A bela manhã de maio
convidava o petropolitano ao ar livre.
As lindas e silenciosas
avenidas do Quarteirão imperial estavam inundadas pelo sol morno e gostoso que
abrandava a friúra do ventinho de inversa que já se aproximava.
Os pardais cantando,
cruzavam as ruas alegremente, enquanto que os sabiás, à cata de sementes
preferida, chilreavam com energia nas magnólias.
De tão belo o dia, dizia-se
pairar no ar, tocada em surdia, estranha e suave melodia. Um hino a natureza,
provavelmente!...
Chegamos, porém à velha
Bacia, ponto de reunião de crianças e velhos nas manhã de inverno.
A meninada brinca,
animadamente sob os olhares atentos das babás, enquanto que os mais velhos,
sentados nos bancos mais batidos pelo sol, leem os jornais, conversam e tiram,
às vezes, até seus cochilos...
Como sempre, lá estavam
naquela manhã, sentados no banco predileto, o tabelião aposentado e historiador
João Duarte da Silveira e postalista, também aposentado e cronista Antero
Palma.
Os jornais foram lidos do
principio ao fim; os assuntos do dia foram analisados e discutidos com toda a
minúcia; e o passado foi recordado com a costumeira nostalgia...
A manhã, porém, já se ia alto. As crianças se
haviam retirado, o sol abrasava e a hora do almoço estava próxima.
Um diacho de preguiça tomava
conta dos dois amigos que, alheios a tudo permaneciam quietos no banco.
Mas eis que, em dado
momento, Antero Palma, olhando para a estátua do Imperador, vê coisa muito
estranha. Pedro II baixava a mão esquerda que, havia tanto tempo amparava a
face; descruzava as pernas e, levantando-se da cadeira, pulava agilmente para o
chão. Voltando-se para o Palácio Imperial, para ele logo se dirige através da
ponte da Bacia.
Vencida a emoção, Antero
Palma, por sua vez levanta-se do banco e segue o velhos Imperador. Nem se
lembra do companheiro Silveira.
Com o passo firme e
respondendo cortesmente aos cumprimentos dos transeuntes, Pedro II atravessa a
praça, toma a Avenida 7 de Setembro e chega, rapidamente, ao grande portão do
Parque Imperial.
Dois fidalgos, muitos
conhecidos, aguardavam o imperador visitante: os condes de Aljezur e de
Paranaguá. Feitos os cumprimentos seguem os três rumo ao palácio.
Na rampa de acesso à porta
principal, formam alas os funcionários do Museu Imperial, tendo à frente, todo
sorridente, o diretor Alcindo Sodré.
Sua Majestade, muito afável,
a todos cumprimenta e atinge o saguão, cuja a entrada é convidado a calçar as
pantufas.
Pedro II exita. Chinelos
para ele, o Imperador???
Posto a par, porém, da
exigência regulamentar da casa, obedecida até pelos presidentes da República, o
velho monarca sorri com humildade calça as tais pantufas.
Atento, minucioso, Sua
Majestade percorre, peça por peça, todo o palácio, pedindo informações sobre
tudo de estranho que encontrava. Amiúde, interrompia a resposta de seus
cicerones às perguntas que formulava, com sua frase habitual: - Já sei, já sei!
Foi na sala do trono, no
entanto, o local em que mais se demorou. Ali, ante o trono dourado, não pôde
conter a emoção e as lágrimas correram a face.
Quantas e quantas vezes,
outrora, trajando as vestes imperiais, tendo à mão o cetro de ouro, e à cabeça
a coroa imperial cintilante de pedras preciosas, se sentara ali naquela mesma
cadeira para receber as reverencias de seus súditos!... e como eram, então,
numerosas e exuberantes as demonstrações
de amizade, respeito e fidelidade que recebia!
Via-se, depois, já
destronado, semi abandonado, no modesto hotel de Paris, enquanto que muitos
daqueles que mais constantes nas mesuras e nos salamaleques aderiam, sem
cerimônia, à república, e passavam a bajular, com igual veemência, aos novos
senhores.
De pé, ereto no meio do
salão, e voltado para o trono, D. Pedro II, naquele momento revelava nos seus
belos olhos azuis a amargura que um dia, devia ter lhe invadido a alma.
E, à lembrança de muitos
presentes, vinham, então, as palavras sentidas do monarca no exílio:
“Mas a dor que excrucia que maltrata
A dor
cruel que o animo deplora,
Que
fere o coração e pronto mata,
É ver
na mão cuspir à extrema hora
A mesma
boca aduladora e ingrata.
Que
tantos beijos nela deu outrora.”
Repentinamente, sem que
ninguém esperasse, o Imperador se retirou da sala, saiu do Palácio e
desapareceu em meio ao arvoredo do jardim.
Antero Palma, no entanto, levantara-se do
banco, estremunhado, saindo do pesadelo. Dando com a estátua do imperador bem à
frente, acalmou-se e tratou logo de despertar o amigo que estava tirando um cochilo ao seu lado no banco. Era
muito mais de meio-dia e as famílias já deviam estrar preocupadas...
E lá se foram dos dois rumos as suas casas,
pondo fim a mais uma reunião matinal naquela bacia de tão gratas recordações,
para ambos.
Mas não foi só o saudoso
Antero Palma, que se referiu ao aparecimento do espectro do Imperador em nossa
cidade.
Já em 1904, outro cronista petropolitano,
Gregório de Almeida, nos contava a seguinte história:
“Correu o boato, não sabemos
com que fundamento de que o vulto do senhor D. Pedro II aparece, de tempos em
tempos, nas alamedas do parque imperial. Há mesmo quem afiance ter visto o
espectro calmo, grave, meditabundo, caminhas lentamente, sem que uma só
folhinha seca, esmagada pelos pés do fantasma, fizesse o mínimo ruído.
Vagarosamente, todo de branco, com a cabeça pendida para o peito, como que em
profunda meditação, caminhava; Seus cabelos brancos crescidos caem-lhe pelos
ombros; sua barba, também longa e branca, orna-lhe o peito; na figura cheia de nobreza, tem
ainda alguma coisa de majestoso da sua raça e reis e imperadores; da raça
arqueducal de sua mãe, da raça de Maria Antonieta.”
Quem foi o escultor e quando foi feita dessa estátua de D. Pedro ll ??
ResponderExcluirQuem foi o autor dessa estátua de D. Pedro ll, e em que ano ??
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