sexta-feira, 27 de setembro de 2024

FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS

 Prof. Lourenço Luiz Lacombe, I.H.P.

 Petrópolis é uma consequência do Caminho Novo em 1725, por Bernardo Soares Proença.

Às margens desse caminho distribui o rei de Portugal várias sesmarias, sendo a principal delas, concedida ao próprio Proença pelo seu trabalho na abertura da estrada.

Com o correr do tempo, e em virtudes de sucessões e vendas, veio a propriedade transformar-se em três fazendas distintas: Itamarati, Córrego Seco e Quitandinha.

No início do sec. XIX aparecem as terras do Córrego Seco como propriedade de Manoel Viera Afonso, que detinha ao que parece, por usucapião.

Sua viúva, Cesariana Josefa de Jesus, falece em 1825 e as terras da fazenda são descritas em seu inventário como “frias e inferiores nem servem para cultivar” [...] “e não davam mantimentos por serem chegas à serra”.

Tem a “casa dividida, coberta de telhas muito antiga” [...] “muito arruinada com os esteios baldrames tudo cortado.”

Não convida dividir uma propriedade em tão precárias condições, entre os 9 herdeiros, o oferece-se o testamenteiro Serginho J.V.A., filho primogênito da testadora e ficou com a fazenda, responde e ficou demais herdeiros a quantia de duzentos mil réis, valor da avaliação então feita, importância logo aceita.

Pelo que parece, aí não morou José Veira Afonso, pois era proprietário de terras nas vizinhanças e Córrego Seco não deixou ser feita nenhuma melhoria, até ser vendida ao Imperador.

D. Pedro I passou a frequentar a fazenda do Padre Correia desde quando sua filha a Princesa d. Paula, tornou-se hóspede do sacerdote por indicação médica que lhe prescreveu mudanças de ares.

A presença de D. Paula na fazenda é documentada por vários viajantes que por ali passaram e alí se hospedaram durante o 1º Reinado.

Até 1826 ia ao Imperador em companhia de D. Leopoldina visitar a filhinha enferma.

De 1829 em diante, com a nova Imperatriz, a bela D. Amélia de Beauharnais a qual pareceu ser bastante penoso a proprietária D. Arcângela Joaquina da Silva, irmã e herdeira do Pe. Correia, as periódicas estadas da Família Imperial na Fazenda. Dessas visitas de D. Pedro I ficou o nome de Poço do Imperador, atribuído a uma bacia natural do Rio Morto.

Pretendeu então D. Amélia comprar a fazenda que o Pe. Correia tornara célebre, proposta pela nova proprietária que alegou motivos de família por não aceitar ao imperial desejo. Mas provavelmente por indicação da própria D. Arcângela foi indicada a fazenda vizinha do Córrego Seco.

Os entendimentos com o Major Viera Afonso chegaram a bom termo em 6 de fevereiro de 1830 comprava D. Pedro I o Córrego Seco por vinte contos de réis, preço cem vezes maior do que custava ao Serginho, por 5 anos antes do inventário materno!

Denominou o Imperador as terras adquiridas de Fazenda da Concórdia, nome também atribuído ao palácio que ali pretendia erguer, chegando a encomendar o plano e a realização orçamento. Mas os acontecimentos políticos se complicaram – e Concórdia tão almejada, ficou apenas num sonho que se esvaiu, e o Imperador se vê compelido a abdicar no ano seguinte.

A fazenda – que voltou inexplicavelmente, a chamar-se de Córrego Seco – passou  a ser administrada através dos procuradores de d. Pedro I pelo sistema de arrendamento.

Em 1834 morreu em Portugal o ex-Imperador e no seu inventário, doa o Córrego Seco a d. Pedro II. Mas a fazenda estava “lançada” aos credores para que o jovem imperador pudesse receber a herança, foi necessário a abertura de crédito pela Assembleia Geral, no valor de 14 contos de réis (como se desvalorizam as terras...) para levantamento da hipoteca.

Não houve porém, interrupção no processo de exploração das terras, continuando o Córrego Seco a pressão de arrendatário a arrendatário.

Mas o mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, que servia a d. Pedro II sempre sonhara em realizar o plano do antigo Imperador, erguer no Córrego Seco, um palácio de Verão. Mas como fazê-lo, numa fazenda desabitada, improdutiva e de difícil acesso?

Foi quando terminou o prazo de um desses contratos de arrendamento, apresentou-se como candidato o nosso arrendamento o jovem Major de Engenheiros, Júlio Frederico Koeler, que pretendia estabelecer na propriedade imperial uma colônia agrícola de alemães.

Ora, o projeto do Major Koeler vinha dar ao de Paulo Barbosa, os meios de concretizá-lo. Assim entrosados os dois planos são apresentados ao Imperador que os aprova de maneira mais solene havendo Decreto Imperial, nº 155 de 16 de Março de 1843, que dizia:

“Tendo approvado o plano que me apresentou Paulo Barbosa da Silva, do Meu Conselho, Official Mór, e Mordomo de Minha Imperial Casa, de arrendar a Minha Fazenda denominada “Corrego Seco” ao Major de Engenheiros Koeler; pela quantia de um conto de réis annual, reservando um terreno sufficiente para nelle se edificar um Palacio para Mim, com suas dependencias e jardins, outro para uma povoação, que deverá ser afórado a particulares, e assim como cem braças dum e outro lado da estrada geral, que corta aquella Fazenda, o qual deverá tambem ser afórado a particulares, em datas ou prazos de cinco braças indivisiveis, pelo preço porque se convencionarem, nunca menos de mil réis por braça :
Hei por bem authorisar o sobredito Mordomo a dar execução ao dito plano sob estas condições. E outrosim o Authorizo a fazer demarcar um terreno para nelle se edificar uma Igreja com a invocação de S. Pedro de Alcantara, a qual terá uma superficie equivalente a quarenta braças quadradas, no logar que mais convier aos visinhos e foreiros, do qual terreno lhes faço doação para este fim e para o cemiterio da futura povoação. Ordeno portanto ao sobredito Mordomo que proceda aos ajustes e escripturas necessarias, n’esta conformidade, com as devidas cautelas e circumstancias de localidades, e outrosim que forneça a minhas espenças os vazos sagrados, e ornamentos para a sobredicta Igreja, logo que esteja em termos de n’ella se poder celebrar. Paço da Boa Vista deseseis de Março de 1843, vigesimo segundo da Independencia e do Imperio. Dom Pedro II. Paulo Barbosa da Silva. Conforme, Augusto Candido Xavier de Brito.”

O Decreto não fala de Petrópolis, somente em Córrego Seco. Donde, então surgiu o nome? Paulo Barbosa e notas escritas para o livro de Ribergrolles  atribui a si a autoria: “Lembrando-se de Petersburgo, cidade de Pedro recorrido ao Grego e achei uma cidade com este nome no arquipélago, e sendo o Imperador d. Pedro, julguei que lhe caberia bem este nome.”

Mas o plano de Koeler era instalar na fazenda imperial uma colônia agrícola de alemães. Já possuía ele experiência no assunto: em 1837, arribara ao Rio de Janeiro uma navio transportando imigrantes germânicos para a Austrália e que os maus tratos recebidos e o péssimo passadio, provocaram mil revoltas a bordo, obrigando o capitão a desviar-se para a baía de Guanabara. Recusando-se a prosseguir a viagem, foram entregues a Koeler, que estava então, encarregado dos trabalhos da estrada, ligando o Porto da Estrela à Paraíba do Sul, passando por Córrego Seco. Levou Koeler esses seus patrícios a trabalhar nas obras de que estava incumbido; e tão bem sucedida foi essa experiência que mudou a mentalidade dos nossos governantes, partidários até então do trabalho escravo.

Assim, iniciou o Presidente da Província Fluminense, entendimentos com firmas europeias especializadas no intuito de contratar colonos alemães para as obras públicas províncias.

São pois, duas iniciativas paralelas de Koeler! Para colonização de Petrópolis e da Província para as obras públicas. Mas enquanto aquele pretendia gente especializada para sua colônia agrícola, buscava a Presidência Fluminense, operários de um modo geral que contrata, por intermédio de Jênio Pizani, representante de Charles Delrue de Dunquerque, 600 colonos, responsabilizando-se ainda a Província pelas passagens das mulheres e dos filhos menores.

Na tradução do contrato para o alemão foram substituídas palavras mulheres e filhos por família – e, tomada a expressão no seu sentido mais amplo trazendo cada casal, como sua família, parentes em vários graus...

O 1º navio do contrato Virginie, chega ao Rio a 13 de junho de 1845. Façamos um parênteses para imaginar qual teria sido a impressão desses imigrantes: depois de mais um mês de incômoda viagem – cujo passado deixou muito a desejar – atingiram o Rio de Janeiro ao entardecer diante dessa baía imensa ainda cercada de espessa mata, no dia de Santo Antônio, festejado pelos portugueses com fogueiras e foguetórios, fechamos o parênteses.

O navio Justine trazia carga de 13 famílias, mas num total de 170 pessoas, entre velhos e crianças, que não eram certamente, indicados paras as obras públicas provinciais.

E nos dias subsequentes outros navios com idêntica espécie de passageiros... Não estava a província preparada para abrigar toda essa gente. Aquela então para o mordomo o qual por ordem do Imperador, manda que sejam entregues a Koeler. Sobem então a serra e chegam ao antigo Córrego Seco no dia 29 de junho de 1845 que ficou sendo considerado como dia da Colonização de Petrópolis.

Distribui Koeler os colonos pelos prazos assinalados na planta de povoação por ele elaborada, a qual se verifica é anterior à criação do povoado, e sendo assim pode Petrópolis reivindicar o título de 1ª cidade planejada do Brasil. Em torno do núcleo central, nessa planta denominada Vila Imperial, projetou Koeler os vários quarteirões designados com os nomes dos locais de onde procediam os colonos, abrasileirados alguns, no original a maioria Bingen, Mosela, Ingelheim, Siméria, Westfália, Castelânea, Palatinado, Renânia, Worns, Nassau, Darmstadt, Woerstadt.

Estabelecidos nos seus prazos adquiridos pelo sistema de enfiteuse, tinham os colonos como seu primeiro serviço a construção do Palácio do Imperador, iniciados os trabalhos pelo preparo do terreno, o que já vinha sendo feito desde de janeiro de 1845, por africanos livres.

A pedra fundamental foi lançada na presença do Imperador a 18 de julho de 1845, o qual determinou fosse o palácio localizado junto à confluência das ruas do Imperador e da Imperatriz.

As obras seguiram o plano original de Koeler, modificado quanto à frontaria pelo artista italiano Cristófono Bonimi. Grandes artistas se sucederam na administração e decoração da obra: José Maria Jacinto Rebelo, Manoel de Araújo Porto Alegre, J. Cândido e Vicente Marques Lisboa. A Koeler conta apenas a construção da ala direita inicialmente de zinco, substituída mais tarde, e reformada pelos sucessores, depois da sua trágica morte em 1847.

Foi ele enterrado no primitivo cemitério da Colônia, localizado no Triângulo Serrano, onde hoje se encontra a Igreja do Sagrado Coração de Jesus e o Convento dos Franciscanos. Com a inauguração do novo cemitério foram seus restos mortais, transferidos para esse campo santo, enterrados ao lado da Capela, onde permaneceram por longos anos, até que, em 1955 foram transladados para a base da estátua erguida em sua homenagem, obra do escultor Antônio Leraldes.

Jornal: Tribuna de Petrópolis, 25 de junho de 1994.

Palácio de Verão de Petrópolis. 
FRIEDRICH HAGEDORN, TÊMPERA, CA. 1855. ACERVO MUSEU IMPERIAL/IBRAM/MINC


terça-feira, 6 de julho de 2021

HOMENAGEM AO MAJOR JÚLIO FREDERICO KOELER EM 29 DE JUNHO DE 2021

 

Excelentíssimo sr. Hingo Hammes, prefeito interino de Petrópolis

Ilustrissimo sr. Marco Antonio Kling Presidente do Clube 29 de Junho

Ilustrissima sra. Emygdia Magalhães Hoelz Lyrio, presidente de honra do Clube de 29 de Junho

Execelentíssimo sr. Dirk Augustin, Consul-Geral da Alemanha no Brasil

Senhoras e senhores, bom dia!

 

Julius Friederich Köeler, nascido em Mogúncia, no reino da Prússia, em 16 de junho de 1804, e falecido em Petrópolis, a 21 de novembro de 1847, vitimado por um disparo de arma de fogo quando praticava tiro ao alvo com amigos, em sua chácara, na Terra Santa. Militar do exército prussiano, em 1828 veio para o Brasil, contratado para servir ao Exército Imperial Brasileiro. Aqui constituiu família e, em 1831, assumiu oficialmente a nacionalidade brasileira, integrou diversas equipes de trabalho, em construção de estradas e pontes na província fluminense. A 16 de março de 1843, recebeu do Imperador D. Pedro II a honra de planejar e instalar o povoado de Petrópolis e edificar seu palácio de verão. Nomeado primeiro Super-intendente da Imperial Colônia de Petrópolis, conseguiu, em 1845, trazer para fixação no Córrego Seco, por aforamento perpétuo, em benefício do proprietário das terras, imigrantes alemães.

Após essa breve biografia, de nosso homenageado gostaria de compartilhar com os senhores uma crônica, publicada em 1858 no jornal PARAHYBA, escrita por Jean Baptiste Binot.

Binot, cidadão francês contemporâneo de Koeler no alvorecer de Petrópolis, montou primitivamente uma chácara no Quarteirão Nassau e mais tarde, no Retiro, outra maior que ainda existe, hoje Orquidário Binot. Aqui criou um completo viveiro de plantas adaptáveis ao nosso clima das quais fazia larga exportação. A ele, deve Petrópolis, em grandes parte o renome de “Cidade das flores”.

Tão grande era o valor de Binot, que foi agraciado com uma comenda pelo Imperador e o Visconde de Taunay incluiu seu nome na obra “Estrangeiros ilustres e prestimosos.”, considerando-o notável horticultor.

Culto e perspicaz foi, talvez, o morador de Petrópolis que primeiro sentiu ou melhor avaliou a irreparável perda que constituiu para o progresso da cidade o acidente ocorrido com Koeler no em, 21 de novembro de 1847.

Passados onze anos, ainda chorava Binot a morte de seu amigo Koeler, ao qual assim se referia no jornal “Parahyba” de 23 de dezembro de 1858:

“Tomou-o a morte no começo de todos os grandes trabalhos que foram esboçados por ele, mas que ficaram suspensos ou paralisados durante muitos anos. Depois de sua morte o progresso da colônia começou a diminuir em razão da má direção que tomou sua administração.

Um forte impulso fora-lhe, porém, dado, e, semelhante a uma locomotiva lançada a todo a vapor derrubando tudo o quanto encontrava em sua passagem, diminuindo a carreira progressivamente, até que mão inteligente apareça para entreter-lhe a renovar-lhe o impulso que recebera.”

E prosseguindo conta-nos o seguinte episódio:

“O Major Júlio Koeler, posto que riscado da lista dos vivos, não abandonou ainda sua querida Petrópolis.

Perguntai por ele aos colonos do Bingen e eles vos dirão que o fantasma do major Koeler aparece de tempos em tempos no seu quarteirão.

Esses bons alemães, tão crédulos e supersticiosos, asseguram tê-lo visto muitas vezes ao cair da noite. Porque não?

Em 1857, por uma bela noite de julho, passeava eu pela Rua D. Afonso, entre a meia noite e uma hora da manhã, e chegando ao pé da casa do Barão do Pilar, pareceu-me ver como que um fantasma apoiado na grade. Lembrei-me do major Koeler e ouvi a seguinte lamentação:

-Oh! Petrópolis, que querem fazer de ti que deixam em tão completo abandono? Esta rua D. Afonso que eu tinha destinado para a residência da aristocracia traçando o plano das casas e alimento, não teve a sorte que lhe destinei.

E as ruas de Joinville, Maria II e da Imperatriz que destinei para morada dos fidalgos e empregados da Casa Imperial, a quem dei os melhores lugares para construírem suas habitações em torno do Palácio, não tiveram melhor sorte do que esta D. Afonso, porque todos negociaram com os favores que concedi e deram-se pressa em vender seus terrenos. Foram eles que concorreram para abatimento de Petrópolis, ao invés de procurarem engrandecê-la!

Oh! Brasileiros, havereis de reconhecer mais tarde o erro em que caístes e comprar muito mais caro, o que vendestes barato, porque Petrópolis há de ser para vós outros um refúgio a que tereis de abrigar-vos para fugir das epidemias do Rio.

Nisto, desapareceu o fantasma e eu achei em seu lugar um manuscrito em francês, predizendo o futuro de Petrópolis que se realizará de 1856 a 1860.

Algumas pessoas que, como eu não desesperaram nunca do futuro glorioso de Petrópolis, saberão com prazer que este belo lugar está destinado a ser o mais formoso ornamento da coroa imperial.”

 Antes de terminar, gostaria de lembrar aos senhores, que aqui aonde estamos não é apenas uma Praça com um monumento, neste local se encontram os restos mortais do Major Julio Frederico Koeler. Considero a maior homenagem a este ilustre cidadão germânico-brasileiro, estar sepultado nesta praça com a sua estátua ao alto, como um sentinela a velar pela nossa querida cidade.

Muito obrigado a todos!

                    

Frederico Haack, na Praça Princesa Isabel. Petrópolis, RJ - 29/06/2021


quinta-feira, 15 de março de 2018

A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS


Dom Pedro II tinha apenas 9 anos quando herdou a Fazenda do Córrego Seco e teve uma grande surpresa. Para garantir o trono em Portugal, seu pai havia contraído muitas dívidas e até as terras do Córrego Seco estavam arrendadas e empenhadas a credores europeus. Ele ia perder tudo. Para evitar que as terras fossem parar em mãos estrangeiras. Por iniciativa do Marquês de Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão, o governo foi autorizado a destinar uma verba para pagar os credores e liberar a fazenda que foi doada ao jovem imperador como presente da nação brasileira, por ocasião da sua maioridade, que foi declarada quando ele tinha apenas 16 anos.
 Como presente não se toma, quando foi proclamada a república em 1889, as terras do Córrego Seco e demais fazendas anexadas continuaram como propriedade particular de dom Pedro II e depois de seus herdeiros, como acontece até os dias de hoje.
 Dom Pedro II, ao contrário de seu pai, tinha ideias mais modéstias para a Fazenda. Pretendia ter apenas uma casa para assim aproveitar o clima serrano. O imperador era uma pessoa controlada com seus gastos e já que que se tratava de uma propriedade particular, quis usar seus próprio dinheiro para a construção. No entanto, o Mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, pensou em plano grandioso para as terras de “Serra Acima”.
 Paulo Barbosa, pensou em palácio cercado por jardins e ao seu entorno, uma povoação, assim a casa de veraneio não ficaria isolada no meio das montanhas deixando a Família Imperial vulnerável a ataques a sua segurança. Tudo foi planejado: o Palácio, a estrebaria, uma casa para empregados e hóspedes, cozinhas, casa de banho, e fora da área palaciana, local para um cemitério, para uma igreja, lojas comerciais e de artesanato. As pessoas que tinham interesse em construir casas ou se estabelecer na região seriam chamadas de foreiras à fazenda, ou seja, tinham o direito de usar os terrenos conforme o planejado, mas não seriam donos da terra que continuaria a ser propriedade da Família Imperial, como é até hoje.
 Apresentado e aprovado o projeto, dom Pedro II, mandou redigir o decreto número 155 de 16 de março de 1843, registrado nos Registros da Mordomia.
 Assim nasceu Petrópolis, imaginada por Paulo Barbosa e carinhosamente chamada por ele de “Minha filha Petrópolis”.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ABAD, Vera. Petrópolis, Cidade Imperial. Editoria Prazerdeler, 2009.

 Apresentação do projeto de Petrópolis, a dom Pedro II pelo Major Julio Frederico Koeler e o Mordomo Paulo Barbosa da Silva. ACERVO MUSEU IMPERIAL

sábado, 9 de julho de 2016

KOELER VILÃO OU HERÓI?

 Segue abaixo a transcrição da carta do Pastor Stroele da Igreja Luterana, para a Basileia (atual região da Alemanha) publicada em um jornal na Alemanha, relatando as atrocidades cometidas contra os colonos, desde a saída deles de Dunquerque até chegarem em Petrópolis, quando continuaram a sofrer privações e se serem submetidos a um sistema corrupto e de favorecimento criado pelo Major Julio Frederico Koeler.

“No anno de 1843 tomou o governo da Provincia do Rio de Janeiro a resolução de construir uma via de communicação com a Província de Minas. Para alcançar de uma maneira barata forças de trabalho para execução desse projecto fez o presidente da província em 15 de Julho de 1844 com Eugenio Pisani, agente de Charles Delrue & Cia., em Dunquerque, um contracto no qual essa casa obrigou-se a fornecer 600 famílias. O governo prometeu tomar a si as despezas de transporte e pagar por uma pessoa adulta 245 francos e para uma criança de 5 a 15 annos, metade dessa soma. Delrue, então, fez tocar o tambor de engajamento na Allemanha, especialmente no Rheno, na certa “presopição”que o manso allemão acreditaria nas falsas promessas de seus agentes e seguiria com bom ânimo para a terra das palmeiras e dos diamantes. Assim succedeo. Disse a estes pobres que ganhariam, sem grande pena, 3 fl. 30 kr. (moeda allemã 2.500); a terra era tão insigne e magnífica que apenas só poderia comparar o Paraizo com ella; receberiam terras a vontade, além de Pastores e Professores de seu idioma. Em pouco tempo estavam juntas 600 famílias. Estas venderão por preço barato os seus bens e deixarão com corações alegres sua pátria. Mas apenas tinhão deixado as fronteiras allemãs, começou a miséria. Chegadas a Dunquerque, não acharão ainda promptos os navios destinados para elles. Os capitães não os aceitarão; dirigirão-se a Delrue e este mandou a bordo  e capitães outra vez a Delrue. Deste modo, mandados para lá e para cá, errarão sem conhecer a língua franceza, com seus diminutos bens pela cidade. Diversas noites precisarão passar fora, ficarão roubados e escarnecidos. Os Consules allemães negarão auxílio dizendo que eles agora erão emigrantes e por isso não erão mais allemães. Emfim forão alojados em adegas, estrebarias e em outros míseros cantos, mas foram obrigados a sustentarem a sua custa, conquanto Delrue recebeu para esse sustento 60 francos.
Si já estavam em grande miséria em Dunquerque, acharam a bordo uma existência verdadeiramente horrível. Enquanto o sustento devia consistir de comidas fortificantes e nutritivas, que no contracto estavam especificados, os miseráveis mantimentos que recebiam apenas os livrara da morte pela fome.
Quando chegou o navio ao Rio de Janeiro estava cheio de provisões e estas então foram vendidas a altos preços.
O navio chamava-se “Maria” e o capitão scelerado – Castell. A esta vida de fome ajuntaram ainda castigos corporaes e a deshonra das pessoas femininas; se os Paes defenderam suas filhas ou os maridos suas mulheres foram por algumas horas amarrados no mastro do navio e queimados ao calor do sol, e também por muitas vezes maltratados.
Quando enfim entraram no porto do Rio de Janeiro, que estava cheio de vida, com suas verdes e florescentes ilhas, suas risonhas chácaras e margens parecentes jardins e viram a cidade que estava situada n’uma ponta quadrada da terra resaltada,o sereno firmamento e os pittorescos montes, cortados por deleitosos vales, cobertos de Mattos de laranja e limões, então fizeram exclamações de júbilo, esqueceram-se de todas as privações, pensando que podiam descançar e restabelecer-se nessas praias que tão risonhas olharam para elles; porém os pobre! Acharam-se ainda mais miserável, ainda mais horrível.
O governo, no entanto, tinha-os abandonado.
Com o projecto de construir estradas e canaes para o interior da província do Rio de Janeiro e estabelecer uma via de communicação com Minas Geraes, não se lembrou mais dos trabalhadores engajados na Europa e por isso não tinha feitos preparativos alguns para alojal-os.
Foram desembarcados na Praia Grande. O ardente calor, o desconhecimento da língua, a falta de mantimentos e de segurança contra os negros inclinados a roubar e a immoralidade canalha dos mulatos, levarão os deploráveis emigrantes a total desesperação.
Nascerão enfermidades em pouco tempo (em todo três semanas) salvou a morte 314 pessoas das suas misérias.
Finalmente, o corpo do commercio allemão “compaixou-se” de seus pobres compatriotas e implorou a compaixão do Imperador para que se empenhasse para esses miseráveis.
D. Pedro, um monarcha benigno e benevolente, estava logo prompto a dar-lhe efficaz soccorro.
Elle comprou em parte, por sua própria custa, um numero considerável das obrigações que lhes erão impostas pelos contractos. Uma parte dos emigrantes mandou levar para outras colônias, outros, mandou transportar para sua propriedade do Córrego Secco, para fundar ali uma residência de verão e uma colônia, ainda que duas tentativas de colonização alli já se tinhão malogradas. Petrópolis, como se chama o lugar, está situada a 25 léguas do Rio; a terra é muito montanhosa, cortada por profundos valles e travessado por innumeros riachos.
A temperatura é 10 gráos differente da do Rio de Janeiro, desagradável, sempre nebulosa, turva; os chuveiros são horríveis, o chão é frio, humido de modo que muito não prospera.
Para aqui forão, pois transportados esses pobres emigrantes allemães. A cada um foi dado algum trato de terra para os primeiros dez annos livres de impostos e depois tem de pagar um pequeno imposto annual.
Na chegada dos colonos, Petrópolis era uma pobre aldeia, cercada de mattos virgens.
Se os colonos já tinhão soffrido de máo e de duro na sua estada em Dunquerque, na viagem do mar e em Praia Grande, tudo isto desappareceu diante de uma vida infernal em Petrópolis; não havia de comer, nem moradia, nem caminhos, nada senão o matto virgem, neblinas, chuveiros e uma luta amargosa contras reptis venenosos. Uma epidemia dizimou-os; a desesperação na providencia divina abalou as suas consciências religiosas. A bebedeira e a immoralidade de toda espécie augmentou ainda a desgraça delles.
A isto tudo se juntou o mau estado em que se achavão as autoridades e caracter totalemente corrupto do primeiro director, official no serviço brasileiro, Julio Koeler que reuniu em si na mais bella floresncia a fraude, a traição e a immoralidade.
O governo concedeu para a construcção de ruas e caminhos mensalmente a somma de 45.000 francos. Havia pois serviços e bons ganhos; os colonos trabalharão bem e constantemente, mas não receberão pagamentos e sim tudo por conta. Koeler tinha o privilegiode estabelecer vendas. Os colonos receberão mantimentos; Koeler fez os preços. Por certos motivos Koeler abandonou este privilegio e consentiu o commercio livre, mas como os colonos nunca receberão dinheiro, nunca puderão pagar, os negociantes e estes negarão dar-lhe mantimentos e preferirão fechar suas casas. Então appareceu a fome.
Koeler forçou os colonos de entregar a elle as cartas destinadas para a antiga pátria com o pretexto que elle as sabia expedir seguramente. Uma carta que dizia a verdade foi destruída mas quem achava tudo bello e magnífico foi gratificado.
Koeler foi, além disto, um homem horrivelmente voluptuoso. Quem tinha uma mulher bonita ou uma filha moça, recebia uma colônia bem situada ou serviço lucrativo ou um emprego como inspector.
Não satisfeito de seduzir elle mesmo, chamou os brasileiros mais distinctos da Côrte para lhe ajudar. A elles foi obrigado a entregar a mulher, se não queria ver o pae ou marido na cadeia e seus parentes na miséria. Muitos deixarão então a colônia e ainda hoje o nome da senhora Wether está altamente honrado, que com um bofetão colossal deitou ao chão o director Koeler.
Os sucessores de Koeler forão seus semelhantes. Assim rodeados de necessidades, de miséria e de calamidades sem Pastor que podia distribuir a consolação da religião aqui tão necessária, cahirão os colonos também no mais profundo abandono mora. O marido não estava seguro de sua mulher nem o pae de sua filha. Moças e mulheres forão formalmente roubadas, meninas de 9 e 11 annos forão atiradas á rua e deshonradas. E ele o homem allemão prestou-se como atormentador e algoz de pobres colonos.”
Pastor Stroele, 1865.

Major Júlio Frederico Koeler


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

SILVEIRA, J. D. “A correspondência do pastor Stroele com a Sociedade de Missões da Basiléa”. In Tribuna de Petrópolis, 19 e 20 de Março de 1942.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O SOFRIMENTOS DOS COLONOS DURANTE A VIAGEM PARA O BRASIL A BORDO DO NAVIO “MARIE” EM 1845

Segue abaixo a carta enviada pelos colonos ao imperador d. Pedro II, quando aportaram no Brasil os colonos do navio “Marie” em agosto de 1845. Suplicando ajuda de Sua Majestade, devido aos transtornos sofridos ao longo de 74 dias de viagem da Europa ao Brasil.

“Ao louvadíssimo Governo Imperial da Provincia do Rio de Janeiro:
 Os obdedientíssimos, abaixo assinados, pobres imigrantes alemães, que arriscaram e deram o grave passo de deixar sua pátria, para estabelecer no Brasil e entregar-se à proteção do poderossíssimo Imperador dom Pedro II e respectivamente do seu fiel e louvabilíssimo Governo Provincial, permitem-se humildemente, aconselhados pelo Capitão de seu navio, o sr. Chastell, apresentar respeitosamente a seguinte queixa:
 Como é sabido, o Governo Imperial desta Província contratou com a casa Charles Delrue & Companhia, de Dunquerque, pagar-lhe, por cada pessoa de 15 a 40 anos 245 francos; de 5 a 15 anos 122 e meio francos,e nada para as crianças menores de 5 anos; além dessas quantias, a casa Delrue nada mais receberia; e nós deveremos reembolsar estas importâncias ao Governo Provincial, com o suor do nosso rosto.
 Delrue, porém, não satisfeito ainda com este arranjo, e pondo nenhum limite-se à sua cobiça conseguir, também conosco uma quantia, por cada pessoa de 15 a 40 anos 80 francos; de 5 a 15 anos 40 francos; e pelas crianças menores de 5 anos 10 francos. E isso de maneira tão escandalosa, que não podemos abster-nos de relatar essas extorsões, ao Governo Imperial.
 Em Colônia, onde os sequazes de Delrue estavam agindo, extorquiram de nós as mencionadas quantias, a título de cauções, mediantes recibos, com a promessa de que as mesmas importâncias nos seriam restituídas pelo Governo Imperial, ou pelo menos haveríamos de ser indenizados, por outra maneira.
 Tal pagamento, apesar da resistência da maioria dos imigrantes, de fato, teve que ser efetuado. Em Dunquerque, na casa Delrue, de alguns que se encontravam inteiramente sem meios, com ameaças, extorquiram documentos de confissões de dívidas, e a outros arrancaram os recibos passados, a pretexto de anexá-los aos outros documentos, e assim apresentá-los ao Governo Imperial Brasileiro. Todos nós duvidamos que isso aconteça,e estamos firmemente persuadidos que a casa Delrue cometeu conosco uma grande fraude.
 E, ainda não contente com estas extorsões, contratou a referida casa conosco, acerca das provisões que deveriam ser fornecidas para a nossa viagem de Dunquerque ao Rio de Janeiro, obrigando-se a prover e fazer entregar-nos a bordo, os seguintes mantimentos: boa carne de vaca e de porco, boa bolacha, legumes secos, diariamente um quarto de medida de cerveja, duas vezes por semana bebidas espirituosas,e nos domingos um quarto da medida de vinho por pessoa; e para cada cama um bom colchão de palha e travesseiro.
 Mas, de tudo isso, nada foi fornecido na forma estipulada. A casa Delrue, após obter astuciosamente os citados recibos, mandou-nos levar para bordo e partir no navio “Marie”.
 É compreensível que, no primeiro tempo, em que reinava entre os imigrantes enjôo de mar, os comestíveis fossem distribuídos com alguma escassez; esperávamos, porém, que no futuro nosso tratamento haveria de melhorar, no que fomos cruelmente enganados.
 Passada a doença estando com fome todos os imigrantes não apareceram os mantimentos estipulados; em vez disso deu-se a cada um apenas uma bolacha, diariamente, e até esta em putrefação e cheia de vermes, o que faria adoecer os mais robusto.
 De manhã, pelas 11 horas, distribui-se a cada um, uma concha de sopa com caldo ralo por assim dizer que água pura, e da mesma maneira à tarde, pelas 5 horas, uma dita concha com sopa de ervilhas ou feijão, preparada de tal maneira, que para 7 ou 8 barris de água podre, calculou-se três quartos a balde de feijão e ervilhas misturadas. De batatas, recebemos ao todo 4 ou 5 cestos, e entre elas estavam ao menos um terço em putrefação.
 Em lugar de recebemos, diariamente, uma regular porção de boa carne, forneceu-se por cabeça, num dia, um garfo de cozinha com peixe podre e fétido, e no outro dia 60 ou 70 gramas de carne, por pessoa.
 Em vez de fornece-nos, diariamente um quarto da medida de cerveja, deram-nos apenas duas vezes por semana, um quarto de litro; e bebidos espirituosas não recebemos se não, nos 3 ou 4 últimos dias, antes da chagada,a razão de um oitavo de litro.
 O vinho prometido não chegamos a provar. Nem todas as camas foram providas de travesseiros.
 Dessa maneira, cerecemos quase de tudo, e passamos amarga forme e sede, com que aflitos à noite nos deitávamos,e de manhã nos levantávamos.
 Nosso Capitão, várias vezes, interrogado a respeito, assegurou-se não haver recebido mais mantimentos de Delrue, e que tínhamos sido enganados por ele e seus sequazes, na maneira mais escandalosa.
 Mais tarde, porém, houve um pequeno aumento de bolacha de forma que se deu uma meia por cabeça, e nos últimos 6 dias duas, por pessoa.
 A maior parte dos imigrantes, que havia trazido de casa pequena provisão de mantimentos, viu-se obrigada a consumi-la ou partilhá-la com seus companheiros famintos, a fim de matar a roedora fome.
 Chegados, finalmente, às praias do Brasil, sem mantimentos e dinheiro, até destituídos de tudo, nós pobres imigrantes vemo-nos obrigados a reconhecer, como é evidente, que fomos escandalosamente enganados por Delrue.
 Por isso, de joelhos, suplicamos, como súditos fiéis, e obedientes, de agora em diante do nosso benigníssimo monarca e soberano, respectivamente do seu fiel Governo Imperial da Província, que de forma alguma reconhecerá e aprovará tal tratamento como justo e razoável em seres humanos, que se digne conceder-nos a augusta graça e proteção, na defesa dos nossos direitos, tomando benignamente as medidas convenientes, em vista das violências e extorsões praticadas em nossas pessoas pelo referido Delrue, a fim de que nos sejam restituídas as quantias, injustamente extorquidas, e sejamos indenizados, a custas do mesmo Delrue, pelos sofrimentos que durante 73 dias padecemos, nas ondas do mar.
 Na almejada esperança que nossa humilde súplica receba o beneplácito do nosso fiel Governo Imperial da Província, permanecemos no mais profundo respeito e humildade, como muito submissos e fiéis súbditos, servos do Governo Imperial da Província.

Redigido, no porto do Rio de Janeiro, em 22 de Julho de 1845
Assinado por:
Augusto Moebus
Jacoby
Lanius
Bauer
H. Auler.
Link
Bender
Jose Hehn
Paulo Hehn
G. Schaeffer
João Pedro Carl
F. G. Schaefer
Eduardo Moebus
Francisco José Sieben
A. Kremer
N. Flescher
Auler
J. Kremer
Carlos Dorr
Kremer
Thomas
Wagner
P. Hoffmann
Retz
Teodoro Eppinghaus
Vogt
Reitz
Neumann
Luebe
Hoffmann
Karl
Moebus
Wierchers
Becker
Hoelz
Schauss
Nienhauss
Nicodemus
Henrique
Plenz
Jorge Pal
Jacó Kaspar
Harrmann Schamenk
M. Dupont."

Referência bibliográfica:
CASADEI, Thalita de Oliveira. Petrópolis – Relatos Históricos. Ed. Grafica Jornal da Cidade,  1991


terça-feira, 28 de junho de 2016

DEPOIMENTOS SOBRE O DIA 29 DE JUNHO DE 1845

Paulo Barbosa da Silva – Mordomo da Casa Imperial

“O que era há quatro meses matas virgens, é hoje uma povoação, branca, industriosa, alegre e bendizente a Vossa Majestade Imperial.”
(Carta a dom Pedro II, em 5 de Setembro de 1845)

“Estou comendo hortaliças já por eles [os Colonos] cultivadas, em lugares até o presente desconhecidos; digo até o dia de São Pedro, em que por um acaso, que não pode deixar de ser determinação celeste, começou a Colônia de Petrópolis, 29 de Junho.”
(Carta a dom Pedro II, em 24 de outubro de 1845).

Alexandre Manuel Albino de Carvalho – Diretor da Imperial Colônia de Petrópolis

“Remontando á sua origem observa-se que Petrópolis não existia há 10 anos, e que em seu lugar tão somente, havia uma Fazenda denominada Corrego Seco, quasi toda coberta de mato, contendo uma casa de vivenda e dois ou tres ranchos de tropeiros; ao passo que hoje, isto é, no dia 1° de Janeiro de 1855, Petrópolis tem para mais de 5.527 habitantes.”
(Relatório apresentado ao Presidente da Província, em 28 de março de 1855)

Dom Pedro II

“Rua Dona Francisca [hoje rua Marechal Deodoro] – a casa-grande pertenceu ao finado Major Koeler e agora é de D. Alda, sogra de Antonio Barbosa, irmão de Paulo Barbosa; neste casa moramos nós, em fim de 47 e principio de 48, a primeira vez que fomos a Petrópolis, depois de estabelecia a povoação.”

Júlio Frederico Koeler – Primeiro Diretor da Imperial Colônia de Petrópolis.

‘Os Colonos vieram como V. Excia. Sabe, repentinamente; em Petrópolis, ainda um mês depois de sua chegada no Brasil, não existia outro edifício senão o de minha residência. Construíram-se depósitos a toda pressa para os receber”

“O tumulto que forçosamente acompanha fundação de uma Colônia nova, e que em grau maior reinou na de Petrópolis , porque ali só havia terra, água e mato, ocasionou as irregularidades que alguém pode ter notado, mas que todo homem consciencioso e de boa fé, terá de certo desculpado.”
(Ofício ao Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro, em 23 de Agosto de 1846).

Galdino Justiniano da Silva Pimentel – Diretor da Imperial Colonia de Petrópolis.

“É fora de toda duvida que este povoado [Petrópolis], que apenas conta quatro anos de existência, já excede em grandeza e comodidade a maior e mais adiantada vila da Província.”
(Relatório apresentado ao Presidente da Província do Rio de Janeiro, em 24 de Janeiro de 1850).

Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho – Presidente da Província do Rio de janeiro.

“Sua Majestade o Imperador, sempre solicito pela prosperidades e engrandecimento do seu Império logo que chegou de Dunquerque o primeiro navio Virginie, trazendo a seu bordo 160 desses Colonos, não só autorizou o seu Mordomo à oferecer ao Governo da Província as suas terras de Petrópolis, para nelas se estabelecerem logo os mesmos. Colonos, visto que eram destinados aos trabalhos da Serra da Estrela, como mesmo se dignou ir vê-los no Arsenal de Marinha, quando indo de Niterói partiram para Petrópolis, e lhes assegurou a sua proteção por meio de alocução, que lhes mandou fazer, e de donativos pecuniários.”

“Foi em 29 de Junho do ano passado, dia de São Pedro [...], que ali chegaram os primeiros Colonos [...]. então, exceto os terrenos colaterais á Estrada, e esses mesmos somente em parte, descortinados, era Petrópolis uma mata virgem; hoje que mudança extraordinária! Ruas e Praças traçadas no seu centro, e já em parte edificadas pelo meio das três Ruas principais; descobriram-se 24 rios maiores e menores no interior, todos afluentes do Piabanha; ás margens deles, de um e de outro lado, abriram-se ruas próprias a transitar seges logo que estejam aperfeiçoadas, deixando-se todo o arvoredo natural que borda esses rios, o que torna extensa alameda tortuosa muito pitoresca além de útil.”

(Relatório apresentado à Assembleia Provincial, em 1° de Março de 1846.)

sábado, 18 de junho de 2016

BANDA DOS GUSTAVOS OU DOS ECKHARDT

 A Banda Gustavos, composta pelos irmãos Eckhardt, foi por muito anos a filarmônica mais conhecida da cidade de Petrópolis.
 No final de 1845, o Conselheiro Aureliano Coutinho, recebeu 3 pedidos dos colonos germânicos de Petrópolis: serem considerados brasileiros, a criação de escolas para seus filhos, e a vinda de sacerdotes de suas respectivas religiões, o que foi atendido prontamente pelo Governo Imperial.
 Os colonos eram um povo alegre e festeiro e trouxeram para Petrópolis suas tradições e costumes.
 Uma de suas características eram o espírito animado e associativo, porém no inicio os encontros e festas se limitavam aos domingos no Passeio Público, atual Palácio de Cristal (daí a Bauernfest ser realizada nessa localidade), a roda de “Biertich”.
 No inicio da colonização não faltaram cervejarias com salões que aos domingos, as famílias dos colonos se encontravam para dançar e os mais velhos saborearem um “schoppen” e jogavam carteado, o 66.
 Para dançar era preciso musica e não era tão fácil arrumar uma banda musical naquela época.
 Enquanto não haviam filarmônicas eram tocados “realejos” nos salões, mas 1847 por meio da uma lei firmada pelo Dr. José Maria da Silva Paranhos, mais tarde Visconde do Rio Branco, na Colônia de Petrópolis deveria haver uma escola de música a fim de ensinar os meninas colonos e brasileiros a prática de instrumentos musicais e canto.
 Esses realejos tocavam nos salões do Rabelais, na rua dos Protestantes, atual rua 13 de Maio; na cervejaria Kremer, atual Bohemia. Substituindo os realejos, surgiu o trio formado por Felipe Molter, no violino, Augusto Herzog, no pistão e mais um que tocava contrabaixo.
 Em 1853, vindo do Grão Ducado de Hessen, aportou no Rio de Janeiro, Gustav Eckhardt, assim que chegou a Petrópolis no mesmo ano resolver fundar um grupo musical com seus conterrâneos: Henrique Pedro e Frederico Esch, Henrique Faulhaber, Francisco Vogel, Pedro Jacob e outros constituindo assim uma banda musical, da qual Gustav era o regente.
 Começaram suas apresentações na casa de Joaquim Martins Correia que possuía uma fábrica de sabão e serraria, na rua Rhenania, atual Washington Luiz, nº6, no local que mais daria lugar a Companhia São Pedro de Alcântara.
 Mais tarde com a saída dos “Esch’s” o velho Gustav Eckhardt manteve sua filarmônica, com seus filhos e continuou tocando nos bailes na casa dos Correias.
 A família Eckhadt residia na rua Westphália, n°1, atual rua Barão do Rio Barão, aonde também realizava os seus ensaios.
 Os oito irmãos integrantes da banda eram: Gustavo, Eduardo, Henrique, Teodoro, Alberto, Arthur, Carlos Eckhardt, que tocavam os seguintes instrumentos: flautim, saxes, corneta, de pistãos, requinta, oficlides e bombardino. Todos também eram carpinteiros, coisa comum entre os colonos, que seguiam a profissão paterna. A regência continuou a cargo do velho Gustav.
 Por serem todos os integrantes filhos de Gustav, o povo passou a denominar a filarmônica de “Banda dos Gustavos”, da banda também faziam parte o bombeiro Francisco Geoffroy ligado aos Eckhardt por meio do casamento com uma das filhas de Gustavo. Francisco era conhecido pelo nome alemão “Geoffroy’s Francshen”.
 Após a morte do fundador da banda, a regência da mesma ficou a cargo de seu filho Henrique e por falecimento deste a batuta passou para o irmão Teodoro Eckhardt, até o fim da filarmônica em 1896, no período republicano.
 Não é possível relatar brevemente as atividades da “Banda” que iam desde a saudação do imperador d. Pedro II, no dia de Ano Bom, 1º de Janeiro, como também as apresentações bo coreto da Bacia, hoje Praça dom Pedro, durante o verão, como faziam outras bandas, as quartas feiras e aos domingos. Todas as festividades locais contavam com a presença e música da Banda dos Gustavos, que se apresentavam muitas vezes nos salões das antigas cervejarias, no Salão Floresta, no morro do Cruzeiro, nos piqueniques, no Cassino Dona Isabel, locais onde os petropolitanos iam para se divertir.
Os Eckhardt’s fizeram se ouvir nas principais festividades da vida local, também conhecidos como “Banda dos Alemães”, executava um programa seleto de polkas, valsas, mazurcas e quadrilhas.
 Encerrou esse artigo com as palavras do historiador Walter Bretz:
 “Ouviu-a Petrópolis de antanho, apreciou-a ex-família imperial e tocou em festas republicanas, até que obedecendo a lei insofismável de todas as coisas humanas, encostou os metais sonoros para sempre...”

  Banda dos Gustavos, nos jardins do Palácio Imperial. Ao centro Teodoro Eckhardt. Acervo Museu Imperial

BIBLIOGRAFIA:

BRETZ, Walter. A Banda de Musica dos “Gustavos”. In Tribuna de Petrópolis, 14 de outubro de 1931
BECHTLUFF, Walter. “Familias Petropolitanas”. In Tribuna de Petrópolis 1º de Julho de 1956
Arquivo Histórico da Biblioteca Municipal de Petrópolis – Certidões de Óbitos.

Depoimentos de membros da família Eckhardt.