O artigo abaixo é de autoria do historiador e primeiro diretor do Museu Imperial de Petrópolis, Alcindo Sodré, publicado no Jornal de Petrópolis em 21 de junho de 1959. No texto Sodré, nos conta a história da Câmara MunIcipal, desde o primeiro prédio na Rua Paulo Barbosa, aonde hoje está erguido o edificio Rocha até a compra do atual prédio, o Palácio Amarelo e nos conta fatos interessantes como a festa em comemoração a lei da Abolição com a presença da Princesa Isabel, no antigo prédio em frente aonde hoje se localiza o Obeslico.
PAÇO
MUNICIPAL
Alcindo Sodré
O Paço Municipal de Petrópolis teve
duas sedes alugadas antes da atual e própria.a primeira foi à rua do Mordomo nº
12, hoje Rua Paulo Barbosa. Ali se instalou o Legislativo local como expressão
da autonomia de Petrópolis no gozo da cidade, a 17 de junho de 1859. Seu presidente,
Albino José de Siqueira , sentou-se na cadeira principal, que era encimada pelo
quadro a óleo do pintor Joaquim da Rocha Fragoso, representando dom Pedro II.
A segunda sede do Paço Municipal foi à
rua do Imperador, trecho da Bacia, local fronteiro ao eixo da rua da
Imperatriz, de propriedade de Rocha Miranda.
Nesse prédio, a 23 de maio de 1886 deu
a Municipalidade um grande baile, promovido por Henrique Kopke para obter meios
com que fossem satisfeitas às despesas da Primeira Exposição Industrial e Artística
de Petrópolis, realizada no Palácio de Cristal, de 9 a 16 mesmo mês. A festa
teve a presença da família Imperial e escolhida sociedade, prolongando-se até
hora adiantada.
Não fora essa a única vez que sua
Majestade, o Imperador honrou com sua presença o Paço Municipal, prestigiando
uma iniciativa de que ele participara monetariamente e da qual dissera o
Mercantil: “Petrópolis acaba de dar uma prova plena de que – como já o temos
dito – não é simplesmente uma cidade de recreio é também um núcleo de
trabalhadores”. A 25 de fevereiro de 1881, o Imperador acompanhado de seu
camarista conselheiro Miranda Rego, visitou às 11 horas o Paço Municipal onde
demorou-se cerca de uma hora percorrendo o edifício examinando a Biblioteca, a
oficina de aferição e lembrou a adoção de medidas de melhoramento locais com
especialidade as tendentes à salubridade pública.
O Paço Municipal recebeu também a
visita da Princesa Isabel. Foi a 21 de maio de 188, por ocasião da grande festa
promovida pela Câmara em regozijo ante a lei da Abolição. O comércio fechou. A rua
do Imperador estava decorada com arcos, folhagens e bandeiras. Em frente ao
Paço da cidade a banda da Casa Imperial tocava em coreto armado. A Câmara
incorporada chefiando imponente séquito de que participavam setecentos
colegiais, com bandas de música dirige-se para o Palácio onde o presidente
pronunciou vibrante discurso. Houve depois te Deum, achando-se no templo o
corpo diplomático. Terminada a cerimônia dirigiu-se o cortejo, na companhia de
Sua Alteza para o Paço Municipal, onde a Princesa chegou a janela para receber
a saudação popular.
Levados os Príncipes ao Palácio, a multidão
freqüentou os bailes que se realizaram na sala da Câmara Municipal e nos salões
do Bragança e do Floresta.
A 6 de fevereiro de 1876 discutiu-se
na Assembléia Provincial o projeto de lei para construção de um prédio
para a Câmara Municipal de Petrópolis, idéia
provocada por Paulino Afonso.
Entretanto, o Paço Municipal
permaneceria na sede alugada da Bacia até 1894, quando sendo presidente da
Câmara, o dr. Hermogênio Pereira da Silva, foi adquirido a 9 de julho pela
quantia de 60:000$000, o prédio da atual Praça Visconde de Mauá.
O terreno do hoje vulgarmente
conhecido Palácio Amarelo teve como primeiro proprietário o superintendente da
Imperial Fazenda, José Alexandro Alves Pereira Ribeiro Cerne, constituído como
foro aos 11 de julho de 1850, pelos prazos, 127, 128, 129 registro 557-A. Formavam
esses prazos uma superfície de mil e duzentas e setenta braças, e o foro anual
era de 25$500. Menos de dois meses após, com autorização do Mordomo, foram eles
transferidos em 31 de agosto ao vereador de Sua Majestade o Imperador, José
Carlos Mayrink da Silva Ferrão, que construiu a bela residência hoje
transformada em Prefeitura de Petrópolis. A 14 de fevereiro de 1891, adquiriu-a
do Barão de Guaraciaba, seu último proprietário residente.
Comprado o palacete para sede da
Municipalidade, foi retirado o gradil que chegava ao alinhamento da Avenida Sete
de Setembro, e feita a Praça existente. Das obras de adaptação introduzidas no edifício
destacam-se, o salão destinado a sessões da Câmara Municipal e a escadaria principal e vestíbulo
superior. Todo lindo trabalho de decoração
que fez da sala nobre uma das mais belas jóias nacionais do gênero, é de
autoria de José Huss. Este apreciável artista, nasceu na Alsácia a 7 de janeiro
de 1852, e com a guerra franco-prussiana de 1870 não pode suportar o domínio alemão
em sua terra natal e veio para o Brasil, fixando pouco depois residência em
Petrópolis onde desposaria a 30 de julho de 1881, D. Maria Catharina de
Schepper, cujo casal houve 7 casal e sua
prole petropolitana prolonga-se nos dias
correntes. A 24 de setembro de 1905, morria nesta cidade esse excelente artista
que em sua segunda pátria realizou admirável obra na decoração da
Municipalidade, obra que parece haver transfigurado em força de beleza e doçura
todo o amargor e desencanto dos sentimentos que o fizeram abandonar a aldeia
querida onde recebera a luz da existência.
Fonte:
Jornal
de Petrópolis, 21 de Junho de 1959
Palácio Amarelo
Muito obrigado por esta página, com informação tão preciosa e detalhada, de uma história que eu completamente ignorava. E isso embora eu tenha morado por muitos anos em Petrópolis, onde este palácio, mas não infelizmente sua história, é conhecido por todos.
ResponderExcluir