O problema de enchentes e
desabamentos são bem antigos em Petrópolis. Em 1895, tivemos uma grande
inundação na cidade que nos trouxe diversos prejuízos, que foi muito bem
documentada pelo jornal da época “Gazeta de Petrópolis”, que encontramos hoje
microfilmado no site da Biblioteca Nacional, na parte da hemeroteca.
Abaixo coloquei na integra e
na linguagem da época todas as reportagens que saíram no jornal Gazeta de
Petrópolis.
“A
INUNDAÇÃO – Gazeta de Petrópolis, 5 de Janeiro de 1895, Sabbado
Extraordinario temporal desabou no dia 1° do
corrente sobre esta cidade e seus arredores, produzindo a maior inundação
conhecida pelos mais velhos habitantes desta localidade.
Um chuva pesada começou a cahir às 2 horas da
tarde, prologando-se sem cessar até as 5 horas, quando medonha tromba d’água
cahindo sobre as montanhas do Morin, e trazendo diante de si árvores colossaes
e enorme massa de terra, inundou repentinamente a cidade inteira, elevando-se o
nível das águas nas nossas largas avenidas a muitos metros de altura.
As águas sahindo do leito do rio invadiram as
avenidas lateraes, os jardins e as casa, e na sua fúria desordenada foram
destruindo pontes, calçadas, árvores e tudo o mais que em seu caminho
encontravam.
Enormes foram os prejuízos materiaes
occasionados não só a particulares como à Municipalidade. Pessoa competente
informa-nos que calcula-se em mais de quinhentos contos o prejuízo nas obras
municipaes. De particulares sabemos que foram muito prejudicados os
estabelecimentos commerciais de Mme. Dreyfus, viúva Kallenback, Luiz Gonçalves,
Domicio de Menezes, além de muitos outros, que são quase todos os negociantes
da Avenida 15 de Novembro, srs A. Siqueira e dr. Rodrigues Peixoto também
soffreram muito.
Foram arrebatadas pelas águas as seguintes
pontes:
Uma em frente a serralheira Faulhaber que foi
um dos estabelecimentos mais prejudicados.
Uma em frente a casa de Mme. Cornelia.
Uma em frente à casa do Barão da Penha.
Uma em frente à chácara do sr. Janacopolis na
rua Souza Franco.
Uma em frente a cocheira nova da Companhia
Tattersal, na avenida 15 de Novembro.
Uma em frente ao hotel Bragança
Uma na Westphália, em frente à casa do sr.
Avelino.
Uma na estrada da saudade.
Uma no Itamaraty em frente ao Quissamã.
Uma na Samambaia
Uma na Itaypava em frente a olaria do sr.
Guilherme Carlos.
Uma na Itaypava em frente aos terrenos do dr.
Barros Franco.
Ficaram
danificadas:
A ponte da Estrada de Ferro no Palatinado,
junto a qual esbarrou uma árvore colossal.
A ponte em frente a Secretaria do Interior, na
Souza Franco.
A ponte pequena em frente ao edifício em que
funciona a Assembléia.
A ponte em frente ao passeio público, na
avenida 15 de Novembro.
A ponte nova sobre o rio Itamaraty, em frente
à Estação (aterros lateraes corridos)
Desmoronaram as muralhas do rio, no Morin, em quase
toda a extensão, no Palatinado em frente à casa do barão da Penha.
Taludes da Avenida Silva Xavier, 7 de Setembro
e as margens do rio da Westphália em toda a sua extensão ficaram consideravelmente
damnificadas.
O calçamento do Morin foi desfeito e
arrebatado pelas águas, ficando abertos enormes buracos e fossos no antigo
leito da estrada. A Estrada União e Indústria soffreu enormes prejuízos,
estando intransitável o trecho entre o açude da fábrica da Cascatinha e a
grande ponte.
A Rua 14 de Julho (atual Washington Luis) foi
muito damnificada pelas águas que transbordaram da repressa na fábrica de S. Pedro
Alcântara.
O calçamento de toda a cidade está descoberto,
e em muitos pontos reduzido as primeiras camadas de pedras grossas, como no
Palatinado.
Desabararam muitas barreiras na avenida
Piabanha, na Rua Costa Gama, na estrada da Presidência, no Bingen, na Rhenânia,
Quarteirão Suisso, em summa, em todas as estradas suburbanas.
O terreno da estação do Alto da Serra ficou
revolvido como se tivesse havido um terremoto.
O encanamento d’água potável foi muito
danificado, os tubos de travessia nos rios foram quasi todos arrebatados pela
correnteza; o encanamento geral que vem do Grotão para o reservatório soffreu
também, tendo sido alguns tubos despedaçados por enormes blocos de pedras, que
desceram das montanhas.
A inundação deixou a cidade coberta de espessa
camada de lama, todos os bueiros entupidos, as pontes, cercas e árvores
engrinaldadas com os cardamonos e árvores que o rio trazia em grande
quantidade, e por fim reconheceu-se que não havia água nas casas.
As autoridades municipaes e a commisão de
engenheiros do Banco Construtor providenciaram, desde as primeiras horas do dia
seguinte ao da inundação, de modo que a reparação dos males causados começou a
ser feita com toda a actividade, desembaraçando as pontes, restabelecendo-se os
encanamentos d’água que faltavam.
A Camara teve de mudar de casa por haverem
desabado várias paredes do prédio que occupava.
O presidente da Camara sr. Hermogêneo, que
como se sabe reside na Cascatinha, não deixou a cidade durante dous dias,
dirigindo pessoalmente o serviço de desobstrução dos rios e das ruas.
O sr. Braga Mello foi incansável nas tarefa de
prover a cidade d-água no dia seguinte ao do cataclysma, o que conseguiu.
Infelizmente esta medonha enchente occasionou uma morte , a de João Souza
Brazil, empregado do sr. Albano Pereira, que desejando apanhar o mastro que
havia cahido ao rio foi carregado pela correnteza.
Até hora em que escrevemos ainda não se sabe
aonde para o cadáver.
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É digno de louvor o procedimento dos srs.
Tibério Augusto Ribeiro, José da Silva Leite e Claudino José Vieira, que com
risco de suas vidas salvaram três crianças quasi vitimas da terrível enchente.
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O sr. José Antonio Martins da Rocha negociante
estabelecido à avenida 7 de Abril muito coadjuvou os salvadores das infelizes
crianças.
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O dr. Chefe de polícia, acompanhado do seu
oficial de gabinete, o dr. Delegado, escrição Santos, tenente Pinheiro e
commisário Arthur Cruz, rondaram durante toda a noite do dia 1º as ruas desta
cidade, impedindo assim que houvessem roubos, desatres, etc.”
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“O
TEMPORAL – Gazeta de Petrópolis, 23 de Janeiro de 1895
O temporal, que começou no dia 1°, por grande
inundação nesta cidade, tem continuado até hoje, sem que se possa predizer
quando terminará.
O céo está quase constantemente carregado de
grossas nuvens e o thermometro mantém-se, de dia e de noit, em 22 e 23 gráos
centigrados.
Novos estragos apparecem diariamente elevando o
cálculo, primitivamente feito das despezas necessárias a sua reparação.
É considerável o número e o volume das
barreiras cahidas em todas as partes do município.
As estradas, à margem de rios, tem sofrido
immensos prejuízos; e em alguns pontos tem havido mesmo completa interrupção do
transito pela desapparecimento do leito, nos Correias, por exemplo.
A estrada de ferro Grão Pará, que pouco
soffreu no dia 1º, tem tido de então por diante grandes estragos em sua linha,
determinados segundo nos dizem, por barreiras cahidas e escorregamentos do
leito.
Está se tornando verdadeira calamidade o
temporal.”
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“TEMPORAL – Gazeta de Petrópolis, 26 de
Janeiro de 1895
Sabemos que o rio da Cidade inundou
completamente o Valle, que o margêa destruindo inteiramente importante
colheitas de batata ingleza, feijão, milho, etc
De
toda a parte nos chegam noticias de estradas intransitáveis por atoleiros,
barreiras, desppareciemnto total ou parcial do leito, quedas de estivas e pontilhões,
etc.
A própria Estrada União e Indústria, está
convertida em grande lamaçal, tão considerável e o número de depressões do
calçamento, cheias de barro, amollecido pela continua chuva.”
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“SUSPENSÃO
DO TREM – Gazeta de Petrópolis – 30 de Janeiro de 1895
A
Estrada de ferro Grão-Pará foi autorisada pelo governo a suspender por 20 dias
o trem M3 e M4 entre S. José e Petrópolis para poder mais facilmente remover as
barreiras cahidas entre as estações de Pedro do Rio.”
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“ESTRAGOS
DA INUNDAÇÃO – Gaxeta de Petrópolis, 19 de Fevereiro de 1895
Os consideráveis estragos occasionados nos três
primeiros districtos deste município pela grande inundação do dia 1º, estragos cuja
reparação não deve importar em quantia inferior a quinhentos contos de reis,
crearam á municipalidade uma situação verdadeiramente critica desfazendo suas
previsões orçamentárias para o corrente exercício.
A despesa orçada para as obraças publicas e
limpeza da cidade é apenas de 157:000$, quantia por si insufficiente para os
gastos ordinários do anno.
Onde haver os recursos indispensáveis aos
trabalhos urgentes, que de toda a parte são reclamados com insistência?
Tal é o problema que tem diante de sai a nova
Camara.
Há quem falle no saldo annunciado do anno de
1895, sem saber naturalmente que essa quantia está sujeita à liquidação do exercício
passado, que só se encerra a 28 de fevereiro deste anno, e que as despezas por
pagar dos mezes de novembro e dezembro absorvem completamente esse saldo,
segundo nos asseverou o presidente da Camara.
As esperanças, que muita gente depositava no
auxilio pecuniário da parte do governo do Estado, para salvar o nosso
munici´pio dessa situação embaraçosa, estão hoje completamente dissipadas. O escrupuloso
sr. dr. Mauricio de Abreu, presidente do Estado, declarou, segundo nos consta,
que por falta de competência e autorisação legal via-se inhibido de
corresponder à essas esperanças não o bastante tratar-se de uma calamidade na
capital do Estado.
Terá portanto a Municipalidade de arcar,
sozinha com o problema temeroso de fazer obras, quase todas de natureza inadiável,
sem os recursos indispensáveis.
A situação é, pois, bastante grave; e o
patriotismo exige que não a aggravemos ainda mais, creando aos cidadãos, que
fizeram o sacrifício de suas commodidades e de seus interesses, para aceitar os
gratuitos cargos de vereadores, novas dificuldades, como se pretende fazer com
o pedido de redução do imposto predial de 10% a 9%.
Tal redução viria desequilibrar o orçamento
ordinário do exercício corrente deixando a Camara desarmado de recursos para
fazer face á despezasvotadas, sendo algumas originárias de contractos solemnes,
com a luz eléctrica, por exemplo e augmentaria os embaraços da situação creada
pela inundação.
Esta nova opinião não agradará muita gente,
bem o sabemos mais, pouco nos importa isso, se ficamos bem com a nossa consciência.
O nosso programma não é desorientar propositalmente a opinião pública para
tirar disso proveitos.
Órgão republicano e amigo da situação, nós
trataremos de orientar convenientemente a opinião pública que se procura
transvial-a.”