante esta carta para desvelar a verdadeira história e mostrar as mazelas dos podres poderes que forjaram esta nação tão corrupta, com homens inescrupulosos em sem caráter, mais um ridículo tirano chamado Koeler.

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