terça-feira, 25 de junho de 2013

PROPOSTAS PARA CONDUÇÃO URBANA EM PETRÓPOLIS, NO FINAL DO SÉCULO XIX

Alcindo Sodré

Parte do Arquivo Municipal, contem alguns documentos relativos a projetos de transportes urbanos, apresentados ao poder público em fins do século dezenove.
A 30 de Março de 1878, dava entrada no Paço Municipal o seguinte requerimento, enviado pelo Presidente da Província, a quem fora dirigido:

 “Alfredo Gomes Netto, Cidadão Brasileiro morador actualmente em Petropolis na rua Bourbon*, vem respeitosamente solicitar de V. Exa. A graça de conceder-lhe o privilegio de que passa a expor.
 Tendo o suplicante longa pratica de emprego de Carris de ferro, por já ter servido em uma das principaes emprezas da Corte por longo tempo, deseja obter privilegio por 50 annos para estabelecer na Cidade de Petropolis uma empreza de trilhos urbanos, destinada ao transporte de passageiros.
 Os lugares aonde o supplicante deseja construir linhas férreas são os seguintes: Villa Thereza e Cascatinha conforme a planta já apresentada a Ilustríssima Câmara Municipal.
 O supplicante compromette-se a não cobrar mais que cem réis por pessoa na linha do centro; duzentos réis na da Villa Thereza e quatrocentos réis na da Cascatinha. Visto como n’esta Cidade não conta o supplicante auferir lucros durante o inverno, mas sim durante quatro ou cinco mezes no verão pelo recurso das famílias que vêm da Corte; por isso deseja o supplicante obter a sua pretensão sem ônus algum mesmo fiança para fiel cumprimento do que se trata, visto estar o supplicante bem resolvido a levar avante o assentamento de trilhos pela grande inclinação que tem para assumptos d’esta ordem.
 Durante o período de quatro annos, pretende o supplicante dar por concluído o assentamento de todas as linhas, começando pela linha do Centro, que parte d’ella estará concluída a funccionar em Dezembro do corrente anno para o transporte das pessoas que frequentão o estabelecimento dos Banhos de Duchas. Durante o tempo em que durarem as obras das demais linhas compromette-se o supplicante a por em trafego carros da fórma de bonds singindo-se aos preços acima já estipulados.”

Este requerimento, não mereceu qualquer despacho da Municipalidade, nem mesmo o Arquive-se, embora fosse logo arrolado no arquivo público.
O interessante desse requerimento é verficar-se que em 1878, uma empresa de transporte já projetava instalar serviços em três linhas, que ofereciam maiores lucros prováveis, Circular, Vila Thereza e Cascatinha, e o mesmo tempo plano viria realizar a Companhia Brasileira em 1910, trinta e dois anos depois!
A 17 de Dezembro de 1880, dois anos após a primeira, a Câmara Municipal recebia a seguinte proposta, de B. Caymari e Galdino J. de Bessa:

 “Os abaixo assignados julgando de necessidade o estabelecimento de uma linha de transvia que dê fácil e commoda communicação a seus habitantes, e bem assim a conducção de cargas e bagagens de que tem sido dotadas outras cidades deste Império, algumas de menor importância que Petropolis, vem respeitosamente propor V. Sas. Illmas. Que se sirvam otorgarem-lhes a Concessão para o estabelecimento de uma linha férrea puxada por animaes de vitola estreita simular a da Comp. Carris Urbanos sob as seguintes condições.
1ª. Os abaixo assignados de acordo com a Illma. Câmara determinaram as ruas e logares próprios para o assentamento de trilhos.
2ª. O preço de passagem para os pontos terminaes são de 200 réis para os adultos e 100 réis para menores.
3ª. Os empregados da Polícia, Correia e Municipalidade terão passagem gratuita, assim como as malas do Correio.”
O Presidente interino da Câmara, Bartolomeu Pereira Sudré mandou o papel à comissão respectiva, e esta, pelo vereador Antonio José Corrêa Lima, opinou: “A commissão é de parecer que seja deferido a pertenção dos peticionários por ser de interesse local, e grande vantajem para esta cidade”. E o Presidente concluiu: “Concedida na forma do parecer, devendo a confecção de obras  publicas, ficando sujeito a approvação da Câmara”.

 Feita a concessão, até 30 de Julho de 1883 não tinha ainda a nova empresa iniciado os trabalhos, e nesta data, por seu procurador Quintino Bocaiúva, requeria á Câmara prorrogação de três meses para começar a executá-los, disposta a pagar as multas em que houvesse incorrido, e ainda faria a Câmara interessantes ponderações sobre a natureza dos trilhos a serem assentados:  

“É difícil estabelecer uma perfeita adherencia do macadam, uma vez revolvido, com os trilhos, e a conseqüência  é ficarem estes sobrelevados ao leito das ruas impedindo o transito dos vehiculos sobretudo em sentido transversal. Esse effeito é impossível de remediar e o estrago dahi resultante é de tal ordem que a própria Câmara será a primeira que tenha de lastimar o emprego de semelhantes trilhos, pela ruína a que verá reduzidas as ruas dessa formosa cidade. Os trilhos adotados na opinião do abaixo assignado são os de fenda, como os actualmente impostos pelo Governo Geral às Companhias de Ferro-Vias Urbanas, na cidade do Rio de Janeiro. A sua collocação é mais firme e mais conveniente a Conservação do leito da via publica por poderem ficar ao nível do calçamento ou do macadam. De todo modo a Câmara em sua sabedoria resolverá o melhor”.

 Consultadas as Comissões de Obras e Legislação, estas, pelos respectivos relatores, Alexandre Tridon e Candido José Valle de Almeida, foram inteiramente favoráveis ao peticionário. Entretanto, segundo se verifica no despacho assinado pelo Presidente Kopke, “a Câmara indefere a petição e declara caduca a concessão”.
 E assim morria a última proposta para bondes de tração em Petrópolis, relevando-se registrar as restrições que então já se fazia aos trilhos salientes, que infelizmente viriam ser adotadas pela Brasileira em 1910!
 A 26 de Março de 1898, e assinada por André Tramu, a Municipalidade receberia curiosa proposta para o estabelecimento de bondes automóveis, a vapor e gás de petróleo:

 “A installação desses carros nesta bella cidade de Petrópolis, primeira da América do Sul que terá adoptado esse melhoramento empregado para o transporte de passageiros entre o centro e arrebaldes, produzirá um agradável aspecto, offerecendo toda a commodidade e segurança”.

 E adianta: “Para melhor orientação da perfeição e segurança d’esses carros juntamos o modelo que póde ser alterado fazendo-se aberturas lateraes”.
O sistema, era a grande novidade do momento, pois era o veículo com maquinismo precursor do automóvel: “As experiências dos carros a vapor omnibus, Mail coch, Berlines Cia., tendo sido feitas em França e Inglaterra, em presença das autoridades e engenheiros e tem sido tão satisfatórias, que numerosas emprezas foram installadas para substituir os antigos omnibus nas cidades de Brieux, Grenoble, St. Etienne e muitas outras, onde tem funccionado, com grande enthusiasmo da população.
A cidade de Paris é actualmente cortada por ‘automoveis’ de todos os systemas, sendo adoptado de preferência o systema ‘Farman’.
O motor a gaz de petróleo é da força de cinco cavallos, póde mover-se tanto para diante como para traz e póde-se attingir em lugar plano a marcha de 40 kilometros por hora.
As viagens diárias serão feitas em 6 direcções, sendo para Cascatinha, para a Terra Santa, para Villa Thereza, para o Palatinado, para a Quitandinha e para a Mosella”.

 Aceita, em principio, pela Câmara, essa interessante proposta, não vingou ela, todavia, e nos papéis, vê-se o parecer da Comissão de Fazenda, aconselhando que “fosse annulada a concessão”.

*Rua Boubon, atual Dr Nelson Sá Earp.


Retirado do Volume II dos Trabalhos da Comissão do Centenário, 1939.

Projeto de Onibus para Petrópolis, apresentado junto ao requerimento de André Tramu á Câmara Municipal.

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