Essa publicação é uma homenagem
ao saudoso jornalista Álvaro Zanatta, que realizou um levantamento histórico e
escreveu um livro com as histórias e as lendas das ruas de Petrópolis, “Histórias
e Lendas das Ruas de Petrópolis”, que não foi publicado devido a sua morte logo
após o término do livro.
O Quarteirão Vila Imperial propriamente dito
não é tudo o que se popularizou chamar de Centro Histórico de Petrópolis, mas
sim um hexágono quase perfeito, que nos desperta a atenção ao observarmos as
plantas da cidade desde Koeler, em 1846. Formado pela primeira metade da Rua do
Imperador, Rua da Imperatriz, Tiradentes, Avenida Koeler e Rua Dr. Nélson Sá
Earp, que formava o “O” pequeno de caminhadas do imperador no século XIX e do
presidente Vargas no século XX.
Esse hexágono é chamado por “Villa” na planta
de Koeler, e na de Reymarus de 1854 aparece um grande “I”, indicado na legenda
também apenas por “Villa”. Na planta do major Taunay de 1861, encontra-se o
mesmo “I” e na legenda “Cidade”. O termo Quarteirão Vila Imperial surge apenas
no final do período Imperial, abolido com a República, mas surgindo em placas
de esquina, com patrocínio do Touring Club do Brasil, na década de 1950.
No
Quarteirão Vila Imperial, além de ser construído o Palácio Imperial, foram
vendidos ou doados lotes a membros da corte e
capitalistas do Império. Cercado pelos quarteirões coloniais, de onde
provinha a mão de obra barata para as construções dos palacetes, sobrados e
bangalôs da elite, chegavam também o leite, queijos, linguiças e hortaliças,
produzidos e cultivados pelos colonos.
Para ser ir da Corte a Minas Gerais subia-se,
primeiramente, pela Estrada Normal da Estrela, não se passava pela Vila e
prosseguia-se pela atual Estrada Mineira. Com a construção da Estrada União e
Indústria, as carruagens e depois os autos, por ela passavam, vindo pela Vila
Teresa e mais tarde, pelas Renânias, com a abertura da Estrada Rio-Petrópolis,
em 1928 o que perdurou até a construção da Rodovia do Contorno de Petrópolis,
em 1959. Também na vila se construiu a Estação da Estrada de Ferro, mais tarde
Estação Rodoviária Imperatriz Leopoldina.
O Quarteirão Vila Imperial foi palco das
maiores manifestações políticas, esportivas e sociais da cidade. Centro
comercial desde a fundação da Imperial Colônia de Petrópolis, nela se construiu
os primeiros hotéis e teatros petropolitanos; os poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário aí se encontravam, sendo também a região da maioria das agências
bancárias, consultórios médicos e advocatícios.
Aliás, a concentração da vida comercial
petropolitana no Quarteirão Vila Imperial é, e sempre foi, o grande problema da
cidade. Até centros atacadistas, como grandes armazéns, e mais tarde
supermercados instalaram-se na Vila; por certa época, em quase toda a sua
extensão. Ponto inicial dos transportes coletivos urbanos desde o século XIX,
sem terminais próprios, e com estacionamento à margem das ruas e do passeio.
Todos esse fatores, tamanha
concentração, fez com que, em meados do século XX se iniciasse uma corrida imobiliária
desenfreada, pouco ou nada planejada pelo poder público. Antigos casarões foram
progressivamente sendo derrubados para a construção de arranha-céus, na ânsia
de ser “noviorque” da serra; o descendente de colono ou migrante bem sucedido,
desde cedo, passou a almejar o Quarteirão Vila Imperial: vendia seus prazos,
lotes ou o que fosse e mudava-se para os novos edifícios, deixando boa parte
dos Quarteirões para o veranista construiu suas casas de campo e corretores
inescrupulosos lotearem, legal ou ilegalmente.
Foi no Quateirão Vila Imperial onde transitou
o primeiro automóvel em Petrópolis. A primeira viagem de automóvel desde o
antigo Distrito Federal (Rio de Janeiro) a Petrópolis foi realizada entre os
dias 6 e 9 de março de 1908. O veículo, de marca Dietrich, aqui chegou
conduzido pelo srs. Brás de Nova Friburgo, Gastão de Almeida e o chamado à
época “machinista” Jean Chocolaty. Os “bravos” partiram do Rio de Janeiro na
sexta-feira, 6 de março, às 13 horas, e a Petrópolis chegaram na segunda-feira,
9 de março, ao meio-dia, na Av. XV de Novembro (atual Rua do Imperador).
O primeiro avião a sobrevoar a cidade fez
evoluções sobre o Quarteirão Vila Imperial a 28 de maio de 1912, pilotado pelo
aviador Frances Roland Garros (o mesmo homenageado pelo torneio francês de
tênis), tornando conhecido o novo meio de transporte aos que não haviam se
abalado, no mesmo dia, a uma excursão a Corrêas, onde o aviador italiano
Ernesto Dariolo aterrissou e alçou vôo no antigo Prado (área ocupada hoje por
um conjunto residencial e um depósito de refrigerantes). O primeiro helicóptero
também sobrevoou o Quarteirao Vila Imperial
vindo do Rio de Janeiro, em 19 de novembro de 1947 e aterrissando no
Quitandinha.
A iluminação pública no Quarteirão Vila Imperial surge a partir de
1856. Onze ano após a fundação da Colônia começam a ser instalados lampiões de
azeite de baleia, malcheirosos, em postes de ferros pintados de preto. A partir
de 1866 começa-se a falar sobre iluminação “mais moderna”, a gás, o que nunca
saiu das intenções. Do lampião de azeite passou-se à iluminação elétrica: em
1896, através do contrato firmado (1894) entre a Câmara Municipal e o Banco
Construtor do Brasil, que vai fornecer energia elétrica e água à cidade, instalam-se
bicos de luz pelo centro da cidade. O contrato com o banco durou até 1939. Foram
feitas melhorias na iluminação do Quarteirão Vila Imperial ainda nos anos de
1942, 1956, 1967 e 1992.
Uma boa história ou lenda do Quarteirão Vila
Imperial, contata por esotéricos ou mesmo por um tecnocrata amigo, está nas
cruzes de Malta que se encontram nas pedras de meio-fio, aleatoriamente, pelas
ruas que primeiro foram calçadas na Vila, ou seja, entre o final do século XIX
e o inicio do século XX. Seriam marcar a indicar residências de Cavaleiros
Templários? Ou a marca pessoal de algum canteiro lusitano, nacionalidade da
maioria dos primeiros calceteiros petropolitanos? Seja qual for a origem, é
interessante exercício procurar localizar essas cruzes nos meio-fios; indico
um: em frente à porta central da Câmara Municipal, do outro lado da rua.
Álvaro Zanatta.
Planta do Quarteirão Vila Imperial feita por Koeler em 1846